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Empresas & Mercados

Investimento privado brasileiro continua longe de chegar a Angola

SEGUNDA VISITA EM SEIS MESES DO MINISTRO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL PROCURA REFORÇAR PARCERIAS

Apesar do interesse dos dois países no aprofundamento das relações comerciais, os problemas associados ao ambiente de negócios no País e as dificuldades políticas do lado brasileiro para a criação de linhas de crédito em Angola continuam a impedir o surgimento de novas iniciativas.

Carlos Fávaro, ministro brasileiro da Agricultura e Pecuária, voltou outra vez a Luanda, depois da visita oficial que efectuou há apenas seis meses, no início de Dezembro do ano passado. Desta vez, veio acompanhado de cerca de 20 produtores brasileiros dos sectores de grãos, cereais e sementes, para "avaliar a possibilidade de eventuais parcerias ou instalação de algumas empresas". As visitas e missões empresariais brasileiras (e de outros países) sucedem-se, mas o investimento privado teima em não chegar nos níveis esperados.

No caso específico das relações comerciais com o Brasil, apesar da (nova) abertura em relação a Angola promovida pelo regresso ao poder do Presidente Lula, o foco está agora no investimento no sector agrícola, onde aquele país possui elevada experiência e empresas competitivas.

No entanto, tal como acontece noutros sectores, os problemas estruturais que afectam a economia e a política nacional, que se reflectem na elevada burocracia, escassez de serviços básicos (como água e energia, que são fundamentais para alavancar o sector agrícola) e na insegurança jurídica que afecta todos os processos fundiários e de acesso à terra em Angola, continuam a travar o desenvolvimento do sector privado.

"Numa boa parceria com Angola, a gente pode transferir tecnologia, pode vender algum produto - e também podemos comprar fertilizantes. Foi esse o objectivo da nossa reunião e da nossa estadia em Angola. Os empresários também estão à procura dessas oportunidades recíprocas. Para comprar e para vender", disse Carlos Fávaro em entrevista ao Expansão, realizada durante a sua visita em Dezembro de 2024.

O governante brasileiro sublinhou, na mesma ocasião, que os dois países já tiveram um fluxo comercial de cerca de 2,4 mil milhões USD por ano. "E hoje é 1,4 mil milhões, ainda muito favorável a Angola", disse Carlos Fávaro. Em 2024, segundo os dados publicados pela Administração Geral Tributária (AGT), Angola importou produtos no valor de 574 milhões USD e exportou para o Brasil mercadorias avaliadas em 1.122 milhões USD.

A balança comercial entre os dois países, em 2024, totalizou 1.696 milhões USD e continua a ser claramente favorável a Angola, factor que também motiva o Brasil a procurar caminhos para equilibrar esta relação comercial.

O efeito Lava Jato

Os primeiros investimentos em Angola com origem no Brasil aconteceram na fase de construção da barragem de Capanda (ainda nos anos de 1980, quando começaram os trabalhos de construção realizados pela antiga Odebrecht), mas estenderam-se de forma decisiva, sobretudo no pós-2002, com o apoio da linha de crédito disponibilizada pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social. A maioria dos projectos foram implementados no sector de infra-estruturas (com excepção da Biocom, em Malanje, que produz açúcar), onde foram aplicados 4 mil milhões USD em financiamentos do BNDES entre 2002 e 2016.

Estes processos foram depois colocados em causa a partir do Brasil, onde a disputa política acirrou o debate sobre a actuação do BNDES. Também a opinião pública no Brasil começou a questionar o destino dos financiamentos. Este contexto deu origem a graves problemas judiciais, que resultaram no processo Lava Jato, com várias condenações por crimes graves. Alguns destes factos estavam relacionados com as actividades das empresas de construção brasileiras em Angola, que em determinado momento optou por pagar de uma vez a dívida externa com o Brasil.

Leia o artigo integral na edição 825 do Expansão, de Sexta-feira, dia 09 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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