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"O espectáculo Galáxia fala da identidade e do amor próprio"

Tony Frampênio

Tem trinta anos de ligação ao teatro, e desde 1997 no grupo Enigma Teatro. Avança agora para a criação e encenação de um espectáculo musical, Galáxia, que pode ser visto esta sexta-feira na Liga Africana. Em entrevista ao Expansão, Tony Frampênio fala da sua carreira.

Tem muitos anos de teatro e já desenvolveu inúmeros projectos, percorrendo todas as áreas desta expressão artística. Tem certamente uma ideia concreta daquelas que são as maiores dificuldades em fazer teatro em Angola.

As maiores dificuldades da classe artística, a do teatro em particular, continuam a ser a implantação errada das políticas culturais que em nada beneficiam a classe. Há que se rever as leis, as políticas culturais. Só assim teremos alguma dignidade pelo que amamos fazer. O Estado precisa entender que a Cultura é o coração da ordem de qualquer País, sem a qual, o povo, nunca vai perceber a importância da educação, do patriotismo e do humanismo.

O Estado não se preocupa com a arte?

Nem preciso comentar da falta de formação, nem da falta de infraestruturas e muito menos dos incentivos bonificados ou editais públicos para concorrer a projectos artísticos que deve ser uma obrigação do Estado, segundo a nossa Constituição. É lamentável a falta de conhecimento sobre a importância das artes por parte de quem governa o nosso País.

Muitos dizem que a música é a maior beneficiária dos apoios institucionais. Concorda?

Eu também pensava assim, mas mudei a minha opinião. Aqui existem factores históricos intrinsecamente ligados à história política do País. A música teve maior evidência na narrativa histórica dos angolanos e muitos músicos participaram na construção destas narrativas, assim como alguns escritores também. Esse é um dado que deve ser analisado. No caso do teatro, apesar do papel fundamental que esta disciplina teve na luta de libertação nacional e na construção ideológica da política nacionalista, muitos destes artistas foram colocados de parte na hora da divisão do "bolo" da independência. Outros factores então ligados a Cultura de Massa, a cultura do consumo, o capitalismo. A música é uma arte muito mais susceptível para estes preceitos, o que não significa que não haja música artística.

Isso não acontece também com o teatro?

O teatro, seja comercial ou ideológico estético, tanto na forma como no conteúdo, é uma arte
que não ganha muito espaço num Estado cujo sistema teme a mudança pelo despertar dos artistas que normalmente caminham pela esquerda, por inerência dos factos e do propósito pela qual ela (a arte) foi inventada.

Como é que teatro pode ajudar a alterar o contexto económico actual?

Vou só lhe dar um exemplo. Em 2008 o Teatro Avenida foi demolido com o propósito de se construir uma nova sala. Antes disso, os artistas da classe teatral auferiam salários, viviam deste ofício e não tinham muitas queixas porque vivíamos do nosso trabalho. Quando se demoliu o tal teatro, muitos ficaram desempregados e deixaram o teatro. Houve uma rotura económica no seio da classe. Eu fiz um estudo sobre este fenómeno, e constatei que eram mais de 500 grupos e todos integrados por 15 elementos no mínimo. Já imaginou se todos pagassem imposto? Agora não temos como participar do ciclo fiscal, nem contribuir para o PIB, porque partiram o Teatro.

(Leia o artigo integral na edição 617 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Março de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)