"Nós não conseguimos mudar do dia para a noite o mindset das pessoas"
Responsável máximo pela agência que concentra o investimento no País, refere que este tem crescido nos últimos cinco anos, que existe capacidade de poupança interna e que está a ser aplicada na economia. Arlindo Rangel reconhece debilidades no ambiente de negócios, mas alerta que, mais importante, é mudar a mentalidade das pessoas que estão nas instituições.
É possivelmente uma das pessoas que mais sabe sobre o investimento no País, tendo em atenção a posição que ocupa. Que balanço faz do que tem acontecido nos últimos cinco anos?
Eu tenho a sensação que tem havido um crescimento. Também estamos a tentar aprender sobre as formas e as motivações do investimento em Angola, mas temos tido alguma dificuldade com os dados estatísticos, uma vez que nem todos os investimentos passam pela agência, e o acesso a números oficiais sobre o impacto na economia desses investimentos também é difícil.
Os dados estatísticos continuam a ser uma debilidade?
Pois! Se olharmos para os dados dos últimos 5 anos, estamos a falar de 578 projectos inscritos na agência, que totalizam qualquer coisa como um valor de 14 mil milhões USD. Também é importante dizer, que são valores de investimento que têm estado a ocorrer ao longo do tempo. Também dizer que fazem parte deste valor três projectos, um que era a refinaria do Soyo, que são quase 4 mil milhões USD, está em stand-by, ainda não arrancou, e nós estamos a analisar se continuamos a manter na nossa lista ou retiramos. Depois há também dois projectos grandes na área farmacêutica, que também não temos certeza se vão arrancar ou não. Mas tudo o resto está a acontecer. Em termos de implementação, estamos a falar de qualquer coisa como 40% de execução dos projectos que temos em carteira nos últimos 5 anos.
Em que áreas, fundamentalmente?
Há um fenómeno engraçado, porque temos visto uma mudança, aquelas grandes empresas que inicialmente investiam no comércio, agora transformaram-se nos grandes industriais.
A falta de divisas também justifica o facto de ser necessário produzir internamente?
Não é apenas a falta de divisas, porque nestes últimos cinco anos a nossa estrutura de importação alterou-se. A necessidade de divisas que tínhamos há uns anos, nem sequer vou falar no número porque era um número quase pornográfico, mas hoje é relativamente baixo e a necessidade é essencialmente para o apoio para as indústrias.
Essa é a evolução natural?
Depois vamos ter o passo seguin te, essas indústrias vão começar a fazer as exportações e a gerar também divisas para a nossa economia. Estamos a falar hoje, essencialmente, de projectos agroindustriais, indústrias transformadoras, energia, agricultura e outros projectos mais amplos que arrastam outras indústrias de apoio. Estamos a falar de projectos maioritariamente de capital estrangeiro ou de capital nacional.
Existe capacidade de investimento por parte dos nacionais?
Sim, existe. Hoje também há outra coisa que nos agrada, tem havido muito reinvestimento. Deixa de ser o tal capital estrangeiro ou capital nacional, passa a ser o reinvestimento. Para nós, isso são sinais claros de que as pessoas que estão aqui a investir acreditam no País, porque se não acreditassem, não reinvestiam estes recursos. Nós caracterizamos o capital em três tipos, essencialmente. Estamos a falar o capital estrangeiro, puro e duro, o capital nacional e o capital misto. Hoje, podemos dizer que o nacional e o misto, são aqueles que já cá estão e reinvestem, configuram a maior parte.
Existe alguma indicação política relativamente ao tipo de projectos e sectores que a AIPEX deve acompanhar melhor, ou é indiferente o sector e a origem do investimento?
Nós somos uma agência que é pública, como é do conhecimento de todos, e quem define a política desta agência é o Estado. E o Estado já definiu exactamente o que quer e como quer. Definiu que o seu grande projecto é a segurança alimentar. E nós, quando falamos de segurança alimentar, estamos a falar de infraestruturas, saúde, energia, alimentação, a própria comida, agricultura, agroindústria, ou seja, são vários os projectos que concorrem para a tal diversificação económica.











