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Empresas & Mercados

E-commerce vive de kinguilas digitais e abrandou com crise cambial

COMPRAS INTERNACIONAIS

Prática que aumentou com a chegada da pandemia da Covid-19 estava a ganhar espaço no mercado dos pequenos negócios. O aumento da necessidade de compras internacionais em lojas online fez crescer a prática de comercialização ilegal de cartões virtuais descartáveis com custos elevadíssimos.

Muitos empreendedores do ramo do e-commerce que usam lojas online para adquirir mercadorias no exterior do País e revender em Angola viram-se obrigados a pararem os seus negócios por conta da depreciação em 38% do kwanza face ao dólar que se verificou no segundo trimestre deste ano, entre Maio e Junho. O ocorrido deve-se ao facto de as compras nestas plataformas serem feitas em moeda estrangeira, nomeadamente o Euro e o Dólar. Mas com a estabilização cambial há três meses, muitos já estão a retomar as actividades, ainda que os preços sejam hoje bastante superiores aos praticados anteriormente.

Com a globalização que a internet permite hoje, os hábitos de consumo também foram mudando. Além dos comerciantes estas lojas virtuais também são usadas para aquisição de bens para uso pessoal. Nesses casos, o Expansão constatou relatos de constrangimentos para receber no País encomendas que foram feitas antes da depreciação cambial e que ainda em processamento tinham de ser compensadas para cobrir as diferenças à medida que o valor da moeda oscilava.

Quanto ao pagamento, os meios vão desde cartões físicos aos virtuais. Os físicos são os cartões Visa (pré-pagos e de crédito) e os Mastercard, todos eles emitidos por bancos angolanos. Quanto aos virtuais, não há qualquer entidade nacional e emiti-los, pelo que, acabam por recorrer a uma espécie de kinguilas digitais que têm contas em bancos fora do país e que conseguem arranjar esses cartões cobrando uma comissão. Apesar da insegurança que este procedimento acarreta, este acaba por ser o procedimento mais utilizado por estes comerciantes para a compra de mercadorias a lojas virtuais do estrangeiro. Tratam-se de cartões como o Wise, o PayPal, ou cartões Mastercard (virtual) descartáveis.

Além de inseguros, ficam muito caros, já que quem os disponibiliza cobram valores avultados. Só para "criar" um desses cartões cobram entre 7.000 Kz a 10.000 Kz, bem como um spread elevado pelas operações. Ou seja, a taxa de câmbio é até superior às que as kinguilas cobram. Só para se ter uma ideia, esta quarta-feira a taxa de câmbio praticada por estes "facilitadores" era de 1.200 Kz por dólar e 1.500 por euro, o que representa um valor 45,4% e 71,4% acima da taxa de câmbio média do Banco Nacional de Angola (BNA).

Fábio de 24 anos, adquiria através das plataformas Swappie e Back Market, telemóveis e computadores provenientes dos Estados Unidos da América e Portugal para revender em Angola. Para efectuar a compra, usava cartões internacionais como Visa, Mastercard e PayPal.

Segundo contou ao Expansão, viu-se obrigado a parar a actividade por diversos factores, mas o principal foi a desvalorização cambial e o aumento do custo de vida. "Actualmente poucas pessoas têm interesse ou até têm, mas não têm poder de compra suficiente para adquirir determinados produtos. Por exemplo, um telemóvel que revendia a cerca de 500 mil Kz, hoje custa cerca de 700 mil Kz", sublinhou. Entretanto, com a forte desvalorização acabou por perder dinheiro com estes negócios.

Também Maria, que comprava maioritariamente acessórios como relógio, pulseiras e brincos provenientes da China nas plataformas Shein e Alibaba, foi obrigada a suspender o negócio devido ao afundanço do kwanza. Explicou ainda que os preços eram definidos de acordo com os custos de aquisição dos bens, e as vendas foram muito afectadas pelo que decidiu esperar pela estabilização da moeda nacional para prevenir perdas inesperadas. Para realizar as compras recorria a um amigo no estrangeiro que emitia cartões virtuais descartáveis (Mastercard), a quem pagava elevadas comissões.

Leia o artigo integral na edição 746 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Outubro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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