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África

Morreu o homem que passou o poder a Nelson Mandela depois das primeiras eleições multirraciais do pós-apartheid

Morreu FW de Klerk, o último presidente branco da África do Sul

Tinha 85 anos, morreu de cancro na Cidade do Cabo, e o seu nome, Frederik Willem de Klerk, tem entrada na História como o último presidente do tempo em que a minoria branca governava a África do Sul

Frederik de Klerk, o último presidente do apartheid na África do Sul, antecedeu no poder Nelson Mandela num tempo que era outro e para uma transição democrática onde foi também uma peça relevante, e com Mandela partilhou o Prémio Nobel da Paz em 1993. A propósito deste momento, Mandela escreveria na sua autobiografia, Long Walk to Freedom: "Para fazer as pazes com um inimigo", escreveu, "é preciso trabalhar com esse inimigo, e dessa forma esse inimigo torna-se nosso parceiro".

Ainda assim, peça-chave na transição do país para a democracia na África do Sul, de Klerk, morreu na sua casa de Fresnaye, Cidade do Cabo, vitíma de cancro, aos 85 anos, nesta quinta-feira, dia 11 de Novembro,

"O ex-presidente FW de Klerk morreu de forma tranquila na sua casa em Fresnaye ao início desta manhã (11 de Novembro) após uma luta contra o cancro, um mesotelioma pleural (que afecta o tecido pulmonar", anunciou a Fundação FW de Klerk em um comunicado.

De Klerk deixa um legado pessoal e político num país que ainda não ultrapassou as consequências, que parecem douradoras, do apartheid, um regime de minoria branca em que ele foi o último presidente e que também por isso ajudou, ainda que inevitavelmente, a derrubar.

Foi um branco conservador num regime de minoria branca, que, naturalmente, sempre defendeu. Oriundo de uma influente família afrikanner, licenciou-se em Direito e chegou ao poder como elemento da minoria branca no governo de "Pik" Botha, em 1972. Entrou no parlamento como deputado eleito pelo Partido Nacional, ele que era filho de um senador do mesmo partido.

Frederik de Klerk sucedeu a Roelof Frederik "Pik" Botha como líder do Partido Nacional em Fevereiro de 1989 depois de Botha ter sofrido um acidente vascular que o obrigou a demitir-se. Sete meses depois, De Klerk era o líder do PN, que venceu uma eleição exclusiva para brancos por uma pequena margem.

Quando chegou à presidência, em 1989, ano da queda do Muro de Berlim na Europa, muitos pensaram que continuaria com as políticas racistas de Botha, mas De Klerk começou a ficar verdadeiramente inquieto com a crescente violência racial no país, incluindo a violência étnica entre xhosa e zulus. Não tardou a anunciar no parlamento que levantava as restrições a partidos políticos que estavam mesmo proibidos como o ANC, SACP, PAC e outros movimentos de libertação, e permitiu protestos contra o apartheid.

E foi aí o verdadeiro ponto de viragem, em 2 de Fevereiro de 1990, cinco meses após ter sido eleito, quando num discurso ao parlamento de Klerk anunciou que o líder preso do ANC, Nelson Mandela, seria libertado da prisão após 27 anos.

O seu discurso marcou o fim das políticas de segregação e o início das negociações que levaram a uma democracia constitucional com direitos iguais para todos os sul-africanos.

Nove dias depois, aconteceu o momento histórico que se repercutiria em todo o mundo, Mandela saía da prisão de Victor Verster. Mas De Klerk continuaria a liderar um governo da minoria branca da África do Sul até 1994.

Em Abril de 1994, o partido de Nelson Mandela, o Congresso Nacional Africano (ANC), após eleições nacionais multirraciais assumiu o poder. Nelson Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da era pós-apartheid. De Klerk manteve-se no poder como vice-presidente.

É certo que o legado de De Klerk tem pontos de luz e de sombra, para não dizer absoluta escuridão, uma vez que durante anos foi cúmplice das atrocidades cometidas em nome de um regime de que fez partem, algumas, dizem, por ordens directas suas.

O ex-presidente sul-africano deixa a mulher, Elita, dois filhos, Susan e Jan, e vários netos. Estava retirado da política activa desde Agosto de 1997.