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Opinião

Confiança

Editorial

A incompetência misturada com a soberba "mata" aquilo que é o mais importante na economia, a confiança

Não há outra forma de dizer isto - a nossa economia está de rastos. Apesar da conjuntura internacional, da pandemia, da situação particular do combate à corrupção que implicou um período de turbulência em algumas empresas importantes do sector produtivo, a verdade é que as medidas económicas não resultaram. As decisões não foram boas, não houve estratégia, a postura sempre foi reactiva e pouco sustentada, e não vale a pena continuar a enfeitar uma árvore com programas televisivos, espaços de propaganda ou briefings bi-semanais. Vamos no terceiro ministro, o que confirma tudo o que escrevi acima, embora seja importante dizer que mudámos os homens, mas não mudámos as abordagens.

O tempo também não é de levantar as cinzas, sendo que a abordagem destes últimos quatro anos deve ser muito mais de perceber onde estiveram os erros e perceber por onde passam os novos caminhos. E quem decide ao mais alto nível tem de ter suficiente humildade para fazer este exercício, até porque está em causa o bem-estar de todos os angolanos. E parece-me um erro enorme tentar atribuir o empobrecimento do País apenas aos factores externos ou à corrupção, sem considerar aquela que me parece ser a principal razão, a incompetência. Que misturada com a soberba mata aquilo que é o mais importante na economia, a confiança.

Esta variável não faz parte das fórmulas económicas, mas é mais importante para quem quer ter desenvolvimento. Confiança numa primeira fase entre os parceiros que participam no alavancar do crescimento económico, numa segunda, nos empresários e nos agentes da cadeia produtiva, e numa terceira, nos cidadãos em geral. Isso não se consegue com uma comunicação carregada de "inverdades", enviesada do essencial e focada no acessório, assente numa legislação desadequada que cria dificuldades que só são ultrapassadas com entradas privilegiadas pela porta dos fundos, com decisores que olham primeiro para os seus interesses e das diversas famílias a que estão ligados.

Pode também criar-se a ilusão que se compra a confiança com facilidades, benefícios ou incentivos, mas não! Pelo menos quando se tratam de investidores sérios, com uma imagem de credibilidade no mundo, daqueles que podem ajudar o País e repartir as mais-valias com quem os acolhe. Infelizmente estamos naquela faixa de países onde os empresários do esquema florescem e os mais reputados não visitam.

Em prol da verdade o País nos últimos anos avançou em diversos sectores, como o rigor orçamental, a protecção social ou os transportes, mas nada disto ganha expressão se a economia não crescer e não houver consumo interno capaz de alavancar o micro e pequeno negócio, a única forma de tirar a população da pobreza. Espero que haja coragem para fazer esta abordagem e tirar as conclusões. Também não vale a pena acusar as pessoas que tiveram essa responsabilidade. Basta trocá-las. Tendo como critério o conhecimento, a capacidade de trabalho e o espírito de liderança.