Paralisação da construção civil afunda sector das rochas ornamentais
Além de impactar negativamente no crescimento económico do País, a crise da construção civil e do imobiliário tem afectado fortemente o sector de extracção das rochas ornamentais. Especialistas acreditam que é preciso mais investimentos e apoios para este subsector dos recursos mineiras. Exportação para outros mercados vai-se fazendo, mas é difícil.
A paralisação do mercado da construção civil em Angola está a afundar o sector das rochas ornamentais no País, que enfrenta várias dificuldades para se internacionalizar devido aos altos custos que representa a exploração destas matérias-primas, não conseguindo competir com outros países como a Itália, Espanha, Polónia e China.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativamente ao subsector das rochas, o País exportou 31,2 milhões USD em granito nos primeiros nove meses do ano passado, quando foram exportados 89,7 mil metros cúbicos de rochas, montante que equivale a 70% do valor total exportado em 2023 e 28% do valor exportado em 2022, aquele que é considerado um grande ano em termos de exportação deste tipo de matérias-primas.
Já as importações são quase nulas, já que nos primeiros nove meses do ano foram exportados 167 mil USD, o que compara com os 670 mil USD em todo o ano de 2023 e os 500 mil USD de 2022.
Como o sector da construção civil tem estado em queda há vários anos, devido ao ciclo económico e à constante perda de poder de compra dos angolanos, os produtores foram-se virando para as exportações, ainda que estas representem ainda um valor muito baixo face à globalidade das vendas angolanas lá para fora.
Entre Janeiro e Setembro do ano passado, as exportações de rochas ornamentais representaram apenas 0,1% do total dos produtos exportados por Angola, ou seja, cerca de 31,2 milhões USD, num valor global de 27.714,7 milhões USD.
Contas feitas pelo Expansão, deste valor, se se retirarem as exportações petrolíferas, o peso das exportações de granito passa ao equivalente a 2,0% das exportações não petrolíferas, que corresponde a 1.571,6 milhões USD no período em análise.
Comparativamente ao mesmo período do ano de 2023, os números mantêm-se nos 0,1%, ou melhor, o sector das rochas ornamentais não regista grandes alterações. Estes indicadores, segundo afirmou o presidente da Associação dos Produtores, Transformadores, Comercializadores e Exportadores de Rochas Ornamentais do Sul de Angola (APEPA), Marcelo Siku, apontam para uma cada vez maior aposta dos operadores no mercado internacional para a sua sobrevivência, já que o mercado da construção em Angola não aquece e continua em queda. "O mercado interno desmoronou, mas o mercado internacional continua forte, apesar de ser muito competitivo", disse o empresário. Falando dos preços, prosseguiu, estes variam em função de cada material e qualidade do mesmo. De acordo com Marcelo Siku, os preços das exportações variam entre os 150 USD e 350 USD a tonelada.
Embora não existam dados definitivos sobre as rochas mais exportadas, Marcelo Siku garante que o material mais produzido e mais exportado é sempre o granito negro e o quartzito tropical.
Produção
O presidente da APEPA, Marcelo Siku, garantiu que infelizmente não existem dados fiáveis das empresas sobre a produção, tudo porque os operadores ainda não realizaram a sua reunião de balanço das actividades desenvolvidas em 2024. Entende, por isso, que a olhar para a realidade macroeconómica do País, houve uma redução substancial na produção e na exportação em 2024.
Durante o período em análise, o granito negro e o marrom foram os produtos mais produzidos, representando perto de 80,0% do total de pedras produzidas no País. O granito verde e vermelho, segundo os últimos dados estatísticos do MIREMPET, com cerca de 2,3 mil metros cúbicos, foi a terceira rocha mais produzida no País até ao final do terceiro trimestre do ano passado.
As províncias que mais produziram rochas ornamentais foram a Huíla e o Namibe com cerca de 96,00% e 1,69%, respectivamente.
Burocracia e limitações financeiras
As limitações financeiras, nomeadamente a falta de crédito bancário e o "abandono" governamental, são o grande desafio apontado pelos operadores para o desenvolvimento das suas actividades. Especialistas indicam que as empresas de granito atravessam grandes dificuldades, apesar das promessas do Governo em apoiar o crescimento do subsector das rochas com apoios financeiros e incentivos, conforme indica o Plano Nacional de Desenvolvimento 2023-2027. "Apoiar os produtores de rochas ornamentais a aumentar a sua produção através da adopção de múltiplas iniciativas de promoção do potencial geológico de Angola, como a eliminação de barreiras da cadeia de valor, prestação de apoio institucional às operações, e criação de incentivos e soluções de financiamento que promovam a prospecção", indica o PDN 2023-2027.
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