Lucros da banca comercial crescem 8% para 302,2 mil milhões de kwanzas no I trimestre
O resultado é fundamentalmente suportado pelos rendimentos com títulos de dívida pública, o principal instrumento de investimento da banca. O BAI teve o melhor desempenho, além do título de maior em activos passa a ser também o campeão dos lucros e líder no crédito, deixando para trás o BFA e o BIC, respectivamente.
Os 21 bancos comerciais que operam em Angola registaram um lucro conjunto na ordem dos 302,2 mil milhões Kz no primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 8% face aos 279,9 mil milhões contabilizados no mesmo período do ano passado, de acordo com cálculos do Expansão com base nos balancetes trimestrais das instituições bancárias. Contas feitas, a banca comercial lucra mais 22,3 mil milhões Kz em relação ao período homólogo. Se os números forem convertidos em dólares, à taxa de câmbio de cada período, o lucro conjunto da banca cai 1%, ao passar de 336,1 milhões USD para 331,3 milhões (-4,8 milhões USD).
O resultado é fundamentalmente suportado pelo retorno com os títulos de dívida pública, o principal instrumento de investimento da banca angolana. Só para termos a ideia, os investimentos em títulos de dívida pública, que representam 33% do activo total dos bancos, cresceram na mesma proporção que os lucros da banca (8%) para 7,9 biliões Kz (+ 565 mil milhões).
A isto associa-se também o crescimento das aplicações em bancos centrais, instituições de créditos e fundos de investimento que registaram um crescimento de 15% ao passar de 3,0 biliões Kz para 3,4 biliões, ou seja, foram mais 450,8 mil milhões Kz de aplicação de liquidez nestas instituições, que será o BNA, e que remunera estes depósitos, uma medida que acaba por estrangular o crescimento económico, em linha com o combate à inflação. Assim, os bancos continuam a preferir "paraísos" mais seguros para os seus investimentos como os depósitos no BNA ou dívida pública em detrimento do crédito à economia. As razões são as mesmas: o elevado malparado do País que no final de 2024 era de 19,2% sobre o crédito bruto da banca.
Para o economista e consultor financeiro Alberto Vunge, as razões para que os bancos aumentem os investimentos em dívida pública continuam a ser as mesmas: "A dívida pública continua a ser o investimento que melhor cobertura apresenta aos riscos que as incertezas que grassam a economia. Por outro, enquanto a banca acreditar que o Estado continuará e emitir dívida, os seus Comités de Gestão de Activos e Passivos vão, por inércia, alocar recursos à dívida pública, sem sentirem a necessidade de operarem a uma reengenharia nos seus modelos de negócios". Alberto Vunge acrescenta que "os tentáculos da dívida pública" estão por todos os lados, inclusive nos mercados de capitais, do qual se esperava que fosse ser o veículo alternativo que daria à economia as soluções que não encontra na banca tradicional.
"Andamos todos a fazer o chamado "flight to quality" [fuga para a qualidade]. E, no caso da banca, a evolução da rigidez do governo prudencial do risco de crédito, fruto das reformas do BNA, colocam aos bancos maiores exigências em termos de necessidade de capital para alocar recursos em activos de risco", acrescentou.
BAI teve o melhor desempenho
Assim, a empurrar o lucro para cima está o BAI, que regressou ao topo do pódio depois de ser ultrapassado pelo BFA no ranking dos mais lucrativos em 2024. O banco liderado por Luís Lélis viu os lucros dispararem 194% para 101,6 mil milhões Kz (+67,0 mil milhões Kz) apenas no primeiro trimestre, ou seja, os lucros quase triplicaram.
Segue-se precisamente o BFA, que registou um aumento de 31%, ao passar de 47,7 mil milhões Kz para 64,4 mil milhões (+16,7 mil milhões) e o Standard Bank, com um lucro de 33,6 mil milhões Kz (+12,5 mil milhões).
Ainda no grupo dos "grandes lucros" está o banco Económico, que embora tenha registado uma queda de 77% nos lucros para 21,2 mil milhões (- -69,4 mil milhões) obteve resultados positivos e entra para lista dos maiores lucros no primeiro trimestre. Mas isto não é novo, o ex- -BESA também iniciou o primeiro trimestre do ano passado com lucros de 90 mil milhões Kz (o maior entre 21 bancos) e fechou o exercício de 2024 com prejuízos de 5,5 mil milhões Kz. O Keve vem logo a seguir, com lucros de 20,5 mil milhões Kz (+8,1 mil milhões). Juntos, os cinco bancos concentram 80% do lucro total da banca comercial registado no primeiro trimestre do ano.
Leia o artigo integral na edição 827 do Expansão, de Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)