Luanda tem um patamar tecnológico e quando se vai para outras províncias, é um facto, esse patamar desce
Willian Oliveira partilha com o Expansão a sua visão sobre o mercado tecnológico e o futuro da empresa Tis Tech. Afirma que o sector das telecomunicações precisa de mais empresas privadas para diminuir o desequilíbrio geográfico das tecnologias no País.
Como é que surge a TIS Tech Angola?
A TIS Tech surge numa altura (há 11 anos) em que só tínhamos empresas de consultoria tecnológica estrangeira no mercado. Inclusive, trabalhámos num projecto com uma empresa muito famosa, chamada Accenture. Quando tivemos a crise de 2008 [devido à queda do preço do petróleo] muitas empresas foram embora, saíram do mercado. Nós percebemos que havia um gap, que não havia uma empresa de consultoria com tanta força, que fosse angolana e que pudesse estar cá, independentemente das situações. Foi a partir daí que surgiu a ideia de criar uma empresa de consultoria tecnológica, uma integradora de soluções nacional, que tivesse uma forte orientação nas grandes empresas de tecnologia mundial, como a Accenture, Deloitte, Ernst & Young, essas empresas que hoje chamamos as Big Five ou Big Four. Então nasce a TIS com essa vocação, mas logicamente ainda sem a mesma força.
Nasceram num contexto económico difícil, em que não havia muita actividade devido à crise. Quais foram os grandes desafios nestes 11 anos?
Em 11 anos, os desafios, acho que são os que todas as empresas enfrentam, foi a consolidação, ou seja, conseguir apresentar-se como uma empresa do sector é algo que se constrói e é construída com os anos. Ter a confiança do mercado é algo que se ganha com o tempo. Outro desafio, logicamente, foi construir uma base tecnológica, por isso, nós investimos fortemente na formação dos nossos quadros, no treinamento. Apesar de hoje termos maior facilidade do que no passado. Com os anos, o País foi melhorando essa questão dos recursos humanos. Lógico que, muitas vezes, pegamos aquele recurso humano mais bruto e lapidamo-los, mas isso é um trabalho que temos de fazer e acho que todas as empresas do sector têm de fazer, efectivamente.
Veio a Angola, contratado pela Macon, depois quase acidentalmente foi para o Banco Nacional de Angola (BNA). E há 11 anos criou a TIS Tech Angola, uma consultora do ramo tecnológico. Como encontrou o sector tecnológico, quando chegou a Angola?
Eu cheguei a Angola em 2003. Quando cheguei, a parte de tecnologia ainda estava ali no seu florescer. Não digo que cheguei aqui e não havia nada. Angola já estava, naquele momento, a iniciar o processo de modernização. Eu vim do Brasil directo para cá e o Brasil é um país muito grande, com muitas realidades num país só. Então, mesmo em 2003, você poderia ver no Brasil situações de modernização e transformação digital que podia estar numa ponta da cadeia e lugares onde estava na outra. E isso ainda é uma realidade pelo tamanho do país.
Assistiu a tudo de perto?
Quando cheguei, Angola estava no processo de expansão das telecomunicações, implementação de redes de alta velocidade. Ainda estava no processo de implementação das redes 3G e 4G. E foi muito bom porque vi isso tudo acontecer. Ou seja, vi o processo de transformação do mercado, a implementação de empresas de tecnologia, a modernização do sector público. Então, foi algo que acompanhei desde o princípio, o que me dá uma visão muito boa do mercado. O boom digital começa nos anos 2000, no que a chamamos de crise dotcom. A internet começou a ser massificada nesta altura, com as internets discadas, com as redes ADSL e as redes Wi- -Fi. Quando a internet começou, o seu processo de expansão, foi quando cheguei a Angola. Na altura, Angola acompanhava esse processo com a estruturação das empresas de telecomunicações, como a Unitel, que já existia.
Esta questão geográfica do Brasil, que potenciou o desnivelamento das realidades tecnologias, é muito parecida a Angola, pois quando pensamos em tecnologia olhamos logo para Luanda...
Luanda está num patamar e, quando se vai para outras províncias, é um facto, esse patamar desce. E aí precisamos, acho que essa é uma missão, começar a nivelar os patamares. Esse é um facto que tem de ser trabalhado.
Este desnivelamento tem a ver com a actividade económica, tem a ver com demografia, tem a ver com o quê, realmente?
Acho que é uma conjuntura. Acho que, de facto, tem a ver, sim, com a actividade económica. Ou seja, se aqui é o motor, é facto que vai crescer do motor para fora. É normal. São Paulo é um gigante tecnológico, mas se for a Roraima [um estado brasileiro], talvez não. Então, é facto que os grandes centros puxam para si o processo tecnológico. Isso é uma realidade. Como Luanda é a província mais populosa, onde efectivamente temos mais actividades económicas, é normal que Luanda esteja mais preparada tecnologicamente do que outras províncias. A missão agora é diversificar para outras províncias também, apesar de algumas já estarem mais avançadas. Cada província tem a sua realidade, umas mais para trás, outras mais para frente. Mas a missão, daqui para a frente, é nivelar. Para estarem no mesmo patamar.
Que tipo de estratégia pode ser usada para este nivelamento?
Nunca vamos encontrar um equilíbrio nas províncias. E isso acontece em todos os países.
Mas o desnível aqui é muito alto. Se nós compararmos Luanda e Moxico, por exemplo, percebe-se logo. Podemos encontrar um equilíbrio?
Olha, uma das estratégias que já está em curso é a expansão da rede de telecomunicações, ou seja, quanto mais acesso às telecomunicações, quanto mais acesso às redes, mais inclusão digital, mais desenvolve aquele polo a nível tecnológico. Esta é uma acção que tem de ser feita e tem de ser levada ainda mais a fundo. A implementação do AngoSat II foi uma acção importantíssima nesse processo também de expansão da rede para as províncias. Porque onde a fibra não chega, o satélite pode chegar. Isso é um facto.
Uma única medida não chega?
Também temos de promover um ecossistema de inovação com as universidades e pólos universitários em determinadas províncias que possam transformar-se num pólo tecnológico e levar tecnologia às escolas. Transformar isso numa parte integrante do processo educacional. Essas são acções, sei que muitas delas estão em curso, mas precisam, no final das contas, de ser potencializadas. A tecnologia e a educação andam lado a lado.
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