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Grande Entrevista

"A carga tributária é um adversário para a liquidez e a rentabilidade das empresas"

MÁRIO BRAGANÇA | ECONOMISTA E CONSULTOR

Mário Bragança acredita no potencial da economia nacional, que deve contar com as empresas, e defende maior alargamento da base tributária e apoio à informalidade pelo papel que tem. O economista defende ainda a aposta na formação de empreendedores e gestores, para garantir a sustentabilidade das organizações.

A Assembleia Nacional aprovou na globalidade a proposta do Orçamento Geral de Estado (OGE) 2026, que estima receitas e despesas de 33,2 biliões de kwanzas, com base no preço do barril de petróleo a 61 USD. Como avalia este documento?

A proposta do OGE 2026 espelha de certa forma o resumo de como será a nossa economia, tal como nos anos anteriores. Acredito que, no futuro, o processo de elaboração do OGE deve ser actualizado. Porquê? Porque, tal como em todos os processos, mesmo a nível pessoal, quando queremos que as finanças melhorem, temos de reajustar, não só as despesas, mas também a metodologia de elaboração do próprio OGE. Atendendo à situação do País, é preciso reduzir o défice. Há uma necessidade de melhorar a metodologia. Há despesas que podem ser reduzidas a priori, logo no início, na própria concessão. Na vida temos sempre de olhar por dois grandes critérios: um é a importância, o outro é a urgência. Há detalhes que são eventualmente urgentes, mas não são tão importantes. E há outras questões que são prioritárias. O critério tem de basear-se muito na importância e na urgência.

Pela primeira vez, a proposta do OGE 2026 prevê mais receitas vindas do sector não petrolífero, do que do sector petrolífero. É bom para a economia nacional?

Sim, é um bom sinal. Quer dizer que o sector não-petrolífero está a crescer. Está a ganhar maior dinâmica. Temos de continuar a incentivar o sector não-petrolífero. Cuidar dele, olhar com muita atenção. Porque, em toda a parte do mundo, a força de uma economia está aí. Fala-se muito aqui na questão da diversificação, mas a diversificação é um padrão do desenvolvimento. Ou seja, não existe sociedade ou país desenvolvido em que não há diversidade. A escassez de diversificação é ausência de desenvolvimento. Nós estamos a olhar como se fosse algo extraordinário, mas, na verdade, esse é o padrão normal de uma economia sustentável, desenvolvida. O sector não- -petrolífero, na verdade, é que tem de dominar a economia e não o inverso.

E qual deve ser a aposta neste sector não petrolífero?

Em primeiro lugar, eu diria a agricultura. Porque, historicamente, é a agricultura que alavanca Angola. As grandes cidades foram edificadas com a agricultura. Algumas indústrias foram financiadas inicialmente com a agricultura. Logo, quer pelo potencial, quer pelo lado histórico, nós temos de apostar seriamente na agricultura. Aqui quando se fala em apostar seriamente na agricultura, geralmente as pessoas pensam em investir valores muitos altos, mas nem sempre é assim. Um bom investimento nem sempre significa valores muito altos. Um bom investimento pode significar maior atenção, pode significar maior pesquisa, pode significar também maior concertação de ideias, não só com pessoas ligadas directamente à agricultura, mas também com especialidades complementares, que podem ajudar a própria agricultura a tornar-se uma potência. Fundamentalmente no acompanhamento, na formação, na orientação.

Falta isso em Angola?

Sim. Observamos países com menos recursos que Angola e que estão a dar grandes saltos. Não é o dinheiro que vem à frente. O que vem à frente é essa atenção, essa dedicação, traçar metas claras e ir acompanhando a sua implementação.

Metas é o que não falta nos programas do Governo, mas vemos que muitas delas não têm sido alcançadas. Onde está a falha?

Uma boa meta tem de ser acompanhada por métricas. Uma coisa é dizer, "queremos chegar até aí", mas depois é preciso traçar métricas e adoptar uma metodologia para lá chegar, sem isso não funciona. Você tem a meta, tem lá o número, mas está a faltar a especificação, a métrica. Muitas vezes nós não respeitamos isso.

Leia o artigo integral na edição 857 do Expansão, sexta-feira, dia 19 de Dezembro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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