Evolua | Um novo olhar sobre metas e desempenho
Medir metas e desempenho não é apenas uma questão de números. É, antes, uma prática estratégica que exige clareza de propósito, maturidade emocional e alinhamento de valores. Quando o foco recai apenas sobre métricas isoladas, corremos o risco de promover ambientes tóxicos, onde a pressão substitui a inspiração.
Conheci recentemente um profissional promissor que, ao integrar uma equipa liderada por alguém desalinhado com os valores da empresa, começou a enfrentar dilemas éticos constantes. A sua entrega começou a decair, a motivação diminuiu e, aos poucos, o seu desempenho deixou de reflectir o seu verdadeiro potencial. O problema não era técnico era humano. Faltava coerência entre os discursos e as práticas, entre o que se exigia e o que se vivia. Sem alinhamento de valores, o desempenho torna-se frágil e o ambiente torna-se desgastante.
Esse cenário mostra-nos que o desempenho sustentável não pode ser construído em terrenos frágeis. É preciso criar contextos onde as pessoas se sintam seguras para serem autênticas, errar, aprender e melhorar. Ambientes onde metas não sejam castigos, mas pontos de referência para evolução.
Um ambiente organizacional em constante transformação, onde as exigências por resultados e a velocidade de resposta aos desafios são cada vez maiores, torna-se urgente repensar a forma como definimos, acompanhamos e atingimos metas. A proposta de evoluir não se resume ao crescimento técnico ou ao cumprimento de indicadores, trata-se de cultivar uma nova mentalidade mais consciente, mais alinhada e, sobretudo, mais humana.
Medir metas e desempenho não é apenas uma questão de números. É, antes, uma prática estratégica que exige clareza de propósito, maturidade emocional e alinhamento de valores. Quando o foco recai apenas sobre métricas isoladas, corremos o risco de promover ambientes tóxicos, onde a pressão substitui a inspiração, e o medo se impõe à criatividade. Evoluir, neste contexto, é adoptar uma abordagem mais intencional sobre o que queremos alcançar, como queremos alcançar e por que isso realmente importa.
A gestão baseada em objectivos e resultados-chave como os OKRs, surge como um dos modelos mais eficazes para estruturar essa nova visão. Mas a ferramenta, por si só, não é suficiente. É necessário um compromisso colectivo com uma cultura de crescimento, onde cada colaborador compreende o seu papel, os impactos do seu trabalho e o valor de se desenvolver de forma contínua.
Nesta jornada, o autoconhecimento é uma peça-chave. Quando um profissional entende as suas motivações internas, as suas fragilidades e o seu potencial, torna-se mais preparado para lidar com metas de forma saudável. A psicologia aplicada ao contexto corporativo, como defende a neuropsicóloga Ana Barrigão, mostra-nos que o verdadeiro desempenho nasce do equilíbrio entre razão e emoção. Pessoas alinhadas emocionalmente tomam decisões mais assertivas, colaboram com mais eficácia e resistem melhor à pressão.
Gestão das emoções, domínio do ego e disciplina pessoal são pilares inegociáveis desta nova era. Um ambiente corporativo que deseja evoluir precisa incentivar práticas que fortaleçam a maturidade emocional e a responsabilização individual. Isso significa ir além da produtividade momentânea e investir na construção de competências duradouras: pensamento crítico, empatia, escuta activa e aprendizado contínuo.
Evoluir, por fim, é entender qmue metas e desempenho só fazem sentido quando servem à construção de algo maior: uma cultura organizacional saudável, produtiva e intencionalmente humana. É preciso medir, sim, mas com consciência. Avaliar, sim, mas com critérios que respeitem as pessoas. A performance, quando vista com este novo olhar, deixa de ser um peso e transforma-se numa oportunidade real de crescimento para o indivíduo, para as equipas e para a organização.
*PAULA DE PAULA, Formadora | Analista comportamental e de carreira