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Angola

Mais e melhores infraestruturas, aumento do crédito à economia e redução da carga fiscal

"Industrialização do País: o desafio da próxima década"

A industrialização do País passa pela criação de infra-estruturas, como a electricidade e água, financiamento à economia, aposta na transformação da produção interna e a redução da carga fiscal, defenderam os industriais, na mesa redonda do I Fórum Indústria, organizado pelo Expansão, onde também foram apresentadas as linhas gerais do Plano de Desenvolvimento Industrial de Angola para os próximos quatro anos (PDIA 2025).

Os empresários presentes no encontro, que se realizou no dia 19 de Março, e aqueles que tiveram uma participação virtual corroboram da ideia que o plano de industrialização do País deve ter como actores principais os players que operam no mercado angolano e não esperar que o Estado faça tudo.

Lembram, no entanto, que o Estado deve ter um papel "fomentador e proactivo" na industrialização, apontando e enquadrando caminhos, construindo infra-estruturas, qualificando a sua mão-de-obra e estabelecendo parcerias.

"Todo o plano de relançamento da indústria tem de começar por ter o contexto adequado. Esse contexto é de uma economia aberta, com um clima de investimento apropriado e uma banca cada vez mais próxima das empresas, reconhece o empresário Adérito Areias, tendo sublinhado a necessidade de desenvolver a agro-indústria para o desenvolvimento do País.

O empresário do sal, como é conhecido Adérito Areias, reconhece ser importante que haja cadeias de valor ou seja, os industriais têm de transformar a produção para que haja competitividade numa altura em que o País se prepara para entrar na Zona de Comércio Livre da SADC.

"Temos de apostar na transformação da produção interna", disse o empresário, tendo assegurado que é preciso que se resolvam os problemas de base, porque, no seu entendimento, a energia é fundamental para reduzir os custos de produção. Deu como exemplo os gastos que a sua empresa tem para produzir sal. "Gasto diariamente 7.500 litros de gasóleo e, com estes gastos, não posso competir com a Namíbia e o Egipto, que são os maiores produtores de sal no continente", disse, lembrando, no entanto, que enquanto a actividade industrial for feita com recurso a fontes alternativas, não será possível desenvolver uma indústria sustentável.

"Temos de olhar para todos estes factores e até para a dinâmica financeira dos bancos e a problemática do IVA. Só assim podemos falar de que tipo de empresas queremos. Não podemos continuar a ser um País importador. O País importa quase tudo, quando, na realidade, temos matéria-prima para transformar. Os planos são bonitos, mas é preciso entrar para a prática", explicou o empresário de Benguela, garantindo ainda que é preciso olhar para os parques industriais e ver como dinamizá-los.

Sebastião Macunge, presidente do conselho de administração da Pescangola, questiona o programa de diversificação da economia e quer saber se já existem condições para afirmar que estamos no bom caminho para diversificar a produção e as exportações. Para ele, só uma agricultura forte pode impulsionar a indústria em Angola.

Quanto ao desenvolvimento da indústria pesqueira, o gestor garantiu que a falta de fiscalização está a causar várias irregularidades no sector. "Até quando continuaremos a assistir impávidos e serenos quando há descargas de pescado em pontos não controlados pelo Estado?", questiona Sebastião Macunge, lembrando que o problema está identificado, mas há pouca vontade de pôr fim a estas práticas. Afirma ainda que, com essas acções, não é possível ter uma indústria de processamento de pescado, nem as estatísticas do sector podem ser exactas, porque os armadores não fornecem informação completa, sobretudo aqueles que têm pontes-cais. Lembrou ainda que tem havido limitações à entrada de novos operadores e muitos pensam que é um grupo de amigos que controla a pesca em Angola. "Os níveis de captura do pescado estão baixos. Os armadores não podem levar o peixe ao mercado paralelo e, quando assim acontece, estamos diante de candongueiros. Há que criar cadeias para a indústria do peixe", explica o gestor.

Para Adérito Areias trata-se de um sector ainda "adormecido". Justifica a afirmação dizendo que o único valor acrescentado na pesca é o congelamento do pescado, não há uma indústria de transformação de pescado em farinha de peixe, nem em conservas.

A nata da indústria em Angola entende também que é necessário desburocratizar a administração pública e uma política do Estado virada para o negócio, ou seja, um Estado pró-negócios, pressupostos estes que podem determinar o sucesso de um programa de industrialização sustentável.

Segundo Décio Catarro, CEO da Carrinho, é preciso dar conectividade às empresas e alavancar a produção interna para o desenvolvimento industrial. Nem tudo é um mar de rosas, o empresário garante que a falta de infra-estruturas e a ausência de financiamento são os grandes constrangimentos, mas reconhece que são os empresários que devem tomar a dianteira da industrialização do País e não esperar pelo Estado.

"Temos de discutir o que fazer e como fazer, apesar dos problemas já identificados. Na realidade, temos de transformar o País naquilo que queremos. A industrialização é o desenvolvimento
de um ecossistema que passa pela transformação até à distribuição", afirma o CEO da Carrinho, lembrando ainda, por outro lado, que as cadeias de valor em Angola, para um determinado negócio, não funcionam e o que se "assiste é que cada empresário quer desenvolver o seu negócio da melhor forma possível".

"Esperar pelo Estado não haverá desenvolvimento industrial em Angola. O Estado é apenas um regulador. É utópico pensar que o quadro pode ser mudado de dia para a noite e pôr todo o peso na nossa agricultura", disse o homem forte da Carrinho. Apesar de tudo, reconhece, é possível fazer melhor em Angola e garante que as indústrias de grande capacidade de transformação precisam da produção nacional porque não conseguem sobreviver apenas das importações.

Por sua vez, Luís Diogo, CEO da Fabrimetal, diz que na prática as coisas não existem, porque são muitos os problemas que os empresários encontram no dia-a-dia. A questão é pensar naquelas empresas que já cá estão e criam rendas para as famílias. "E o que assistimos é uma lacuna, porque no eixo vertical as coisas funcionam com muitas limitações", disse o empresário do aço.