ENI estende testes agrícolas a 7 províncias e 2 mil camponeses
Neste momento, decorrem os estudos de viabilidade económica que analisam a instalação, em Luanda, de uma biorrefinaria para transformar localmente o óleo vegetal retirado do girassol e do rícino e fabricar no País os biocombustíveis HVO (utilizado em automóveis e barcos) e SAF (aviação).
Depois de uma primeira tentativa, sem sucesso, com a Biocom - Companhia de Bioenergia de Angola, a ideia de produzir biocombustíveis no País, agora a partir das culturas de girassol e rícino, está a ser concretizada pela ENI, que já estendeu a fase-piloto do seu programa agrícola local a sete províncias, 5 mil hectares e cerca de 2 mil produtores nacionais. A vertente produtiva arrancou inicialmente nas províncias de Malanje, Cuanza Sul, Huambo e Cuando Cubango, ainda em 2024, e ao longo de 2025 estendeu-se às províncias do Uíge, Cuanza Norte e Bié. Modelo de negócio não inclui a aquisição de terras ou direitos fundiários em Angola.
O objectivo principal da fase- -piloto é identificar as sementes mais produtivas de girassol e rícino - duas culturas utilizadas em diversas aplicações industriais, cosméticas e farmacêuticas - e assinalar as estirpes mais adequadas aos objectivos da empresa e às condições local de produção agrícola. Devido à inexistência de uma biorrefinaria em Angola, o produto intermédio está a ser exportado para Itália, onde a ENI detém várias refinarias.
Em Angola, a produção da matéria-prima que dá origem ao óleo vegetal hidrotratado (da sigla HVO - Hydrotreated Vegetable Oil, em inglês, que pode ser utilizado em iluminação pública, automóveis ligeiros e pesados e embarcações marítimas) e ao combustível sustentável para a aviação (ou SAF - Sustainable Aviation Fuel, em inglês), ainda é feita em volumes pequenos.
"Tal como aconteceu noutros países, começámos por implementar uma espécie de fase experimental, para perceber onde está o maior potencial produtivo", explicou Guido Brusco, director de Operações de Recursos Naturais Globais e director-geral da ENI, em Luanda, durante a conferência sobre petróleo e gás que decorreu nos dias 3 e 4 de Setembro.
"Também não estamos à procura de um terreno qualquer. Queremos utilizar terrenos que não entrem em conflito com a cadeia alimentar - preferencialmente terrenos marginais, que não estão a ser utilizados ou não podem mesmo ser utilizados para produzir alimentos", disse o actual número 2 da petrolífera de origem italiana.
O plano de investimentos da ENI em Angola indica que, nos próximos quatro anos, a produção de girassol e rícino deva atingir os 60.000 hectares.
"Em 2025, chegámos aos 5.000 hectares de área cultivada, com o envolvimento de 2.000 agricultores. Queremos ir aumentando de forma gradual. Só para dar um exemplo: começámos no Quénia, em 2022, com uma produção muito limitada e poucos agricultores associados. Neste momento, já temos 100.000 agricultores a trabalhar para nós", assinala Guido Brusco.
O modelo operacional que a ENI aplica no Quénia, Congo e Moçambique (e que também está a ser implementado em Angola) não prevê a posse da terra, direito que permanece com os agricultores locais.
"Contratamos o que chamamos de agregadores, que funcionam como uma espécie de cooperativa", sublinhou Guido Brusco.
Em função da capacidade dos parceiros, caso seja necessário, a ENI pode também fornecer insumos agrícolas, como sementes e material de trabalho, e assistência técnica para impulsionar a produtividade. Os produtores mais avançados, que já possuem tractores, acesso à água e a outros elementos fundamentais, só precisam de garantir as sementes e, em alguns casos, os fertilizantes mais adequados.
"No final, os produtores vendem-nos as sementes, que depois são prensadas, para que seja possível retirar o óleo vegetal. Em algumas áreas menos desenvolvidas, fornecemos tractores e máquinas agrícolas aos agregadores. É um projecto muito flexível", defendeu Guido Brusco.
Biorrefinaria em Luanda
Para fechar a cadeia de valor dos biocombustíveis em Angola, a ENI e a Sonangol assinaram um memorando de entendimento, em 2022, para estudar a possibilidade de instalar uma biorrefinaria em Angola.
"Ainda estamos a concluir os estudos de viabilidade, mas, se o projecto for economicamente viável, a biorrefinaria será construída em Luanda, por vários motivos", explicou Guido Brusco.
"Primeiro, para aproveitar a infraestrutura existente nesta região. Segundo, porque do ponto de vista logístico, tanto a matéria- -prima, como a produção estão próximas do Porto de Luanda e do aeroporto. Além disso, o subproduto, que é o biocombustível, ou SAF, terá o mercado próximo, porque o aeroporto está aqui e Luanda também conta com um número considerável de viaturas", defendeu o engenheiro mecânico de formação, que trabalha na ENI desde 1997, com passagem por Angola.
Leia o artigo integral na edição 843 do Expansão, de Sexta-feira, dia 12 de Setembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)