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Opinião

Copo meio cheio ou copo meio vazio?

Laboratório Económico

Segundo a avaliação do Fundo Monetário Internacional sobre a economia angolana e os resultados das políticas acordadas no âmbito do Acordo de Financiamento, o copo tende a ficar cheio (ou numa linguagem muito característica de alguns partidos políticos, "está-se no bom caminho"), no sentido da redução do défice fiscal (ou excedente orçamental já para 2021 de 0,3%), da convergência cambial (diminuição do diferencial entre os dois mercados), do incremento do crédito ao sector privado (18,5% em 2021 e 25,9% em 2022, depois de uma contracção de 8,4% em 2020), controlo da inflação para 19,5% em 2021 (25,1% em 2020) e outros conseguimentos.

Apesar disso, o crescimento económico continua confinado a cifras muito baixas, admitindo-se mais uma recessão em 2021 de -0,1%. O futuro prossegue incerto, porque os sucessos financeiros e monetários continuam frágeis e dependentes do que se passa no mercado petrolífero internacional, porque o modelo praticado (FMI, BM e Governo angolano) está ultrapassado, bastando para isso actualizarmo-nos com as mais recentes posições de eminentes economistas, porque a carência de investigação científica e tecnológica continuará a ser um dos grandes entraves à sedimentação de um crescimento portador de futuro. O não acontecer crescimento económico expressivo (no mínimo 2 pontos percentuais acima do factor demográfico de variação da população para ocorrerem ganhos de vida e de condições de partilha do espaço social) é uma fatalidade? Por várias vezes se tem referido a "mini-idade de ouro" verificada entre 2002 e 2008 (taxa média anual de variação do valor acrescentado nacional de 11%), mas sem consolidação em transformações estruturais e muito menos sem progresso social. Mas foi um caso (um epifenómeno?) analisado em diferentes estudos sobre a economia nacional. De acordo com diversas projecções, aquele período não voltará a repetir-se nos tempos mais próximos (provavelmente só depois de 2030). O país tem recursos naturais, tem população, tem empresas e empresários e, aparentemente, tem as melhores políticas aconselhadas por organismos internacionais. Então o que falta? Tempo para a sua maturação? Nada disso. O que falta é um novo modelo de desenvolvimento, no contexto do qual o SOCIAL assuma o comando das transformações estruturais que se fazem mister. Um modelo onde as determinantes monetárias o sejam de uma forma conciliadora com o crescimento e a melhoria das condições de vida e, consequentemente, longe das estritas visões neoliberais, que não funcionam em África tal como em outras paragens. Arnaldo Lago de Carvalho, numa discussão sobre questões económicas angolanas numa das rádios locais em Maio do corrente ano, sublinhou a necessidade de se africanizar a ciência económica, tornando-a aderente às características próprias das sociedades africanas.

*Economista

(Leia o artigo integral na edição 635 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Julho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)