MPLA mantém a maioria mas perde Luanda e Cabinda para a UNITA
Numa eleição bipolarizada entre os dois maiores partidos, o MPLA consegue manter a governação com maioria na Assembleia Nacional, mas perde para a oposição, pela primeira vez, as províncias de Luanda, Cabinda e Zaire. A CASA-CE caiu com estrondo e não vai eleger nenhum deputado.
O MPLA teve o seu pior resultado de sempre, apenas 51% dos votos expressos, tendo perdido cerca de um milhão de votos em comparação com as eleições de 2017, passando de 4,11 milhões para apenas 3,16 milhões. Aliás, a erosão do partido da maioria tem sido feito à ordem de 10 % por eleição, 81,76% em 2008, 71% em 2012, 61% em 2017 e agora em 2022, 51%, o que não deixa de ser curioso.
Não deve ser analisado apenas como um pormenor o facto de estas terem sido as eleições com maior taxa de abstenção de sempre, 55%, sendo que votaram menos 700 mil eleitores que em 2017, apesar de a base eleitoral ter crescido 56%. Fica aqui o número - nestas eleições terão votado 6,4 milhões de angolanos, quase igual ao que tinha acontecido há 10 anos, em 2012. Só que nesse ano a nossa população estimada era estimada em 16 milhões, metade do que é hoje, e base eleitoral tinha 9 milhões de inscritos, este ano ultrapassava os 14 milhões.
Embora ainda estejamos a falar de resultados provisórios com 97,03% dos votos apurados, não esquecendo que a oposição tem a possibilidade de recorrer destes valores e alterá-los que lhe for dada razão, destaca-se igualmente a perda de influência do MPLA em Luanda, que passou de 1,028 milhões de votos em 2017 (48,7%) para apenas 650 mil em 2022 (33,31%). O resultado na capital tem que ser olhado com bastante atenção pois é nesta província que se concentram 33% dos eleitores, grande parte da vida económica, social e política.
Na capital a UNITA passou de 757 mil votos em 2017 (35,44%) para mais de 1,23 milhões (62,59%), um movimento que já se previa, mas indiscutivelmente teve uma dimensão maior do que era estimado pelo partido do poder. O MPLA, que tinha ganho em todas as províncias em 2017, perdeu nestas eleições em Cabinda, conseguiu apenas 26,36% dos votos e um deputado, sendo que a UNITA conseguiu quatro mandatos e um percentual de 68,55%, apesar de Adalberto da Costa Júnior mnão ter ido a aesta província durante o período de campanha eleitoral.
O MPLA também perdeu no Zaire, a outra província petrolífera, conseguindo 36,25% dos votos contra 52,1% da UNITA, mas com impacto menor do que aconteceu em Cabinda, uma vez que conseguiu eleger dois deputados. Já agora dizer que apenas no Cunene conseguiu o pleno, 5-0, quando em 2017 tinha conseguido este score também no Cuanza Norte, Cuanza Sul, Huíla e Malange. Isto mostra que a erosão do partido da maioria não é apenas na capital, mas está a perder influência naquelas provinciais que sempre foram bastiões do partido.
Uma outra lição deve ser tirada desta eleição, uma vez que em período de campanha eleitoral viu baixar as suas intenções de voto. A forma como geriu a comunicação para os indecisos foi desastrosa, lembrar que a estratégia da comunicação social pública ultrapassou todos os limites do bom senso, provocando em muitos dos cidadãos um voto de protesto, que veio a reflectir-se nos resultados finais.
Resultados menos maus para o partido do poder em Benguela, onde conseguiu manter a maioria 54,41% contra 42,8% da UNITA, na Huíla onde só perdeu um mandato para a oposição depois do pleno de 2017, na Lunda Norte onde teve enormes problemas durante os últimos anos mas garantiu 3 deputados e 56,31% dos votos, e no Cuando Cubango em que manteve quatro mandatos apesar dos enormes problemas em que vive a população daquela região.
UNITA lidera em Luanda
Ganhar na província capital com uma diferença de dois para um é na verdade um resultado que não resume apenas aos números. Deixa já prever que se as autarquias vierem mesmo a ser implantadas no próximo ano como prometeu o presidente João Lourenço, a oposição pode lidera os municípios na capital, com a importância política que isso significa.
Destaque também para as vitórias no Zaire e em Cabinda, onde está a indústria petrolífera, o coração da economia angolana, mostrando claramente que as populações daquelas regiões não estão satisfeitas com a forma como têm sido tratadas pelo Governo. Uma palavra especial para os deputados que elegeu em Malange, que muitos diziam ser um bastião do MPLA, para a eleição pela primeira vez de um deputado na Huíla e no Cuanza Norte, para os dois deputados que conseguiu na Lunda Norte e Lunda Sul.
Aliás deve olhar-se com bastante atenção ao crescimento da UNITA no norte do território, onde para os casos já falados, se junta o Uíge e Bengo, onde conseguiram dois deputados em cada uma das províncias. Ainda não existem resultados da diáspora, que na verdade terão muito pouca influência na eleição de mandatos uma vez que os votos serão incorporados no círculo nacional, mas as primeiras informações que chegam desses países, dão também vantagem ao partido de Adalberto da Costa Júnior.
(Leia o artigo integral na edição 683 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Agosto de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)