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Economia

Propinas em 8 colégios chegam a custar 895 vezes mais do que o salário mínimo nacional

ENSINO DE "LUXO"

Em alguns colégios privados o valor da propina ultrapassa os 28 milhões Kz por ano, valores que devem ser pagos na totalidade no acto da matrícula e que não podem ser parcelados. Transporte e alimentação são pagos à parte.

As propinas mensais de oito das mais caras escolas privadas de Luanda vão dos 251 mil Kz, cobrados na Escola Portuguesa de Luanda, até aos 3,2 milhões Kz na Escola Internacional (valor cobrado aos alunos estrangeiros). No caso de um estudante nacional, a propina baixa para 1,7 milhões Kz, ainda assim o valor mais alto cobrado em Angola, segundo uma pesquisa feita pelo Expansão. As informações foram recolhidas naqueles que são conhecidos como os colégios mais caros da capital, onde o Expansão procurou saber qual o valor da propina, da alimentação, transporte, matrícula e outros emolumentos cobrados aos estudantes do ensino médio.

Os números apresentados são surpreendentes e chegam a custar 895 vezes mais que o salário mínimo nacional. São oito escolas privadas, algumas que seguem o sistema de ensino e calendário escolar de países europeus, como são os casos da Escola Portuguesa de Luanda e do colégio São Francisco de Assis, que adoptaram o programa de ensino português, o que garante equivalência no caso de transferência e acesso à universidade em pé de igualdade com os alunos daqueles países. Estes alunos beneficiam ainda de um regime especial no acesso ao ensino superior, já que podem aceder a uma quota especial para alunos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Algumas destas escolas justificam os preços elevados com o facto de a maioria dos professores serem estrangeiros e os seus salários estarem indexados a moedas estrangeiras (euro e dólares norte-americanos). Segundo a administração de algumas escolas, outra razão para o montante das propinas ser tão elevado prende-se com o facto dos alunos destas instituições terem direito a salas climatizadas e bem apetrechadas e, principalmente, acompanhamento personalizado por aluno e serviços de vigilância.

Mas é de referir que a maioria das escolas entrevistadas cobram valores adicionais pela alimentação, mais de 40 mil Kz por aluno, ou seja, nenhuma delas desconta a alimentação no valor da propina, havendo também quem cobre pela utilização do refeitório só para ingerir a refeição que levam de casa.

Os preços das propinas

O ranking das mais caras é liderado pela Escola Internacional de Luanda. Por ano, os encarregados de educação de um aluno estrangeiro que não fale a língua portuguesa têm de desembolsar 28,7 milhões Kz, o que dá 3.197.222 milhões Kz por mês, contabilizados nove meses de ensino num ano lectivo. A instituição não aceita parcelar o valor, pelo que os 28,7 milhões Kz têm de ser pagos no acto da matrícula.

Para um aluno nacional, o valor da propina anual é de 15,2 milhões Kz, montante que também deve ser pago no acto da matrícula, e que equivale a uma propina mensal de quase 1,7 milhões Kz. Apesar dos elevados valores das propinas, os alunos que frequentam esta escola não têm direito a transporte, nem alimentação.

No segundo lugar do ranking está a Escola Internacional Americana. Aqui os valores são apresentados numa tabela em dólares e a escola segue o plano curricular das escolas públicas dos Estados Unidos da América. Neste estabelecimento de ensino, à semelhança da Escola Internacional de Luanda, o valor não é parcelado, a menos que o encarregado de educação faça um pedido especial ao departamento financeiro para esse efeito, que pode ou não ser autorizado. Segundo a tabela, a escola cobra pela propina anual 63 mil USD, o equivalente em Kz a 26.946.423 no primeiro ano do ensino médio (10ª) e nos dois últimos anos são cobrados 48 mil dólares, ou seja, 26.946.423 Kz.

Mas, atenção, este valor não inclui o acto da matrícula, que custa 14 mil USD, o equivalente a 5,9 milhões Kz. À propina, caso o encarregado queira, devem ser adicionados 840 mil Kz por ano para a alimentação e 230 mil Kz por ano para o transporte.

O responsável da Associação Nacional de Ensino Particular (ANEP), António Pacavira, explica que estes preços são praticados nestas escolas, porque a maioria das propinas são pagas pelas empresas, geralmente multinacionais, e não por particulares.

Transporte e alimentação são pagos à parte

O Colégio Português do Cruzeiro é o terceiro mais caro da lista, cobrando até 7,3 milhões Kz por ano. Mas, neste caso, o valor pode ser pago em três prestações. O colégio não tem transporte, mas dá um pequeno lanche aos alunos, com a cobrança de uma taxa de 270 mil Kz por ano pelo uso das instalações do refeitório. Ou seja, se o aluno trouxer a refeição de casa terá de pagar 270 mil Kz. Este pagamento é conhecido por taxa de usufruto.

A Escola Aurora Internacional cobra mais de 4 milhões Kz por ano, o que dá 462 mil Kz/mês. Nesta instituição, a alimentação custa 70 mil Kz por aluno. A escola cobra 160 mil Kz para a realização da matrícula. O Colégio São Francisco de Assis, em Talatona, tem o preço anual da propina superior a 2,3 milhões Kz, mas permite que o valor seja parcelado, ou seja, pago de três em três meses, equivalentes a 793 mil Kz.

O Colégio Angolano de Talatona custa 2,6 milhões Kz ao ano, o que corresponde a 297 mil Kz mensais. Neste caso, não obtivemos informações quanto ao transporte e alimentação. Já no Colégio Crystal de Talatona a propina é de 275 mil Kz por mês, mais de 2,4 milhões Kz por ano, sem direito a transporte e a alimentação. Mas nesta escola a direcção avança que existe uma empresa de transportes que pode apoiar os alunos, desde que seja feito o pagamento de uma taxa, cujo valor não foi avançado.

A Escola Portuguesa de Luanda é a que tem o valor mais baixo de todos. A propina custa 251 mil Kz ao mês, o que dá 2,2 milhões por ano. O valor não inclui transporte, nem alimentação, tal e qual as restantes. Na maioria destas escolas os valores das propinas do ensino médio não diferem das do ensino primário e secundário.

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