Poucas opções e juros reais negativos abrem portas à dívida pública
Apenas cinco tipos de instrumentos de investimento estão disponíveis: os títulos de dívida pública, acções de empresas, obrigações corporativas, unidades de participação de fundos, a nível do mercado de capitais, e os depósitos a prazo na banca, cujas taxas de juro reais, descontada a inflação, são negativas.
Onde aplicar o dinheiro é uma das questões que surge na hora de poupar ou investir e os mercados financeiros, em qualquer parte do mundo, são apontados como opções de investimento e de poupança para particulares e empresas. Angola ainda dispõe de poucas opções disponíveis para as famílias e investidores, onde os títulos de dívida pública concentram 99,9% das negociações na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), ou seja, os investidores quase só negoceiam títulos públicos, segundo apurou o Expansão com base nos dados disponibilizados pela comissão de mercado de Capitais (CMC).
O "cocktail" formado por falta de mais produtos de poupança, rendimentos baixos e preços altos, e taxas de retorno reais negativas, continuam a empurrar os investidores para os títulos de dívida pública. E em 2025 não será diferente. Na falta destas alternativas, muitos optam por fazer poupanças em moeda estrangeira, alguns guardam o dinheiro em casa, enquanto outros recorrem à "kixikila", como é conhecida popularmente uma prática antiga, mas ainda muito comum.
Para investir em instrumentos financeiros, actualmente, o mercado oferece apenas cinco produtos, nomeadamente, os títulos de dívida pública, acções de empresas, obrigações corporativas, unidades de participação de fundos, a nível do mercado de capitais, e os depósitos a prazo na banca, cujas taxas de juro reais, descontada a inflação, continuam a ser negativas. Os dados mais recentes do INE apontam que a taxa de inflação homóloga se fixou em 26,5% em Fevereiro, muito acima das taxas que os mercados estão a remunerar, embora se projecte uma redução da taxa de inflação para 18,9% no final deste ano, segundo o FMI.
Assim, quando olhamos para a bolsa de valores do País, as movimentações são essencialmente títulos de dívida pública, já que em 2024 estes instrumentos concentraram 99,9% das negociações da BODIVA, o que tornar os bilhetes de tesouro (BTs) e as Obrigações de Tesouro (OTs) como os instrumentos preferenciais das empresas e particulares.
Além de apresentarem menores riscos, as taxas de remuneração das aplicações em dívida titulada são maiores em relação às taxas que os bancos pagam pelos depósitos a prazo dos seus clientes, o que acaba por fazer com que o Estado rivalize e supere a banca na captura das poupanças das famílias angolanas. Isto deve-se também à necessidade de financiamento interno que o Estado tem para fazer face às despesas programas no Orçamento Geral de Estado, uma vez que o Estado costuma gastar mais do que aquilo que consegue arrecadar, num cenário que se deverá manter pelo menos até 2030.
Só para termos noção, durante o ano de 2024, a taxa dos Bilhetes de Tesouro/ano (títulos públicos de curto prazo) com maturidades a 1 ano, atingiu um máximo de 19,0% praticamente o dobro das taxas dos depósitos, ao passo que as obrigações de tesouros não reajustáveis (títulos públicos de médio e longo prazo) chegaram a atingir os 24% a 4 anos. Ainda assim, estas taxas ficaram abaixo da taxa de inflação que no final de Dezembro era de 27,5%.
Actualmente, no mercado primário, os BTs a 1 ano estão a ser remunerado a uma taxa de 14,8% e as taxas de cupão para as OTs situam-se entre os 15% aos 23%, respectivamente, acima dos 9,7% que os bancos remuneravam em Janeiro para o período de um ano (ver tabela).
Tal como aponta o CEO da distribuidora de valores mobiliários Kyros SDVM, Mariano Ferreira, para 2025, e de acordo com a literatura financeira, os títulos de dívida pública destacam-se como a opção mais segura e acessível, especialmente para investidores conservadores.
"Não configurando uma recomendação de investimento, e tendo em conta a conjuntura económica do panorama nacional, os títulos de dívida pública ainda se apresentam como os mais seguros em relação aos demais instrumentos financeiros do sistema financeiro nacional, devido aos seguintes factores: baixo risco, pois têm garantia do Estado; oferecem taxas de rendimento competitivas (geralmente acima ou muito próximas da inflação), especialmente em um cenário de taxas de juro elevadas para financiar o Orçamento Geral do Estado (OGE); há liquidez no mercado secundário da BODIVA, permitindo o resgate antes do vencimento, se necessário", explicou.
Ainda assim, Mariano Ferreira entende que, "para investidores com perfis mais agressivos", as acções representam óptimas oportunidades de investimento, devido às rápidas valorizações verificadas (com cotações acima de 100% do preço de aquisição em um curto espaço de tempo), bem como às variações positivas registadas recorrentemente na abertura e no fechamento do mercado accionista.
Leia o artigo integral na edição 816 do Expansão, de sexta-feira, dia 07 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)