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África

Cabo Delgado expectante com a mudança nas presidenciais

QUATRO CANDIDATOS À SUCESSÃO DE FILIPE NYUSI, EM MOÇAMBIQUE, NAS ELEIÇÕES DE 9 DE OUTUBRO

"Eleitores estão à procura de um líder que seja capaz de trazer estabilidade e segurança para a região", diz Abudo Gafuro ao Expansão. Jovem que foi distinguido com o prémio de voluntário do ano em 2021, pelo apoio às vítimas dos ataques de 2021, diz que é hora de responsabilizar e distribuir melhor os recursos locais.

"A população espera que o próximo Presidente eleito seja capaz de enfrentar os desafios que o país enfrenta, como a pobreza, a corrupção, a falta de infraestruturas e a instabilidade política em algumas regiões, como em Cabo Delgado", afirma Abudo Gafuro, ao Expansão, a partir de Pemba, capital da província de Cabo Delgado que, em Março de 2021, foi alvo de ataques de grupos terroristas, que desde 2017 "semeiam" o medo e a destruição no norte do país.

A situação em Cabo Delgado está presente nos discursos dos quatro candidatos à presidência da República, com Venâncio Mondlane, um dissidente do maior partido da oposição, a Renamo, apoiado pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), a dizer que chega de "roubo", de "corrupção" e de "máfia".

"Acho que está claro para todo o mundo que chegou a hora de devolver Moçambique para os moçambicanos (...) O dinheiro de Cabo Delgado deve ficar em Cabo Delgado, para abrir escolas, abrir hospitais, abrir estradas", afirmou Mondlane, num comício em Montepuez.

Mais institucional, Daniel Chapo, o candidato escolhido pela Frelimo para tentar suceder a Filipe Nyusi, que completa o seu segundo mandato, promete acabar com o terrorismo na província de Cabo Delgado, enquanto Lutero Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) acena com medidas para combater a pobreza e a corrupção, como baixar o IVA de 16% para 14% e reduzir os custos das tarifas de água, electricidade e internet, e Ossufo Momade, o candidato da Renamo, o principal partido da oposição, promete "varrer" o país do "sofrimento" e da "falta de medicamentos nos hospitais, e garante que vai "acabar com o sofrimento da população em Cabo Delgado".

"Há uma grande expectativa numa mudança, especialmente na província de Cabo Delgado, que tem enfrentado desafios, como a instabilidade política e o aumento da violência armada. Os eleitores estão à procura de um líder que seja capaz de trazer estabilidade e segurança para a região, além de promover o desenvolvimento económico e social", descreve Abudo Gafuro, que "toma o pulso" ao eleitorado massacrado da província de Cabo Delgado, desde que o projecto de gás natural da petrolífera francesa Total assentou arraiais na península de Afungi.

Crise complexa

O presidente da Associação Kuendeleya, organização que tem tido um papel central na ajuda às vítimas do terrorismo, admite que "tem havido um esforço conjunto por parte do governo, organizações humanitárias, voluntários e comunidades locais para apoiar as populações deslocadas pela violência/extremismo violento". Mas, nota Gafuro, a crise em Cabo Delgado "é complexa e exige uma resposta holística e coordenada de diferentes actores, incluindo o governo, organizações humanitárias e comunidades".

O governo "tem mobilizado recursos e esforços para fornecer assistência humanitária às populações deslocadas, incluindo o fornecimento de abrigo, alimentos, água e cuidados de saúde" e a Kuendeleya "tem sido fundamental na prestação de apoio psicossocial e de saúde mental às populações, bem como na distribuição de alimentos e outros bens essenciais", desde que os terroristas atacaram Palma e Macímboa da Praia, a 24 de Março de 2021, matando dezenas de pessoas.

O investimento de 60 mil milhões USD da TotalEnergies no gás natural em Cabo Delgado anunciou promessas de prosperidade para as populações locais. Mas, ao invés de riqueza, trouxe violência, destruição e morte, obrigando milhares de pessoas a deixar as suas terras e procurar local seguro.

A violência entretanto serenou, mas continua e ressurge. "A população local tem sido duramente afectada por esses conflitos, resultando em deslocamentos em massa, violência, destruição de infraestruturas e perda de vidas", atesta o jovem Abudo Gafuro, que em Dezembro de 2021 foi distinguido com o Prémio Voluntário do Ano, atribuído pelo programa de Voluntários das Nações Unidas, pelo papel que a Kuendeleya prestou, nesse ano, na ajuda às populações.

Cansados de ser explorados

Gafuro considera que o discurso de Venâncio Mondlane "é relevante e oportuno" no contexto actual de Cabo Delgado e "ressoa" em muitos eleitores.

"Muitos moradores de Cabo Delgado têm visto as multinacionais explorar os recursos naturais da região, enquanto a população local continua a viver em condições precárias, sem acesso a serviços básicos e sem benefícios directos do desenvolvimento económico", salienta.

O líder comunitário dá, como exemplo, o posto administrativo de Namanhumbire, povoação "forte em gemas rubis". Ao "passar pela estrada, nota-se o vazio, a pobreza que caracteriza o local de onde saem os melhores rubis do mundo e não há nada visível que justifique a responsabilidade civil das empresas exploradoras", afirma Abudo, notando que os "eleitores de Cabo Delgado estão cansados de serem marginalizados e explorados".

É, por isso, fácil de perceber o espaço que Cabo Delgado teve nos discursos dos candidatos que, a 9 de Outubro, tentam chegar à presidência do país, num ano de arrefecimento económico e em que a confiança dos empresários caiu. O crescimento económico de Moçambique "deverá abrandar, de 5% em 2023, para 4,6% este ano, devido ao crescimento menor da produção de gás natural e aos atrasos na construção do projecto da TotalEnergies", segundo as previsões da consultora Oxford Economics, divulgadas em Maio. Já o FMI projecta um crescimento de 5%.

Edição 796 do Expansão, de sexta-feira, dia 04 de Outubro de 2024

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