Cinco ligas vendem mais de 8 mil milhões de euros em direitos televisivos
O valor dos direitos da Premier League está muito acima das outras ligas, e o processo de distribuição é muito mais equilibrado. O último classificado, Sheffield United, recebeu 132 milhões EUR, enquanto o Bayern de Munique recebeu apenas 92 milhões EUR, o Inter de Milão 91 milhões e o Benfica 40 milhões.
As verbas dos direitos televisivos são a maior fatia dos orçamentos da quase totalidade dos clubes de futebol em todo o mundo, sendo que quando olhamos para as cinco ligas mais importantes - Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália e França - este valor atingiu na época passada mais de 8 mil milhões de euros (ver tabela).
Os contratos são hoje negociados em conjunto por todos os participantes de cada campeonato, sendo que mesmo os grandes clubes perceberam que podiam ganhar mais dinheiro com esta fórmula. O maior exemplo é o Real Madrid, que recebia cerca de 140 milhões de euros quando as negociações eram individuais, e hoje, com as negociações a serem feitas pela liga espanhola, factura quase 160 milhões EUR.
As ligas negoceiam separadamente os direitos televisivos para o próprio país e os direitos internacionais com grandes empresas de audovisuais que funcionam como plataformas, que depois os revendem a outros canais nacionais ou espalhados pelo mundo. A Sky e a DAZN, plataforma internacional de streaming desportivo do empresário norte-americano Len Blavatnik, têm vindo a garantir os contratos com as maiores ligas. Juntos têm os direitos da liga alemão e italiana até 2029, a DNZ em associação com a Movistar explora os direitos da liga espanhola (até 2027) e em associação com a Bel N tem contrato com a liga francesa até 2029. Já a Sky em associação com TNT (empresa formada pela BT e pela Warner TV), tem os direitos da liga inglesa.
Com excepção da liga espanhola, todas as restantes assinaram recentemente contratos de cedência dos direitos televisivos, e já aparecem os primeiros sinais da crise. Na liga italiana os direitos nacionais cairam 3%, de 930 para 900 milhões EUR/época, em França a queda foi de 60%, de 578 para 228 milhões EUR/época, com uma cláusula de saída para a DAZN que pode abandonar o acordo na próxima época se o número de assinantes em França não chegar aos 1,5 milhões. Nos primeiros seis meses este valor foi apenas de 100 mil. Já a liga alemã conseguiu um aumento de 2% face ao contrato anterior, mas é importante referir que a cedência direitos nacionais abranje também a Suíça, Áustria, Luxemburgo, Liechtenstein, parte oriental da Bélgica onde se fala alemão e parte noroeste de Itália.
Hoje a grande aposta das ligas passa por aumentarem os direitos televisivos internacionais, pois as verbas dos mercados internos estão estabilizadas e não devem crescer nos próximos anos. A liga inglesa vai à frente neste processo, 50,3% do valor dos direitos já é feito fora do Reino Unido, seguindo a espanhola com 47,7% do total. Mas em termos de valores, a diferença ainda é muito grande - os direitos internacionais de Inglaterra foram de 1.623 milhões EUR e os de Espanha apenas 835 milhões EUR. O mercado americano, asiático (China, India, Coreia do Sul e Japão são os países mais importantes), sul-americano, e mais recentemente, o africano, são as apostas destas ligas. Recorde-se que a La Liga e a Premier League abriram escritórios de representação em dezenas de países para promover o seu campeonato e potenciar as audiências para os seus jogos. Ainda muito longe desta expansão internacional está a Bundesliga, apenas 14,8% das receitas vêem de direitos internacionais, a Série A (18,1%) e a Ligue 1 (21,6%).
Distribuição das verbas
No entanto, cada uma das ligas tem regras próprias para a distribuição das verbas, onde os maiores clubes tentam sempre valorizar a sua posição, sendo que a Liga Inglesa neste aspecto continua a ser a mais equilibrada, onde o clube que mais recebe não pode ficar com um valor 1,5 vezes acima do que recebe menos nos direitos nacionais, e 1,8 vezes nos direitos internacionais. Esta é uma fórmula que mantém os plantéis dos clubes da Premier League mais equilibrados, o que origina jogos mais competitivos e com maior espectáculo, o que leva ao aumento dos direitos televisivos de ano para ano, que se reflecte depois nos orçamentos de todas as equipas.
Na época passada, de acordo com os valores avançados pelo jornal Marca, os direitos televisivos da Premier League foram de 3.224 milhões de Euros, sendo 1.601 milhões EUR são nacionais e 1.623 milhões EUR são internacionais. Para se ter uma ideia da dimensão da Premier League em termos de direitos televisivos, o último classificado da temporada passada, o Sheffield United, recebeu 130 milhões EUR, mais do que o Bayer de Munique (91 milhões EUR) e que o Inter de Milão (90 milhões), clubes que mais receberam na Alemanha e Itália. Apenas quatro clubes em todo o mundo fora de Inglaterra - PSG, Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid - receberam mais que o último classificado do campeonato inglês. Por exemplo, a equipa portuguesa que mais recebe em direitos é o Benfica com um valor de 40 milhões EUR, quase 3,5 vezes menos.
Quando se analisa o funcionamento da distribuição da receita televisiva em Inglaterra, há duas particularidades que devem ser lembradas: nem todos os jogos de todas as equipas são transmitidos, e aos sábados entre as 14h15 e 17h15 não há qualquer transmissão de futebol em nenhum canal (da Premier League ou de outra liga), para incentivar o público a ir aos campos onde são disputados jogos das categorias inferiores.
Os direitos televisvos nacionais da Premier League são distribuídos da seguinte forma: 50% distribuídos igualmente entre os 20 clubes, 25% são distribuídos com base em méritos desportivos, de acordo com a classificação, e os restantes 25% distribuídos com base no número de jogos transmitidos durante a temporada, sem levar em conta a audiência que elas geram. Como exemplo, para um total de 38 jornadas, o Manchester City teve 28 partidas transmitidas internamente, enquanto o Arsenal teve 31 (foi a primeira vez que equipa teve mais de 30 partidas transmitidas pela televisão). Cada clube negoceia, depois, individualmente com as redes outras formas de transmissão.
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