Quatro grupos económicos dominam escolhas nos contratos por ajuste directo
No resumo do ano, mês a mês, destacámos em Janeiro deste ano as novas estrelas da governação de JLO, Gemcorp, a Carrinho, a Mitrelli e a Omatapalo, quatro grupos económicos que ganharam muitos contratos por ajuste directo, com pouca informação pública dos mesmos e das organizações, e que se assumiram como os parceiros mais importantes do governo.
"O Grupo Carrinho, a Gemcorp, o Grupo Mitrelli e a Omatapalo são as quatro estrelas no firmamento da contratação pública na era João Lourenço. Os negócios são tantos e para tantas finalidades e sectores económicos que se torna quase impossível juntar toda a informação. No entanto, é seguro que esta relação tem rendido chorudos contratos às referidas empresas."
Assim começava um texto publicado na primeira edição de 2021 do Expansão, e que desfiava algumas das obras entregues às "novas estrelas da governação", um somatório de "negócios de milhões USD sem concurso e por ajuste directo " como titulava a notícia. No total, cerca de 80 ajustes directos foram assinados por João Lourenço, só em 2021, realidade que incomoda os agentes económicos e faz estremecer as bandeiras da luta contra a corrupção hasteadas no início do mandato.
"Só a Omatapalo, uma empresa angolana que actua no sector da construção civil, com sede no Lubango e representações em Portugal e Moçambique, garantiu empreitadas superiores a 800 milhões USD entre 2018 e 2019", metade das quais adjudicada sem concursos públicos. Neste quarteto destacaram-se ao longo do ano a Gemcorp e a Carrinho, dois nomes que voltaram a ser ouvidos quando a Reserva Estratégica Alimentar (REA), antigo projecto do Ministério do Comércio para estabilizar o fornecimento e os preços dos produtos da cesta básica, começou a tomar forma, com a chegada das primeiras importações ao país em Dezembro de 2021: 10.000 toneladas de açúcar e 7.000 toneladas de arroz.
O concurso público para a gestão da REA, que contou com a participação de 4 empresas, foi ganho pela Gescesta, empresa constituída pela Gemcorp, entidade financeira que funciona como fundo de investimento, e a Carrinho, que tem interesses directos no mercado alimentar, ligações que fizeram soar os alarmes de uma série de analistas. A Gemcorp, que deu robustez financeira ao consórcio formado para concorrer à gestão da REA anunciou a sua saída da Gescesta, deixando a reserva entregue à Carrinho, o que levanta dúvidas sobre conflito de interesses, já que a REA vai vender a toda a cadeia comercial, grossistas e retalhistas, de acordo com preços previamente definidos.
O surgimento do Grupo Carrinho recua a 2010, quando Nelson e Rui Carrinho constituem a empresa Leonor Carrinho Logística, com um capital social de 200 mil Kz e sede no Lobito, província de Benguela. Nove anos depois, a empresa inaugura um complexo industrial de 17 fábricas de produtos alimentares, em Benguela, avaliado em 600 milhões USD. Desde aí foi sempre a subir, com o portfolio do grupo a alargar para a banca, ao adquirir em 2021 o Banco Comércio e Indústria (BCI), por 29 milhões USD, no primeiro leilão em bolsa realizado no país.
Já a Gemcorp, uma espécie de intermediário entre linhas de financiamento internacionais e o investimento público em Angola, começa a ganhar espaço na construção e na exploração mineira. O grupo, com ligações à Rússia e que é o maior credor e gestor externo dos activos do BNA, ficou com uma mina de diamantes e a construção da refinaria de Cabinda. Mas ainda não avançou com os pagamentos programados para a construção da refinaria de Cabinda.
O grupo Mitrelli, que completa o quarteto das estrelas da actual governação, é considerado o parceiro social de vários governos. Está na construcção civil, imobiliário, saúde, tecnologia, impor-export, etc.
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