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Economia

Inflação galopante em Luanda passa os 41% e caminha para a taxa mais alta dos últimos 20 anos

JÁ EM MÁXIMOS DE 7 ANOS

O custo de vida dos angolanos continua a subir, com a aceleração da taxa de inflação em função do aumento dos preços dos bens e serviços, o que torna as famílias mais pobres. Os preços sobem onde dói mais, na saúde, alimentação e bebidas, vestuário, serviços e nos transportes.

O custo de vida em Luanda está cada vez mais alto, em Maio deste ano face ao mesmo período do ano passado os preços subiram 41,58%, e em termos mensais os preços cresceram 3,0% face a Abril. Com estes números, Luanda regista a taxa de inflação homóloga mais alta dos últimos sete anos, de acordo com cálculos do Expansão com base com o índice de Preços no Consumidor de Abril do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Seria necessário recuar até Dezembro de 2016 (quando a taxa de inflação situou-se em 41,95%) para encontrar uma taxa de inflação homóloga mais alta do que a verificada em Maio deste ano. Assim, Luanda caminha para a taxa mais alta dos últimos 20 anos, o que muito provavelmente poderá acontecer já nos próximos meses. Até Novembro de 2014, a taxa de inflação de Luanda serviu como referência para a inflação do País, isto porque era na capital que se faziam as recolhas de preços. Só a partir de Janeiro de 2015 o INE passou a publicar os dados de inflação mensal referentes às restantes 17 províncias.

Os preços também não param de subir a nível nacional. Em Maio, apesar de se ter registado uma redução de 0,3 pontos percentuais face a Abril, os preços cresceram 2,49%. Já a inflação homóloga do País situou-se nos 30,16%, ao registar a taxa homóloga mais alta desde Maio de 2017, quando atingiu 32,6%, precisamente há sete anos. Este diferencial entre os aumentos de preços na capital e no restante País, cerca de 35%, também levanta algumas dúvidas sobre a forma como estão a decorrer a recolha de dados nas províncias e/ou o aumento da especulação comercial nos grandes centros de consumo.

O director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (Cinvestec), Heitor Carvalho, entende que "estranhamente" em Maio a inflação mensal desceu, sobretudo na da rubrica de alimentação e bebidas não alcoólicas. "A inflação nesta rubrica, que tem um peso de mais de 55% na inflação total, desce do seu valor mais alto para o seu valor mais baixo desde Maio de 2023, exactamente no momento em que a rubrica de transportes sobe 11%. Com esta verdadeira dádiva dos céus, a inflação mensal em Maio desce de uma média anual de 2,56% para 2,49%, regressando ao patamar de Janeiro", explicou.

Assim, a inflação acumulada do País, nos cinco meses do ano, fixou-se em 13,38% , tratando- -se do pior arranque de um ano desde 2016, quando entre Janeiro e Maio atingiu os 17,89%, em cinco meses. A maior variação dos preços registou-se no sector dos transportes, já que os preços aumentaram 11,23%, segundo o INE. Este aumento deve-se, sobretudo, à subida dos transportes públicos, uma vez que desde o dia 16 de Maio os táxis passaram a custar 200 Kz, quando anteriormente eram 150 Kz. Já o preço dos transportes públicos colectivos urbanos rodoviários de passageiros (autocarros) passou de 50 para 150 Kz, mais 150 Kz, o que agravou a baixa qualidade de vida da maior parte dos angolanos que vivem abaixo dos 2 dólares por dia.

Assim, para o economista Mateus Maquiadi, uma vez que os preços estão a aumentar de modo "bastante acelerado", não havendo compensação do lado dos salários, naturalmente temos uma perda do poder de compra e como consequência também um aumento no custo de vida, que por sinal exacerba o problema da pobreza que já é elevada no nosso país, com mais de 40% da população vivendo abaixo da linha. "A alta da inflação galopante também indica desvalorização da moeda, uma vez que se precisa de mais Kwanzas para comprar as mesmas unidades de produtos e bens e serviços, e isso também pode acabar se reflectindo na flutuação da taxa de câmbio", apontou.

INE diz que famílias só gastam 6,5% do ordenado em transportes

Os números do INE apontam que as famílias angolanas gastam mais de metade do seu rendimento para alimentação (55,7%), já que é a classe de despesas que mais regista aumento dos preços em Angola. Já os gastos com transportes representam apenas 6,5%, o que diverge com a realidade dos angolanos. (ver gráfico)

Tal como explica o economista Carlos Lumbo, os ponderadores das classes de bens e serviços actualmente em vigor foram apurados no Inquérito de Despesas e Receitas (IDR), de 2018 a 2019, os quais começaram a ser implementados em IPCN e inflação dois anos depois, em Janeiro de 2021. "O CENSO 2024 tem igualmente utilidade para a actualização de dados para IPCN e inflação, mas provavelmente daqui a dois anos, ou seja, em 2026", argumentou. Já Heitor Carvalho explica que desde 2018 para cá o consumo deslocou-se ainda mais para o essencial, alimentação e saúde, por isso considera ser "urgente fazer novos inquéritos". De concreto, os dois especialistas defendem uma alteração da forma como a inflação é calculada para se aproximar mais da realidade.

Leia o artigo integral na edição 781 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Junho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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