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África

Blinken lança estratégia dos EUA para a África em Pretória

DEPOIS DE MACRON E LAVROV É A VEZ DA DIPLOMACIA NORTE-AMERICANA "INFLUENCIAR" O CONTINENTE

Na RDC, além das eleições de 2023, chefe da diplomacia dos EUA irá concentrar-se no "combate à corrupção" e no apoio aos esforços regionais para fazer avançar a paz no leste do país, refere o porta-voz do Departamento de Estado. Périplo africano de Blinken arranca em Pretória, com guerra da Ucrânia na bagagem.

O secretário de Estado Antony Blinken chegou este domingo, dia 7, a Pretória, África do Sul, onde lançará a estratégia dos EUA para a África Subsariana, uma semana depois de visitas ao continente do seu homólogo russo, Serguei Lavrov, e do Presidente francês, Emmanuel Macron. A África do Sul é o primeiro ponto de um périplo que levará Blinken à República Democrática do Congo (RDC), onde se reunirá com "altos funcionários do governo" e sociedade civil para discutir as eleições gerais de 2023, e assegurar que serão "livres, inclusivas e justas", e que termina no Ruanda.

Em Kigali, Blinken irá concentrar-se no papel que o governo de Paul Kagame "pode desempenhar na redução das tensões e violência em curso no leste da RDC", como refere o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Ned Price. Mas a vinda de Blinken ao continente africano, uma semana depois de Lavrov e Macron, é vista como manobra política e diplomática no sentido de influenciar os líderes africanos a alterarem a sua posição quanto à guerra na Ucrânia e condenarem a Rússia.

Ao chegar aos Camarões, onde iniciou uma digressão por três países, que incluiu o Benin e a Guiné-Bissau, o Presidente francês deixou claro ao que vinha, ao incitar uma posição dos líderes do continente, um dos mais afectados pelas consequências económicas da guerra, que fez disparar os preços dos alimentos e matérias-primas. "Tenho visto demasiada hipocrisia, particularmente no continente africano", afirmou Macron, numa conferência de imprensa com o seu homólogo camaronês, Paul Biya. "E digo isto com muita calma, com alguns a não chamarem-lhe guerra quando é uma guerra e a dizerem que não sabem quem a iniciou porque têm pressões diplomáticas".

Já Lavrov teceu elogios aos líderes africanos, num artigo publicado em jornais dos quatro países visitados - Egipto, Etiópia, República do Congo e Uganda. "Apreciamos a posição africana quanto à situação na Ucrânia. Embora sem precedentes pela sua escala, a pressão não levou os nossos amigos a juntarem-se às sanções anti- -russas. Um caminho tão independente merece um respeito profundo", escreveu.

Desactivar máquina de pilhagem do Congo

Antony Blinken chegou a Pretória, no domingo, vindo da Ásia, onde cumpriu programas de trabalho no Camboja e Filipinas. Em Pretória, o chefe da diplomacia norte-americana lançará a estratégia da Casa Branca para África Subsariana, documento que "reforça a visão dos EUA de que os países africanos são actores geoestratégicos e parceiros críticos nas questões mais prementes da nossa época", frisou Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado. Em Pretória, Blinken liderará a delegação norte-americana no Diálogo Estratégico EUA-África do Sul para "reforçar e aprofundar" o compromisso de cooperação bilateral nas áreas da saúde, infraestruturas, comércio, investimento e clima.

Na RDC, além das eleições do próximo ano, o chefe da diplomacia dos EUA irá concentrar- -se no "combate à corrupção" e no apoio aos esforços regionais africanos para fazer avançar a paz no leste da RDC e na região dos Grandes Lagos. Num artigo publicado a 29 de Julho, John Prendergast, co-fundador da organização The Sentry e co-autor do livro Histórias do Congo, aproveitou a visita de Blinken para apelar a sanções contra empresas e negociantes de minerais, como o belga Alain Goetz e o magnata Dan Gertler, para "desactivar a máquina de pilhagem do Congo".

A Sentry é uma organização que investiga "redes predatórias multinacionais" que tiram partido de conflitos violentos, repressão e cleptocracia. "Uma vez que os lucros ao longo da cadeia de abastecimento, que se encontra cheia de corrupção, transitam por bancos sediados nos EUA e na Europa, existe agora finalmente uma oportunidade de impor responsabilidade aos beneficiários da máquina de pilhagem da RDC", escreve John Prendergast.

Segundo ele, as sanções do Departamento do Tesouro dos EUA a Goetz e Gertler "são a tentativa mais directa em 500 anos para assegurar a responsabilização pela pilhagem no Congo". A viagem de Blinken à RDC proporciona, na óptica de Prendergast, "uma oportunidade real de fazer avançar essa agenda" e "aumentar a pressão sobre figuras influentes no sistema de pilhagem, exercendo pressão semelhante não só sobre as suas empresas, mas também sobre as entidades estrangeiras que beneficiam da corrupção e do branqueamento de capitais".