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Economia

Inflação homóloga desacelera para 19,7%, mas o nível de vida dos angolanos deteriorou-se

CUSTO DE VIDA NO PAÍS

A inflação homóloga caiu abaixo dos 20% pela primeira vez em quase dois anos e meio. Especialistas questionam os números do INE e lamentam que os angolanos não consigam poupar, porque a maioria dos gastos são com a alimentação.

O índice de preços no consumidor nacional (IPCN) em Angola fixou-se em 19,78% em Agosto, um decréscimo de 6,31 pontos percentuais face ao mês homólogo e o valor mais baixo desde Abril de 2020, quando atingiu os 20,8%, indicam os dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) sobre o índice de preços do consumidor do mês passado. A taxa de inflação homóloga caiu abaixo dos 20% pela primeira vez em quase dois anos e meio. É preciso recuar ao mês de Março de 2020 para encontrar um valor de inflação homóloga tão baixo.

A classe "alimentação e bebidas não alcoólicas" foi a que mais contribuiu para o aumento do nível geral de preços em Luanda com 0,2 pontos percentuais (p.p), seguida de "bens e serviços diversos" com 0,09 p.p., "comunicações" com 0,08 p.p., "habitação, água, electricidade e combustíveis" e "vestuário e calçado" com 0,06 p.p. cada.

Contas feitas, a evolução dos preços em Angola tem vindo a acompanhar uma desaceleração desde o início do ano, depois de fechar o ano passado nos 27,0%. Em termos mensais os dados do INE indicam um recuo de 0,01 pontos percentuais (pp), para os 0,70%. A classe "comunicações" foi a que registou o maior aumento de preços com 2,2%. Destacam-se ainda os aumentos dos preços verificados nas classes "bebidas alcoólicas e tabaco" com 1,9%, "vestuário e calçado" com 1,9% e "saúde " com 1,94%.

Especialistas explicam que há vários problemas com a inflação em Angola e um dos que mais se levanta tem a ver com a falta de consistência dos dados divulgados. O director do CINVESTEC, Heitor de Carvalho, garante que se os preços dos produtos alimentares baixam é difícil continuar a haver inflação, uma vez que o seu peso ronda os 55,67% nos gastos das famílias angolanas.

"Se os preços da alimentação tivessem baixado 10% (e baixaram muito mais este ano) para se atingir uma inflação acumulada de 10,21%, em Agosto de 2022, todos os restantes produtos deveriam ter subido, em média, 36%. Ora, como sabemos, nenhum produto ou serviço subiu significativamente este ano. Há um grave problema de consistência nos dados do INE que tem de ser resolvido com urgência", sublinha o economista, tendo lembrado que todos os bens importados estão a descer em virtude da taxa de câmbio. "Vejamos em Agosto: um produto que custava 1 USD em Agosto de 2021, custava em Kwanzas, no armazém do importador, 635 Kz, hoje, este mesmo produto, se considerarmos uma inflação mundial de 10%, o que é um exagero, custará 1,1 USD, mas apenas 472 Kz. Como é que os produtos não hão-de estar mais baratos se custam, em Kwanzas, menos -- 26% aos importadores?", questiona o investigador da Universidade Lusíadas de Angola.

O investigador da UAN Fernandes Wanda diz que o que se está a verificar em Angola, com base nos dados do INE, é que o ritmo do aumento dos preços tem estado a desacelerar (não significa que parou por completo, isto é, que os preços deixaram de aumentar). Está a reduzir se olharmos de mês a mês e se olharmos para Agosto de 2021, 26,0% contra Agosto de 2022, 19,78%. No entanto lembra que 55% do rendimento dos angolanos ainda é gasto com alimentação, um indicador que tem como consequência os angolanos terem deixado de fazer poupanças.

"Se as pessoas trabalham mais para comer, elas dificilmente conseguem fazer poupanças ou investimentos de longo prazo. Isto deve servir também de evidência de como o nível de vida das famílias angolanas se deteriorou, perderam a qualidade de vida", disse Fernandes Wanda.