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Opinião

Um Plano Marshall para África?

Milagre ou miragem?

Realizou-se nos dias 4 e 5 de Setembro a 3ª Cimeira Global de Manufacturação e Industrialização, sob a égide da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, e devido à pandemia da Covid-19 adoptou-se o formato virtual. O evento teve como objectivo "moldar o futuro da indústria transformadora", o que para África, e muito particularmente Angola, é estranho. Afinal, de 2002 a 2018, este sector contribuiu, em média, segundo dados do INE, apenas 5,5% para a estrutura do PIB em Angola, sendo o valor máximo 6,8% em 2016.

Isto significa que mais do que "moldar o futuro", Angola precisa dar início ao seu processo de industrialização.

Uma das vantagens do formato virtual é que, este ano, foi possível ter um maior número de participantes. Dentre os oradores de destaque, tivemos o Presidente João Lourenço, que discursou no primeiro dia da cimeira, onde o tema principal foi a iniciativa alemã de um Plano Marshall para África. No seu discurso, João Lourenço enfatizou a necessidade de se apostar na formação da juventude africana, bem como recordou o legado negativo do colonialismo. O Presidente também defendeu a necessidade de se investir em infraestruturas no continente.

Historicamente, o "Plano Marshall" original foi uma iniciativa do então secretário de Estado norte-americano George C. Marshall para ajudar a recuperação socioeconómica da Europa no final da II guerra mundial. Os EUA gastaram mais de 15 mil milhões de USD em quatro anos (de 1948 - 1952) para a recuperação de infraestruturas, como estradas, caminhos-de-ferro, pontes, portos e até cidades. Os maiores beneficiários desta ajuda foram o Reino Unido, a Alemanha Ocidental e a França. É importante assinalar que estes países não tiveram de reembolsar grande parte desta ajuda. Este foi o aspecto principal deste plano.

Ora bem, da leitura feita ao "Plano Marshall para África", elaborado pelo Governo alemão, destacamos dois aspectos. O primeiro é que a frase indústria transformadora (manufacturing em inglês) apenas aparece no documento em referência a um relatório da McKinsey Global Institute, o que é negativo. A evidência empírica mostra que um aumento da produtividade no sector industrial faz crescer a produtividade nos demais sectores (agricultura, comércio, serviços, transportes). O segundo é que para a Alemanha, África precisa de mobilizar os seus recursos internos e não depender da ajuda externa. Isso é problemático já que grande parte dos países africanos são países em desenvolvimento, dependentes de financiamento externo. Claramente, a proposta alemã não responde às necessidades que os países africanos têm de se desenvolver e, acima de tudo, industrializarem-se.

*Docente e investigador da UAN

(Leia o artigo integral na edição 591 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Setembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)