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Economia

Investimentos angolanos lá fora repatriam 148,7 milhões USD em lucros, valor mais alto de sempre

DISPAROU PARA 557% NOS PRIMEIROS NOVE MESES DO ANO

Nunca voltou tanto dinheiro de investimento angolano no exterior como nos primeiros nove meses de 2025. Ainda assim, os lucros expatriados pelas empresas estrangeiras em Angola são 15 vezes superiores aos valores que os investidores nacionais enviam de volta ao País.

Os investidores angolanos lá fora repatriaram para o País 148,7 milhões USD em lucros nos primeiros nove meses do ano, o que representa um aumento de 557% face aos 22,6 milhões USD registados no período homólogo (+126 milhões USD), de acordo com cálculos do Expansão com base no relatório sobre a Balança de Pagamentos do Banco Nacional de Angola (BNA).

Este é o valor mais alto de entrada de rendimentos (lucros), desde que há registos no banco central, ou seja, nunca foi repatriado para Angola tanto dinheiro de investimento angolano no exterior como aconteceu nos primeiros nove meses de 2025.

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) ocorre quando uma entidade não residente compra total ou parcialmente uma empresa no País, adquirindo uma participação do seu capital, com o objectivo de controlar ou influenciar a sua gestão. Além das aquisições de empresas existentes, o IDE inclui a constituição de novas empresas ou sucursais, aumentos de capital, reinvestimento de lucros e prestações suplementares, entre outras operações.

O facto é que o BNA não dá mais informações sobre estes rendimentos, o que dificulta a identificação das empresas ou particulares que receberam efectivamente estes valores. Assim, volta a surgir a questão sobre os dividendos que a Sonangol recebeu ou deveria ter recebido da sua participação nas empresas portuguesas Millennium BCP e Galp.

A Sonangol é a segunda maior accionista do banco português BCP com uma participação de 19,49% e, na Galp, tem uma participação indirecta através da Amorim Energia, a maior accionista da petrolífera portuguesa com 36,69%. Estas empresas, sobretudo a Galp, anunciam dividendos todos anos, mas os valores não batem certo com as entradas de rendimentos primários registadas pelo banco central. Só para se ter uma ideia, em 2024 a Sonangol apontou no seu relatório e contas dividendos de 47,2 mil milhões Kz (cerca de 51,2 milhões USD) do Millennium BCP, mas a balança de pagamentos contabilizou um total de 27,9 milhões USD registado em todo País.

Para este ano, a Sonangol deve receber cerca de 88 milhões de euros de dividendos só do BCP relativos ao exercício de 2024, de acordo com cálculos do Expansão com base no relatório e contas do banco português.

Bom sinal para economia

Para Wilson Chimoco, estes resultados devem-se, essencialmente, pela maturação de investimentos realizados no estrangeiro e a identificação de investimento interno mais apelativo do que o reevistimento no estrangeiro.

"A economia tem vindo a registar crescimento e estabilidade na macroeconomia, e isso transmite alguma confiança aos investidores", apontou, acrescentando que, além da melhoria na balança corrente, sinaliza uma "melhoria na liquidez em moeda estrangeira no mercado e redução na pressão cambial", embora a taxa de câmbio esteja segurada pelo banco central.

Já o economista Francisco Paulo aponta que este aumento de repatriamento de lucros por parte de investidores angolanos pode reflectir uma combinação de factores: "em primeiro lugar, há sinais de maior confiança no mercado interno, possivelmente associados à estabilização cambial e à redução da inflação, que caiu para cerca de 16,5% em Novembro.

Essa melhoria pode ter tornado mais atractivo reinvestir no País, especialmente em sectores com potencial de crescimento, como construção, comércio e agro-indústria". Francisco Paulo entende que este movimento é positivo para a economia, pois aumenta a liquidez interna e pode estimular no vos investimentos produtivos. "Para consolidar esta tendência, é essencial garantir estabilidade macroeconómica, transparência regulatória, e políticas que incentivem o reinvestimento desses recursos em actividades geradoras de emprego e valor agregado", realçou. Assim, os angolanos têm hoje investidos (sem contar investimentos de carteira) lá fora 5.405,7 milhões USD (stock de investimento), o que representa um aumento de 2% face a Dezembro do ano passado. Ainda assim, o valor mais alto foi em 2018, quando o País atingiu um stock de investimento de 6.069,5 milhões USD. Importa realçar que durante vários anos o BNA apresentava dados muito elevados sobre o stock de investimento de angolanos lá fora, até que o FMI deu conta de erros no âmbito da X Missão de Assistência Técnica do FMI, realizada de 16 a 27 de Julho de 2018. A título de exemplo, em 2017, os angolanos tinham investidos em empresas lá fora apenas 5,5 mil milhões USD e não os 22,0 mil milhões USD que o BNA referia no relatório da Balança de Pagamentos e Posição do Investimento Internacional daquele ano. Isto levanta dúvidas sobre se a maior parte do dinheiro que saia do País por via de "fuga de capitais" não estaria a sair disfarçado de investimento lá para fora, sobretudo para offshores

Leia o artigo integral na edição 857 do Expansão, sexta-feira, dia 18 de Dezembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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