VTB África fecha as portas em Angola e Banco Económico ainda sem solução
As sanções impostas à Rússia dificultaram as operações das instituições financeiras russas espalhadas pelo mundo, o que, por um lado, acabou por dificultar também as operações do VTB em Angola.
O banco VTB África vai encerrar as suas actividades em Angola, por "decisão dos accionistas", avançou esta semana o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), Manuel Tiago Dias, em resposta ao Expansão durante o Comité de política Monetária.
"Por decisão dos accionistas reunidos em assembleia-geral de accionistas do banco, o VTB foi extinto e vai deixar de fazer parte dos bancos comerciais que operam na nossa praça", garantiu o governador.
Tiago Dias já tinha "deixado a porta aberta" para a saída do VTB África do sistema financeiro angolano, em Janeiro, ao afirmar que o banco de origem russa ainda não tinha feito [o aumento de capital] porque o que estava "em análise é a continuidade ou não da operação do VTB no mercado bancário angolano".
Em cima da mesa estava o facto de o banco continuar a operar com um capital social avaliado em 7,5 mil milhões Kz, abaixo do mínimo de 15 mil milhões Kz exigido pelo banco central, já que os accionistas dos bancos comerciais em actividade estavam obrigados a ajustar o capital social regulamentar até 05 de Outubro de 2023. Contas feitas, já se passaram 16 meses e o banco não fez o ajuste regulatório.
Mas o facto é que as sanções impostas à Rússia dificultaram as operações das instituições financeiras russas espalhadas pelo mundo, já que muitas delas não conseguem fazer transferências em dólares ou em euros, o que, por um lado, acabou por dificultar também as operações do VTB em Angola, que estão muito ligadas ao negócio dos diamantes.
A título de exemplo, as sanções à Rússia provocaram problemas à multinacional russa da Alrosa, sócia na Sociedade Mineira de Catota, que já apresentou dificuldades para movimentar capital para fora de Angola, nomeadamente a transferência de dividendos, mas também o pagamento de salários em moeda estrangeira a trabalhadores de nacionalidade russa e de fornecedores estrangeiros de equipamentos e serviços. Até ao início da guerra na Ucrânia, essas transferências eram feitas através da sucursal em Luanda do banco russo VTB que, entretanto, está afastado do sistema Swift e, por isso, não pode transaccionar em dólares ou euros.
Estas dificuldades acontecem desde 2022 e, ao que o Expansão apurou, a multinacional tentou outras vias, como o recurso ao VTB na África do Sul, que acabaram por não dar resultados. Assim, o banco tem registado prejuízos nos últimos três anos: 2022 (-6,5 mil milhões Kz), 2023 (-2,5 mil milhões Kz) e 2024 (- -670,3 milhões Kz). Feitas contas, o banco acumulou 9,7 mil milhões Kz de perdas.
Banco Económico ainda sem solução
Mais uma vez, o banco central não mostrou uma solução clara sobre o Banco Económico e argumenta que o caso do Ex-besa já é conhecido e não terá impacto na próxima avaliação que o FMI e o Banco Mundial vão fazer ao sistema financeiro nacional a pedido do BNA.
"A situação do Económico é conhecida quer pelo Banco Mundial, quer pelo FMI. O FMI tem realizado missões com frequência ao nosso País e nós temos permanentemente interagido com o FMI, por isso não haverá nenhuma surpresa relativamente à situação do Banco Económico", disse o governador sem apontar qual será e o desfecho do banco.
Mas o Económico recebeu no ano passado uma "ajuda" do Banco Nacional de Angola (BNA) através de um empréstimo de 77,1 mil milhões Kz, equivalente a 85 milhões USD, por via de uma operação de cedência de liquidez overnight, que demonstra que o ex - BESA, que já era o maior devedor do banco central, voltou a não cumprir as suas obrigações, já que o banco central já deu como perdido cerca de 70% desse valor.
"Este mecanismo é que permite o funcionamento dos diversos subsistemas de pagamentos, em particular o subsistema do multicaixa em 24/24 horas ao dia, incluindo os finais de semana. Para permitir que o mecanismo funcione 24/24 horas, nós decidimos pela aprovação deste instrumento para que os bancos que tenham alguma dificuldade de liquidez não coloquem em perigo o normal funcionamento dos diversos subsistemas. E os bancos, para tal, constituem um colateral junto do BNA. Foi o que aconteceu com o Banco Económico. O financiamento foi concedido no âmbito do funcionamento do sistema de pagamentos de Angola e temos um colateral correspondente a este valor", apontou.
O Económico está há vários anos com problemas de liquidez, está em falência técnica há seis anos e ainda não tem uma solução, ainda que o Expansão saiba que dentro do banco central estará a ser "cozinhado" um modelo "banco bom", "banco mau", à semelhança do que se fez em Portugal no banco no então BESA, o BES, que se transformou em Banco Novo.
Edição 827 do Expansão, de Sexta-feira, dia 23 de Maio de 2025