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Economia

Fundo Soberano de Angola vai investir na produção nacional

PREVISTO NO PLANO ESTRATÉGICO ATÉ 2028

Objectivo é aplicar capital do fundo nos denominados investimentos alternativos como café, abacate, produção de proteina animal e vegetal e até em unidades de fabricação de medicamentos. Fórmula prevê modelos de co-investimento, em equity ou investimento directo. FSDEA deve aprender com o passado.

O Fundo Soberano de Angola (FSDEA) está a preparar o regresso ao investimento na produção nacional depois de ter tornado como prioridade de investimento até 2028 a aposta nas cash crops, como abacate ou café, na proteína vegetal e animal, em fertilizantes, na silvicultura e na produção de medicamentos. Não revelou quanto dinheiro tem disponível para esta aposta.

Esta prioridade consta no Plano Estratégico 2023-2028 apresentado na semana passada pelo PCA da instituição, Armando Manuel, que em Dezembro substituiu Carlos Alberto Lopes, numa repetição do que aconteceu em 2013, quando foi nomeado ministro das Finanças, substituindo precisamente Carlos Alberto Lopes.

Durante o evento que decorreu no Intercontinental, em Luanda, Armando Manuel adiantou que o FSDEA vai dar maior atenção aos denominados investimentos alternativos utilizando, para o efeito, três tipos actuação, entre elas o co-investimento, em que entra com uma parte do dinheiro necessário para o investimento, ficando sócio de uma entidade privada, ou investimento em equity (capital) de uma empresa, o que envolve a compra de acções de uma empresa com a expectativa de que seu valor aumente ao longo do tempo. A terceira via será uma que o FSDEA utilizou no passado, que será o investimento directo em fazendas ou unidades fabris para a produção de medicamentos, por exemplo.

Uma forma de investimento que no passado não será de má memória para o FSDEA, tendo em conta que em 2018 João Lourenço mandou retirar a concessão para a gestão de seis fazendas atribuídas pelo seu antecessor Eduardo dos Santos ao fundo na altura gerido pelo seu filho José Filomeno dos Santos, que estariam praticamente ao abandono. Estas fazendas faziam parte da carteira de activos do fundo gerida pela Quantum Global, de Jean-Claude Bastos de Morais, que chegou a estar detido vários meses até que um acordo sigiloso permitiu a sua saída do País.

O Fundo Soberano ainda não publicou o relatório e contas de 2023, mas de acordo com a apresentação, fechou o ano passado com lucros de 199,3 milhões USD, o que compara com os prejuízos de 196,6 milhões USD registados em 2022. Contas feitas, desde a criação deste fundo, em 2012, cuja missão passava por juntar as poupanças do País para o futuro e promover o desenvolvimento social e económico de Angola gerando riqueza para o País, o FSDEA já registou um prejuízo acumulado de 237,8 milhões USD.

De acordo com o FSDEA, no ano passado a carteira bruta de investimentos do fundo estava avaliada em 3.776 milhões USD, "dos quais recebíveis 1.500 milhões USD", e investimentos alternativos avaliados em 660 milhões USD e investimentos líquidos de 1.616 milhões USD. A carteira líquida de investimentos registou uma variação de 11% face aos 1.400 milhões USD registados em 2022.

O Fundo que foi liderado a maior parte do tempo de "vida" por Filomeno dos Santos, filho do ex-presidente da República, que esteve desde 2013 até Janeiro de 2018, foi capitalizado inicialmente com 5 mil milhões USD, tendo vindo a ser descapitalizado desde a pandemia da Covid-19 e para o apoio ao Programa Integrado de Implementação de Municípios (PIIM).

Em 2015, ainda sob gestão de José Filomeno dos Santos "Zenu", o FSDEA tinha entregue, para gestão, 97,5% dos seus activos ao Quantum Global Group, entidade fundada e presidida pelo seu amigo Jean Claude Bastos de Morais, na altura também detentor de 85% do extinto Banco Kwanza Invest (BKI), e sócio de próprio Filomeno dos Santos. Este foi nomeado pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, seu pai, para o FSDEA. O próprio Banco Kwanza come- começou por chamar-se Banco Quantum tendo sido rebaptizado com o nome do principal rio de Angola e da moeda nacional em 2012.

No ano passado, um relatório do Banco Mundial sobre as finanças públicas angolanas destapava mais uma vez os graves problemas de gestão e más práticas que têm afectado o FSDEA desde a sua criação. Se a gestão tivesse adoptado uma estratégia conservadora, com a utilização de aplicações financeiras nos principais índices bolsistas internacionais, assegura o Banco Mundial, a capitalização do FSDEA teria subido de 5.000 milhões USD (a dotação inicial) para 6.500 milhões USD. Desde 2012, o FSDEA foi descapitalizado em cerca de 2.900 milhões USD.

Como referência, o Banco Mundial utilizou o índice S&P 500 (que agrupa os maiores activos cotados na Bolsa de Nova Iorque) para lembrar que os 5.000 milhões USD atribuídos ao FSDEA teriam atingido 6.500 milhões USD em Junho de 2022, mesmo "depois de replicados os levantamentos de fundos que ocorreram em 2019 e 2020". "Isto representa um aumento de 31% em relação à dotação original e cerca de três vezes o saldo real do FSDEA de Junho de 2022", recordam os autores do relatório, que também asseguram que "não é de surpreender que o fundo tenha um desempenho inferior ao dos padrões de referência". Em Dezembro de 2022, segundo o relatório e contas do FSDEA, auditado pela Ernst & Young (EY), o fundo já só valia cerca de 2.100 milhões USD, ou seja, menos 2.900 milhões USD do que em 2012.

Leia o artigo integral na edição 791 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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