As guerras comerciais de Trump: Angola, quando vires as barbas do teu vizinho a arder, põe as tuas de molho!
O tempo ditará o seu veredicto. Até lá, resta-nos assistir, expectantes, ao desenrolar desta tragédia económica que se desenha entre a arrogância do poder e a vulnerabilidade dos desprotegidos.
A economia, esse Leviatã que outrora singrava os mares da previsibilidade com a altivez de um império inquebrantável, encontra- -se agora à mercê das vagas encapeladas da incerteza. Outrora monólito de prosperidade, titubeia como um colosso de argila, despojado de seu lastro e entregue ao sortilégio de um oceano convulso, onde se cruzam as correntes insidiosas do protecionismo, da especulação e do temor.
Nos píncaros da Casa Branca, estala o ribombar de éditos protecionistas, exalados com a impetuosidade de um Júpiter colérico, lançando os seus decretos alfandegários como dardos flamívomos sobre os alicerces da economia global. As tarifas, antes anunciadas como salvaguardas do interesse nacional, transfiguram- -se em lâminas que laceram a própria carne do comércio internacional. O mercado, espoliado da sua previsibilidade, cambaleia como um titã exaurido.
O incêndio tarifário e a agonia da previsibilidade
A dialética tarifária de Trump 2.0 alastra-se qual incêndio incontrolado, devorando, com fúria cega, as teias intricadas do comércio mundial. Do Canadá às lonjuras da China, das veneráveis praças europeias às terras que há séculos moldaram a arquitetura mercantilista, os gravames alfandegários transformaram-se em labaredas que consomem a estabilidade do mercado.
Em resposta, os parceiros comerciais reagem como feras acossadas, retaliando com tarifas espelhadas, erguendo fortificações protecionistas e precipitando o mundo num torvelinho de confrontos económicos. O tabuleiro internacional, outrora arena de trocas cordiais e benefícios mútuos, metamorfoseou-se num campo de batalha onde os consumidores são meros peões desprotegidos e as empresas, embarcações sem quilha, à deriva numa tempestade de imposições alfandegárias.
Eis que surge a ameaça de um tributo de 200% sobre vinhos, conhaques e néctares espirituosos da velha Europa, adensando a névoa da incerteza. A hesitação adquire contornos espectrais, e os salões de Wall Street, que outrora ressoavam com o brado eufórico da confiança, agora ecoam murmúrios trémulos, entremeados de previsões de catástrofe. O dólar, ainda que estoico, sente o bafo quente da volatilidade. Os rendimentos dos Títulos do Tesouro estremecem sob a crescente pressão do desassossego.
Os mercados, esses oráculos caprichosos, tornaram-se teatros de sombras, onde se desenrola uma pantomima de quedas abruptas e efémeras esperanças. As mãos invisíveis do comércio, que outrora seguravam com firmeza as rédeas da previsibilidade, encontram-se agora debilitadas, incapazes de domar as investidas de um destino inclemente.
A morte e a ressurreição dos mercados financeiros
Os mercados financeiros, sob a égide da administração Trump, evidenciaram uma trajetória dicotómica, na qual setores estratégicos, como o da defesa europeia, experimentaram uma ascensão expressiva de 27,49%, acompanhada pela valorização do ouro em 10,33% e pela ascensão das ações da zona euro (STOXX )(1)em 8,75%. Em contrapartida, a instabilidade e a volatilidade que caracterizaram o período fizeram-se notar na acentuada queda da Tesla, que registou um decréscimo de -43,57%, bem como na desvalorização do Bitcoin em -20,62% e no recuo do petróleo Brent em -- 12,81%, denunciando a complexidade das dinâmicas económicas e geopolíticas então vigentes.
Desde a eleição de 2024, assiste- -se a um renovado dinamismo nos mercados, evidenciado pela contínua valorização das ações de defesa europeias, agora com um crescimento de +35,95%, pela recuperação significativa do Bitcoin, que ascendeu +19,55%, e pelo incremento do índice de commodities CRB(2) em +8,83%. Todavia, a conjuntura mantém-se marcada por incertezas, com o S&P 500 e os títulos alemães (Bund) a registarem retrações em ambos os períodos, sinalizando a persistente instabilidade nos mercados globais. Paralelamente, a ligeira depreciação do índice do dólar após 2024 sugere uma reconfiguração das expectativas relativas à política monetária e comercial, espelhando as vicissitudes de um sistema económico em constante mutação.
As famílias retraem-se, os consumidores hesitam, o espectro de uma recessão projeta a sua sombra sobre a paisagem já enegrecida do presente. A outrora pujante economia americana debate-se para manter a cabeça acima da voragem. Mas a questão que agora se impõe é outra: quando Trump voltar a sua fúria tarifária para África, estará o continente preparado? Ou, no idioma trumpiano, terá África alguma carta na mão?
Leia o artigo integral na edição 818 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)