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África

Costa do Marfim celebra a descoberta de petróleo. África e o mundo a velocidades diferentes na transição energética

Em tempo de transição energética

Em parceria com a ENI, o governo marfinense anunciou a descoberta de até 2 mil milhões de barris - a mais revelante descoberta em duas décadas - nas águas costeiras deste país da África Ocidental

"É uma grande descoberta", disse Abdourahmane Cissé, o engenheiro de 40 anos, e responsável governamental pelo sector do Petróleo, Energia e Energias Renováveis na Costa do Marfim. "Os resultados preliminares mostram que, em termos de reservas de petróleo, é cerca de 10 vezes o que temos neste momento", acrescentou, referindo-se às estimativas iniciais de entre 1,5 mil milhões e 2 mil milhões de barris de petróleo, bem como de entre 1,8 biliões a 2,4 biliões de metros cúbicos de gás associado.

A Costa do Marfim, que é um dos maiores exportadores mundiais de cacau, vai passar a poder exportar petróleo dentro de quatro anos, "o que vai ser bom para o país", disse o ministro.

Um entusiamo que não é partilhado por todos. Porque a Costa do Marfim chega ao petróleo quando a esmagadora maioria dos países do mundo fazem a transição energética e quando muitas instituições financeiras têm cada vez maior relutância em financiar a produção petrolífera. Hoje, dizem os analistas, o envolvimento na extração de combustíveis fósseis é muito mais arriscado do que o que costumava ser".

À medida que as economias avançadas mudam para os veículos eléctricos e passaram rapidamente para as energias renováveis, a demanda por petróleo vai cair e apenas os produtores com os custos mais baixo vão sobreviver, dizem os especialistas.

Os custos de produção do petróleo offshore africano, especialmente em águas profundas, são relativamente altos. O petróleo nas águas ao largo da Costa do Marfim está a cerca de 1.200 metros.

Apesar da alta nos preços do petróleo e do gás neste Outono, muitos analistas argumentam que o declínio da procura acabará por forçar uma descida de preços.

Em vésperas da cúpula da ONU sobre mudanças climáticas COP26 se reunir em Glasgow, na Escócia, e muitos países ricos aceleram mudanças na direcção das energias limpas, alguns governos em África - particularmente produtores de hidrocarbonetos como a Nigéria ou Guiné Equatorial - estão a pedir uma "transição energética justa" que permita um processo mais lento de mudança para outros combustíveis.

Os governos africanos, que são responsáveis ??por, no máximo, 3% das emissões globais, opõem-se a serem pressionados por bancos e doadores a abandonar os combustíveis fósseis dos quais, dizem, depende a sua industrialização e desenvolvimento. Muitos países, incluindo Gana, Senegal e Mauritânia, só agora estão a aumentar a sua produção de hidrocarbonetos.

"Faremos o que for do interesse de nosso país", afirmou Alassane Ouattara, presidente da Costa do Marfim, numa entrevista recente, acrescentando que Abidjan pretende explorar seus hidrocarbonetos em benefício do povo.

"Não somos os poluidores. Os outros são ", disse ainda Alassane Ouattara, e deu como exemplo os Estados Unidos onde os índices de poluição per capita são 40 vezes mais do que os da Costa do Marfim.

"Precisamos de gás", afirmou, por seu lado, Alessandro Puliti, director de operações da Eni, e partilhou que a descoberta da Costa do Marfim atende aos critérios de investimento da empresa italiana. Isso ocorre, em parte, porque o gás associado pode ser escoado pela infraestrutura existente que já abastece a Costa do Marfim em 60% da sua eletricidade.

Na Costa do Marfim, cerca de três quartos da população têm eletricidade e o país tem uma das redes de energia mais confiáveis ??da África Ocidental. Exporta eletricidade para Gana, Mali, Benin, Togo e Burkina Faso.

"É quase impossível falar de África sem falar de petróleo nesta fase", disse um analista do sector, que acrescenta que não significa que perdida a etapa do desenvolvimento, os países africanos não possam recuperar nas renováveis, desaconselhado um investimento nas energias fósseis.

No entanto, e no que tem a ver com a Costa do Marfim, as autoridades governamentais não duvidam que "não haverá problemas de financiamento", garantiu, ainda, Abdourahmane Cissé.