Estabilidade do dólar confirma gestão administrativa da moeda nacional
Em todo o ano de 2025, o valor do dólar face à moeda nacional oscilou num intervalo inferior a 1 Kz, valor mais baixo de 911,545 Kz a 27 de Novembro e valor mais alto de 912,431 Kz a 2 de Dezembro. Nos 4 primeiros meses do ano nem "mexeu", manteve-se nos 912 kz por 120 dias.
A estabilidade quase absoluta do dólar em Angola durante 2025 - um ano marcado por menor disponibilidade de divisas e pela fragilidade estrutural das receitas petrolíferas - voltou a reacender o debate sobre a verdadeira natureza do regime cambial angolano. Apesar do enquadramento oficial continuar a ser o de "câmbio flexível administrado", os movimentos ocorridos ao longo do ano sugerem um controlo implícito mais rígido por parte do Banco Nacional de Angola (BNA).
A taxa começou o ano nos 912 Kz/USD e, de forma "estranha", permaneceu 120 dias sem qualquer oscilação, uma estabilidade absoluta que contraria o comportamento normal de uma taxa flutuante num mercado pressionado pela procura de divisas. Esta tranquilidade só foi interrompida por pequenas oscilações técnicas ao longo dos restantes meses do ano, mais visível, pelo episódio entre 24 de Novembro e 3 de Dezembro, quando o câmbio caiu para 911,545 Kz, recuperou até 912,431 Kz e voltou a estabilizar em 912,11 Kz. Nada, no ciclo económico ou no fluxo de receitas externas, justifica movimentos tão estreitos e tão rapidamente revertidos, razão pela qual vários economistas e consultoras voltaram a referir suspeitas de "gestão operacional diária" por parte do banco central.
Em todo o ano de 2025, o valor do dólar face à moeda nacional oscilou num intervalo inferior a 1 Kz Durante o ano, o BNA reiterou em várias ocasiões que o mercado cambial opera "com base na oferta e procura", mas admitiu que a sua intervenção tem sido "prudencial" para evitar volatilidade excessiva num contexto de forte desaceleração do sector petrolífero, menor entrada de divisas e aumento da incerteza macroeconómica.
O Governo, por sua vez, tem sublinhado que a estabilidade do kwanza é fundamental para reduzir a inflação, proteger o poder de compra e garantir previsibilidade às empresas - uma mensagem repetida em seminários do MinFin e nas apresentações do OGE 2026. Contudo, esta narrativa colide com o comportamento real da taxa: oscilações de apenas milésimos ao longo de um ano marcado por queda de exportações petrolíferas não configuram livre flutuação, mas sim um "corredor informal" imposto pelo regulador.
A robustez aparente do kwanza também esconde a contínua pressão sobre as reservas internacionais, que têm sido geridas com prudência, mas mostram tendência suave de redução desde 2023. Além disso, a menor disponibilidade de divisas para importações - visível em vários sectores económicos - indica que parte do equilíbrio cambial decorre de restrições administrativas, nomeadamente limites operacionais às vendas de bancos comerciais e maior selectividade nas operações autorizadas. Tem sido também pela restrição de importações que o Governo tem desacelerado a inflação.
2026 voltará a ter estabilidade cambial
Olhando para 2026, ano pré- -eleitoral, torna-se ainda mais improvável que o Executivo permita movimentos cambiais relevantes. A estabilidade da moeda é politicamente sensível e tradicionalmente gerida como instrumento de contenção de inflação e de preservação de confiança. O padrão histórico confirma esta tendência: em 2022, no período pré-eleitoral, o kwanza registou uma valorização artificial impulsionada pelo aumento temporário das receitas petrolíferas e por intervenções cambiais que comprimiram a volatilidade.
Em 2025, sem o impulso das exportações, essa valorização não se repete, mas a estabilidade forçada cumpre o mesmo objectivo, manter a narrativa de controlo macroeconómico. Para 2026 e início de 2027, espera-se um cenário idêntico.
O câmbio deverá manter-se dentro do mesmo corredor apertado, com riscos claramente deslocados para o pós-eleições. Caso se repitam os padrões de 2017 e 2022, o kwanza poderá valorizar ligeiramente no segundo trimestre de 2027, por razões políticas e pela contenção temporária da procura de divisas.
No entanto, após o acto eleitoral, a probabilidade de uma correcção abrupta aumenta substancialmente, uma vez que o mercado tenderá a ajustar-se ao desfasamento acumulado entre oferta real de divisas e taxa administrada. Assim, a história cambial de 2025 não é apenas um retrato de estabilidade: é o espelho de uma economia com dependência extrema do petróleo, com reservas pressionadas e com um banco central obrigado a escolher entre flutuação genuína - que poderia provocar desvalorização imediata - e gestão administrativa, que adia a correcção mas aumenta os desequilíbrios estruturais.
O comportamento do mercado confirma que o BNA optou pela segunda via. Em síntese, 2025 mostrou um kwanza estável, mas não livre; previsível, mas não necessariamente sustentável. E tudo indica que 2026 seguirá o mesmo guião, empurrando para 2027 a inevitável discussão sobre o verdadeiro valor da moeda angolana e sobre a capacidade do País para transitar de um regime cambial administrado para um mercado verdadeiramente funcional. O eleitorado dificilmente verá alterações antes disso - o ajuste, como quase sempre, chega depois das umas.











