BNA ajuda Banco Económico com 85 milhões USD mas já dá como perdido 70% do valor
Dúvidas sobre a recuperabilidade do último empréstimo concedido ao Banco Económico obrigaram o BNA a registar perdas por imparidade. Ex-BESA continua a ser o principal devedor do banco central, que ainda assim continua a "bancar" a continuidade deste banco. Especialistas questionam razões.
O Banco Económico (BE) recebeu no ano passado uma ajuda do Banco Nacional de Angola (BNA) através de um empréstimo de 77,1 mil milhões Kz, equivalente a 85 milhões USD, por via de uma operação de cedência de liquidez overnight, de acordo com o relatório e contas de 2024 do banco central, que demonstra que o ex- -BESA, que já era o maior devedor do banco central, voltou a não cumprir as suas obrigações, obrigando o BNA a dar já como perdido cerca de 70% desse valor.
Não é novo que o Banco Económico tem sido mantido vivo "ligado à máquina" através da inércia do BNA em cobrar-lhe uma dívida de 256,96 mil milhões Kz, contraída em 2016 e que continua em incumprimento nos balanços do supervisor bancário, que já inscreveu imparidades de 100% sobre esse valor. O "herdeiro" do BESA está há vários anos com problemas de liquidez, está em falência técnica pelo sexto ano consecutivo e teima em não ter uma solução, ainda que o Expansão saiba que dentro do banco central estará a ser "cozinhado" um modelo "banco bom", "banco mau", à semelhança do que se fez em Portugal no banco irmão do então BESA, o BES, que se transformou em Banco Novo.
De acordo com o relatório e contas do banco central, já em 2023 o BNA emprestou 15,5 mil milhões Kz ao ex-BESA, tendo registado uma imparidade acumulada de quase 10,2 mil milhões Kz sobre esse empréstimo sob operação de cedência de liquidez também ela overninght. Segundo o relatório do supervisor bancário, "as operações de overnight visam ceder liquidez por prazo de um dia às instituições financeiras bancárias, e são concedidas a exclusivo critério do BNA, mediante solicitação formal da instituição financeira, nos termos regulamentares, sendo realizadas com o compromisso de recompra dos activos dados em garantia".
Não são conhecidos os critérios que o BNA utiliza para decidir que bancos têm, ou não, acesso a estas cedências de liquidez, mas em 2024, e apesar de reiteradamente o BE ser um mau pagador, voltou a emprestar-lhe 77,1 mil milhões Kz, operação que vários especialistas admitem ser uma espécie de "injecção" de capital disfarçado de empréstimo. "Dada a situação do Banco Económico, o BNA utiliza instrumentos de intervenção não convencionais para estar a dar liquidez ao banco. Antes, interveio com operações de redesconto. Acredito que dada a situação do BE, que não tem acesso a liquidez via depositantes ou accionistas, o BNA faz estas cedências porque é a única forma de o banco ainda estar aberto, consciente até de que muito dificilmente irá recuperar estes valores", admite um alto quadro da banca nacional ao Expansão.
O economista Heitor Carvalho defende que empréstimos desta natureza não fazem "sentido absolutamente nenhum". "O BNA deve usar este exemplo [de incumprimento reiterado] para fechar o assunto do fundo de liquidação, deixar o banco falir e responsabilizar efectivamente os accionistas", admite.
Aliás, esta é a questão central para vários dos especialistas que falaram com o Expansão. Afinal, por que é que o banco continua sem solução, a funcionar como uma espécie de ilha no sistema financeiro nacional, sendo que apenas o BNA o considera banco sistémico quando a maior parte da banca, especialistas e até o FMI entendem que já não deveria fazer parte da lista dos "too big to fail". "Parece que ninguém quer mexer muito no banco para não se descobrir o que esteve por trás da falência e o descaminho que foi dado ao dinheiro", sugere um administrador de um dos maiores bancos nacionais. "Ninguém quer desligar o banco e vão-se dando alguns placebos para o manter vivo e manter o resto da banca em suspenso", admite outro gestor de topo.
Leia o artigo integral na edição 825 do Expansão, de Sexta-feira, dia 09 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)