Índice de confiança para o sector do turismo caiu 28 pp nos últimos dois anos
Apesar de todos os esforços que têm sido feitos para o desenvolvimento do turismo em Angola, os empresários têm vindo a perder a confiança neste sector. A queda do poder de compra pode ser uma das explicações.
Desde que as medidas de combate à Covid-19 foram sendo levantadas, no início de 2021, que o Índice de Confiança do sector do turismo entrou em terreno positivo, depois de seis anos com valores negativos, o que representava uma nova forma de abordagem ao desenvolvimento do sector. Havia uma esperança que seria a partir dessa altura que o turismo iria assumir uma papel significativo na actividade económica do País, ideia alimentada pelos empresários e que se reflectia nos números deste índice. No I trimestre de 2023 atingiu o seu valor mais alto, 28 pp, mas a partir daí tem vindo a baixar, culminando no IV trimestre de 2024 com um valor de zero. Ou seja, existem tantos empresários optimistas como pessimistas face ao desenvolvimento a curto prazo do sector.
Esta queda pode parecer estranha, até porque foram tomadas algumas medidas importantes - abolição dos vistos para mais de 100 países, participação em feiras internacionais ou passagem pelo País de mais navios cruzeiros - o que levou o Expansão a tentar entender junto do sector a que se deve este estado de espírito. Ramiro Barreiro, presidente do conselho da Associação de Hotéis e Resorts de Angola (AHRA) deu-nos a sua opinião.
"Penso que a justificação tem a ver com a queda do poder de compra, com a consciência de que existe menos dinheiro disponível pelas famílias e, por isso, menos capacidade para viajar, ir comer fora ou visitar pontos turísticos. O turismo está sempre dependente da dinâmica da economia e, por isso, é necessário que esta também cresça. Por exemplo, se o Estado pagasse os seus atrasados às empresas nacionais, se houvesse mais dinheiro a circular, se as famílias sentissem esse conforto, certamente que o turismo também iria beneficiar", começa por nos dizer, acrescentando: "Também existe o constrangimento do estado das infraestruturas, nomeadamente as estradas, o que limita a mobilidade. Todos estamos de acordo que Luanda é o centro do fluxo turístico do País. Mas, por exemplo, se se quiser ir passar um fim-de-semana ao Namibe, não será por estrada certamente. E as passagens aéreas também são muito caras. Depois os custos com o hotel e alimentação. Existem vários problemas que é necessário resolver, para potenciar esta actividade".
Apesar da tentativa de colocar o sector como uma das prioridades da nossa economia, é necessário garantir que o que está à volta da circulação de turistas funciona. Além dos acessos, recordar por exemplo o estado das estradas para chegar às Quedas de Kalandula ou às Pedras Pungo Adongo, é também necessário garantir serviços de saúde e segurança a quem viaja. Como sabemos, relativamente ao primeiro ainda existem bastantes lacunas, o que afasta fundamentalmente os turistas estrangeiros ou mais idosos e, sobre o segundo, não esquecer que existem dezenas de vídeos a circular nas redes sociais sobre "comportamentos questionáveis" das nossas autoridades.
Outro aspecto a melhorar, é a abordagem correcta da realidade do sector, única forma para garantir o seu crescimento. Continua a contabilizar-se os vistos de turismo como turistas que visitam o País, o que dá uma ideia errada do que está a acontecer, porque muitos dos vistos de turismo são utilizados para visitas de trabalho, trabalhos de consultadoria ou outras actividades profissionais pontuais. Com o desejo de mostrar números, de mostrar serviço, passa-se uma ideia que não é correcta.
Por fim, é necessário também avançar bastante na forma como tratamos os turistas no País. Começa no aeroporto e fronteiras terrestres, onde muitas vezes as autoridades e os trabalhadores da estrutura complicam propositadamente a entrada e estadia, estende- -se às ruas, as autoridades têm de ter uma mentalidade de ajuda e não um comportamento altivo e intolerante, e aos restaurantes e hotéis, onde tem de se apostar fortemente na formação dos profissionais para que estes tenham uma mentalidade de "serviço".