Angola ocupa 182.º lugar em ranking sobre investigação científica
O fraco investimento no ensino e em investigação científica atira o País para a cauda dos rankings sobre o nível da produção de conhecimento. Os números mostram que ainda há muito trabalho pela frente mas, segundo investigadores, mostra que alguma coisa se faz.
Angola ocupa a posição 182 num ranking internacional sobre investigação científica, numa avaliação da plataforma AD Scientific Index a mais de 24 mil instituições de ensino superior de 221 países, e a mais de 2 milhões de cientistas. No continente, o País ocupa a posição 42 em 54 países, constatou o Expansão.
A AD Scientific Index (ou Alper-Doger Scientific Index) é um sistema de classificação e análise científica, fundado em 2021 pelos investigadores turcos Alper Tolga Çolak e Murat Doger, que avalia dados a partir de perfis do Google Scholar, acessíveis ao público, e processados através de procedimentos de avaliação de dados quantitativos de produção científica e de impacto de citações de desempenho mensuráveis e verificáveis ao nível do investigador/instituição.
Angola está na cauda a nível mundial e também a nível do continente. Ao todo, constam neste ranking um total de 23 instituições angolanas, num ranking liderado pela Universidade Agostinho Neto (lugar 15.344 do ranking), clínica Girassol (17.231) e Instituto Superior Politécnico de Tecnologia e Ciências (ISPTEC), que esta terça-feira ocupava o lugar 17.400. Católica (17.671) e Universidade Katyavala Bwila (18.149) fecham o top cinco das instituições angolanas classificadas neste ranking internacional.
Este report também classifica os investigadores. Ao todo, contabilizou 188 investigadores angolanos, numa lista liderada por António Chivanga Barros, professor do ISPTEC, que ocupa o lugar 645.944, seguindo de Tommaso de Pippo, da Católica, no lugar 667.928 e Albano Ferreira, actual ministro do Ensino Superior, que ocupa o lugar 799.792. Anabela Leitão, da UAN, no lugar 824.757 e Valdano Manuel, médico na clínica Girassol, no lugar 863.279, fecham o top cinco dos investigadores angolanos.
Para o académico Mauer Gonçalves, professor na UA, a posição em que o País se encontra reflecte os desafios em termos de investimento na ciência, infraestrutura de investigação, formação de recursos humanos e financiamento sustentável. "A posição de Angola no "ranking " não é boa porque revela que ainda estamos bastante atrás em relação a muitos países no domínio da ciência e investigação. No entanto, considero que é um ponto de partida importante: estamos incluídos, somos avaliados e isso dá-nos indicadores concretos de onde precisamos melhorar", diz investigador.
Já o segundo classificado no ranking, Tommaso de Pippo, também considera que o ranking não é bom para Angola, já que demonstra que os investigadores angolanos têm produzido pouca pesquisa, o que afecta a classificação não só dos investigadores mas também das instituições. O investigador especialista em geologia reconhece que este ranking assume como primordial o número de investigações/trabalhos publicados e o impacto das citações, pelo que quanto mais e melhor se trabalhar no país em termos de investigação científica, melhor será a classificação neste ranking.
A investigação científica em Angola acaba, muitas vezes, por estar no fim da lista de prioridades do Governo e das empresas e universidades. Muitas vezes porque falta dinheiro, e outras porque falta vontade política para apostar em definitivo na investigação como um objectivo estratégico que oriente as políticas do país. Esta fraca aposta na investigação mede-se pelos dados dos Relatórios de Execução Orçamental do I e II trimestres de 2025. O programa de melhoria da qualidade do ensino superior e desenvolvimento da investigação científica e tecnológica tem previstos 137,5 mil milhões Kz para o ano de 2025, mas no primeiro semestre apenas foram desembolsados 14,7 mil milhões Kz, equivalente a 10,7% de execução, muito abaixo dos gastos recomendáveis sobre a execução orçamental, correspondente a 25% para cada trimestre.