Crescimento económico num contexto de alta inflação e alto desemprego
Apesar do discurso político dar indicações da necessidade de se dinamizar a produção local de bens alimentares, atendendo ser esta a classe que mais tem contribuído para o aumento das pressões inflacionistas, a verdade é que as iniciativas que têm sido propostas pecam por uma certa desarticulação sectorial. Afinal, não se pode pensar em dinamizar a produção alimentar sem que haja um aumento de produtividade no sector agrícola.
O desempenho da economia angolana em 2024 ficou marcado pelo crescimento do PIB em 4,4%, acima do crescimento médio estimado da população (de 3%), deixando a governação sobejamente satisfeita. Não podemos negar que este resultado representa uma melhoria substancial, desde o afundanço de 2020 devido à pandemia da Covid-19 (Gráfico 1). Todavia, apesar de saudarmos este desempenho não podemos deixar de olhar para os sectores que terão impulsionado um tal crescimento e, claro, analisar o que isso significa para o cidadão comum.
Da nossa análise aos sectores que terão contribuído para este desempenho saltam à vista no topo três sectores, a saber: os diamantes, petróleo e gás e o comércio. Ora bem, sabemos que o sector dos diamantes e o do petróleo e gás, apesar de serem intensivos em capital (exigem muitos investimentos), não geram tantos empregos. Abrimos aqui um parêntesis para explicar que na ausência de uma melhor articulação das políticas de desenvolvimento, as receitas provenientes dos recursos minerais acabam por alimentar o comércio, via importação.
Olhando para os dados da classificação económica das importações do BNA vemos que as importações de bens de consumo corrente em 2023 foram de 9.542.6 milhões USD (voltaram aos níveis de 2017) apesar deste valor representar uma redução de -19.2% versus 2022 (um ano atípico devido às eleições).
Em 2024 a inflação ter-se-á situado nos 27.5% (um aumento de 7.49 pp vs 2023), segundo os dados do INE. Não estando ainda disponíveis os dados da folha de informação rápida do Inquérito ao Emprego em Angola referentes ao 4.º trimestre, vamos olhar para o ano de 2023 (Gráfico 2). Neste gráfico vemos que, ao contrário do que nos sugere a teoria económica, da existência de uma relação inversa entre a inflação e o desemprego (cf. a chamada Curva de Phillips), em Angola os dados indicam uma correlação forte positiva. Isso significa que o alto desemprego em Angola convive com um alto nível de inflação.
Em 2022, um ano eleitoral, a governação optou por apostar no aumento das importações de bens de consumo corrente tota lizando 11.813,7 milhões, dentre os quais a soma de bens alimentares (2.889,6 milhões USD) e combustível (4.028,2 milhões USD) representou cerca de 58.6% deste valor.
Em nosso entender, para que as medidas de combate à inflação sejam sustentáveis elas não podem deixar de lado a dinamização do sector produtivo, com especial ênfase na produção de bens de consumo corrente. Defendemos que se deve dar prioridade aqueles sectores intensivos em mão-de-obra, gerando no processo emprego para a população jovem (dos 15 - 24 anos) cuja taxa de desemprego no 3.º trimestre de 2024 situou- -se em 56.6% (segundo os dados do IEA do INE).
Apesar do discurso político dar indicações da necessidade de se dinamizar a produção local de bens alimentares, atendendo ser esta a classe que mais tem contribuído para o aumento das pressões inflacionistas, a verdade é que as iniciativas que têm sido propostas pecam por uma certa desarticulação sectorial. Afinal, não se pode pensar em dinamizar a produção ali mentar sem que haja um aumento de produtividade no sector agrícola.
Leia o artigo integral na edição 813 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Fevereiro de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)