Conheça melhor a líder das vendas de viagens online na Europa
A Edreams é utilizada maioritariamente por internautas das classes média e alta com idades de 25 a 45 anos, a Edreams Odigeo vê chegada a hora de ser oferecida aos investidores que apostam na bolsa. Disponível em 42 países, no nosso continente está em Marrocos, Egipto e África do Sul, permitindo-nos partir à descoberta de África e do resto do mundo.
Vá a sapo.ao e pesquise por voo Luanda-Maputo… ou voo Luanda- Paris… ou ainda voo Luanda- -Nova Iorque. Ou outro destino qualquer. Num dos primeiros lugares, se não mesmo no primeiro dos resultados, estará a oferta da edreams.com.
Há três anos, esta empresa juntou-se à Go Voyages, numa fusão, e adquiriu a Opodo Travellink. Em 2013, voltou às compras e tirou o agregador de preços de viagens Liligo à ferroviária francesa SNCF. Ficava assim completo o portefólio da Edreams Odigeo, companhia saída dessa fusão inicial das três maiores agências europeias online de viagens.
A viver a fase de esticar as asas para novos destinos, há cerca de dois anos juntou à sua oferta mais uma dezena mercados, com site próprio e local para cada um dos países, cobrindo agora cinco continentes, entre os quais o nosso, com a África do Sul a ser o ponto mais próximo de nós. "Tencionamos reforçar a nossa presença internacional em mercados como África", afirmou o co-fundador e chief marketing officer, Mauricio Prieto.
Voos ou hotéis, ou a combinação de ambos em pacotes, estão à disposição dos mercados locais, com as páginas electrónicas adaptadas a cada país em termos de língua, moeda e companhias aéreas. Agora, segundo notícia do Financial Times, confirmada pelo Expansión, a Odigeo prepara-se para colocar o seu capital à disposição dos investidores individuais, com a oferta pública inicial que veremos em breve, promovida pelos dois fundos que detêm a agência de viagens online, o Permira Advisers LLP e o Adrian, este antes conhecido por Axa Private Equity.
O objectivo financeiro da operação é recolher 2.000 milhões USD numa das praças onde irá listar-se. A fonte do Financial Times deixou em aberto o lançamento em Londres, Madrid ou Paris. Dias depois, no final da semana passada, o jornal espanhol Expansión citava uma fonte para garantir que a cotação será no Ibex, em Madrid.
Com um volume anual de 15 milhões de clientes, a agência de viagens online é a maior da Europa e quinta a nível mundial. A confirmar-se a notícia do Financial Times, esta não é a primeira vez que Javier Pérez-Tenessa, o CEO da Edreams Odigeo, pensa na bolsa. Em 2006, numa entrevista, reconhecia que pensou na angariação de investimento na bolsa de Londres para financiar a sua Edreams, mas um investidor, a TA Associates, acabou por trazer um cheque de 153 milhões EUR em troca de 75% do capital desta agência de viagens online.
Esse valor foi mais que duplicado na venda da Edreams, em 2010, à Permira. A acompanhar o valor da empresa estava o crescimento orgânico das suas vendas, que duplicaram para a casa dos 700 milhões USD anuais. A Permira viu na Edreams a plataforma de lançamento para aquisição de outros fornecedores menores de viagens online, o que viria a acontecer logo de seguida, levando à constituição da Edreams Odigeo.
Mais de 70 cabeças a decidir
Para Pérez-Tenessa, a entrada da TA Associates foi um descanso, já que o CEO ganhava a estabilidade governativa de que não dispunha com a vasta quantidade de investidores - 70 -, cada um com sua sentença. "Ainda que as decisões colegiais tenham vantagens, era uma loucura pôr toda a gente de acordo.
Sobretudo porque não éramos o investimento mais importante para ninguém. Para a TA, somos uma das suas grandes operações na Europa", dizia Pérez-Tenessa em 2006. Quando lhe perguntaram onde via a Edreams no espaço de cinco anos (até 2011, portanto), respondeu que "a saída lógica é a bolsa, devido ao nosso tamanho. E talvez seja antes de cinco anos". Não foi. Acabarão por ser oito anos, e já inserida no novo grupo.
No espaço de dez anos, Javier Pérez-Tenessa ajudou a elevar a Edreams ao sonho de ser número um do sector na Europa. Em 2010, ainda sozinha, facturou 1.300 milhões USD e estava em 19 países. Depois, promoveu a fusão que criou a actual companhia com quatro marcas: Opodo, GO Voyages, Edreams e Travellink.
Da Edreams, Pérez-Tenessa passou para a Edreams Odigeo. O gestor prosseguiu o caminho iniciado em 1999 - após desempenhar funções de engenheiro de satélites em França e EUA, assumir responsabilidades de gestão na Mckinsey em Espanha e trabalhar na Netscape e AOL - quando, junto com os seus amigos Mauricio Prieto e o norte-americano James Hare, criou a Edreams.
O MBA que fez em Stanford e o dia-a-dia na Netscape deixaram a semente da qual germinou o bichinho do empreendedorismo. Pérez- -Tenessa tinha então 32 anos de idade. Apesar de estar, com os amigos, na capital mundial do empreendedorismo - Silicon Valley -, a escolha de local para lançamento do novo projecto recaiu sobre Barcelona, porque nos EUA o sector de vendas de viagens online já voava, enquanto na Europa ainda nem se tinha feito à pista.
E foi a Edreams que o tirou do hangar no Velho Continente. A decisão de fundação de um potente motor de busca de viagens ao preço mais baixo teve a fortuna também do timing, pouco antes do fim da bolha das dot.com, já que, quando esta estoirou, os milhões de dólares necessários para financiamento do seu projecto estavam já obtidos.
O software da Edreams permitia que em poucos segundos se tivesse acesso a centenas de tarifas disponíveis, se fizesse comparações de preços e depois se concretizasse reserva e o pagamento. Toda a logística da viagem ficava resolvida sem que o viajante tivesse de levantar-se da secretária ou sequer levantar o telefone para falar para uma agência de viagens tradicional. Ainda assim, o canal telefónico não foi descurado, já que, querendo, um cliente pode usar este meio. Estava assim fundada a Edreams, primeira pedra da Edreams Odigeo.
Diz a empresa que o nível de repetição - quem compra, volta a comprar - está na casa dos 70%. Pérez-Tenessa explicou há alguns meses, numa entrevista, que para a estratégia de crescimento da empresa contaram em grande modo os produtos e serviços auxiliares, "uma grande parte do nosso desenvolvimento".
Afirmou ainda que "vender um hotel, um transfer, em alguns casos um seguro, é um processo e benefício similares, por isso estamos a investir bastante em aumentar os nossos extras e controlar o produto que vendemos". Na lista de serviços que a empresa sediada em Barcelona presta, via online, têm surgido novos itens ao longo do tempo, desde os lugares preferenciais nos voos ao aluguer de carros, passando por produtos específicos para empresas.
Ainda que os principais mercados sejam os do Sul da Europa - na linha do que foi a estratégia inicial do fundador -, a Edreams, principal marca do grupo Odigeo, está um pouco por todo o mundo. "Até 2010 fomos ganhando tamanho através do crescimento orgânico e passámos de agência mais pequena a ser a maior", gaba-se Mauricio Prieto, um dos fundadores.
Na sua relação com o cliente, a Edreams, marca basilar do grupo, está disponível nas línguas alemã, espanhola, francesa, inglesa, italiana, portuguesa e turca. A expansão começou por Itália, onde lançou o seu site no ano 2000, a par do espanhol. Depois, em 2003, adquiriu a empresa www.travelonline.it, líder no país transalpino, o que tornou a Edreams na líder do Sul da Europa. Em 2006, lançou o www.edreams.fr, e em Dezembro desse ano vendia já 400 milhões USD. No ano seguinte lançou o site inglês, no domínio .com, o português .pt e o .de, na Alemanha.
Imposições de crescimento
Há um ano, a Edreams conseguiu aliviar a pressão da dívida, fazendo uma emissão de 325 milhões EUR que lhe permitiu abater o crédito sindicado de 340 milhões EUR que firmara em 2011 junto de perto de 60 entidades financeiras, e do qual estavam pendentes de pagamento 315 milhões.
A Odigeo conseguiu assim aliviar a pressão da dívida e ganhar flexibilidade. Disse o CEO, Javier Pérez-Tenessa, nessa operação de 2011, que aquela era "a maior emissão de dívida na história do sector do comércio electrónico na Europa e o elevado interesse dos investidores demonstra o enorme êxito e solidez da Edreams".
Da libertação de recursos, a empresa obteve vantagens para a estratégia de internacionalização, menos pelo lado da rede (42 países) e mais pela consolidação e abertura de novos canais de venda. Nesse mesmo ano, a empresa apresentou volume de negócios de 4.000 milhões EUR, ao câmbio actual praticamente 5.500 milhões USD. Face ao ano anterior, quando as quatro empresas que formam a Edreams Odigeo ainda navegavam sozinhas, registou-se uma subida de um pouco mais de 600 milhões USD na facturação.
O segredo para esse sucesso, numa altura em que o sector do turismo vivia pressionado pela crise financeira internacional, estava na "grande diversificação geográfica", afirmou o director da Edreams Odigeo para Espanha, Javier Bellido.
A estratégia de crescimento passava por três eixos, disse Bellido. A saber: inovação, diversificação e internacionalização, com especial ênfase na potencialização dos novos canais. Os dispositivos móveis surgiram e ganharam o seu espaço. "Há que readaptar- se, incrementar os pontos de acesso e diversificar o produto para que seja muito mais imediato e social", afirmou o responsável desta empresa já nascida na era da Internet. Mas não se pense que esta vantagem permite descansar à sombra da tecnologia, nem sequer da proximidade aos clientes, quando comparada com o canal tradicional das agências de viagens com loja aberta.
Sobre a contracção da procura nos mercados maduros - em contraponto com o crescimento de vendas para os emergentes -, diz a empresa que a procura se virou para produtos de baixo custo, concentrada em serviços soltos, em detrimento dos pacotes com tudo incluído. As pessoas querem manter o mesmo número de dias de férias, mas com menos regalias, diz Javier Bellido, garantindo que "ninguém quer renunciar às férias". Previsões da empresa declaradas pelo seu CEO em 2011 indicam que no próximo ano os bilhetes de avião e a aquisição de estadias em hotéis já estarão a 50/50 no poretfólio de vendas da empresa.
O objectivo do grupo é continuar a crescer na indústria das agências online, e nessas contas entram os euros que pretende ir buscar à bolsa. No topo da cadeia alimentar deste sector estão os tubarões, para os quais a Edreams Odigeo quer encurtar a distância, ainda que a Expedia e a Priceline (que detém o Booking) se encontrem na estratosfera deste mercado global. Mas os espanhóis não podem deixar de olhar para quem os persegue, designadamente a Bravofly Rumbo, também europeia, criada em 2012 com a união da Rumbo à suíça Bravofly, por quase 100 milhões USD, e geradora de mais de 1.000 milhões USD de receitas anuais, com ajuda do motor de busca francês Jetcost.
Para subir na tabela classificativa das agências de viagens online, através de crescimento orgânico e por via das aquisições, a Edreams Odigeo conta receber os 2.000 milhões USD na bolsa. Alguém se candidata à IPO?
Alexandre Frade Batista