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"Escolhi a catadora de lixo por ser alguém propenso a ser humilhada"

Mariana Willian Kumenda

Tem amostras de obras de pintura artística e material reciclado na exposição ReciclArte patente no CCBA até 31 de Outubro. Venceu a primeira edição do concurso Plasticamente Arte, organizado pela EcoAngola e a União Europeia

Como recebeu o convite para participar na exposição colectiva ReciclArte patente no CCBA?

Recebi o convite pelo criador e fundador desse mesmo projecto Reciclarte, o artista plástico Paulo Amaral, que também foi um dos júris do concurso "Plasticamente Arte" realizado pela organização Ecoangola, projecto piloto financiado pela União Europeia. Paulo Amaral viu o meu trabalho e também notou o meu interesse pelo meio ambiente com a transformação do lixo em obras de arte. Foi-me feito o convite para fazer parte desse elenco maravilhoso que está a fazer acontecer o Reciclarte.

Com é a experiência de trabalhar com o lixo?

Essa experiência está ser um eterno aprendizado. Transformar lixo em obras de arte não é coisa fácil nem tão difícil, ao mesmo tempo. Acredito que quase todos os artistas têm essa capacidade de fluir olhando em objectos. No meu caso acontece isso. Quando olho para um objecto que está a ser descartado ou até mesmo encontrado no lixo, ou até mesmo no chão com a caminhada do dia, consigo fluir e visualizar em meus pensamentos como será se for transformado numa obra de arte. E também a interacção que estou a ter com os artistas pertencentes ao Reciclarte, está ser fenomenal levar essa experiência e conhecimento de outros artistas dessa mesma componente que é a Reciclarte.

Mas não é a primeira exposição em que participa?

Não é a primeira exposição de arte em que participo, mas esta tem uma diferença: o foco. As outras em que já participei não tiveram como centro o meio ambiente, redução da poluição ambiental e, no geral, o objectivo de demonstrar que podemos sim transformar o lixo em algo para reutilizarmos.

Foi a vencedora do concurso "Plasticamente Arte" um projecto da Ecoangola financiando pela União europeia. Como olha para esta premiação?

Olho para esta premiação como uma oportunidade para poder crescer mais em termos de visão artística e conhecimento sobre o mesmo assunto, e a necessidade de trazer mais a reciclagem nas minhas obras, e claro ser mais amiga do meio ambiente.

Como este concurso trará valor ao seu trabalho?

Acredito que trouxe muita valorização ao meu trabalho. Hoje um das minhas obras foi internacionalizado e isso é muito gratificante.

Como assim internacionalizado?

Sim, porque o meu quadro já foi comprado e está pelo mundo (risos).

E que outras benesses acedeu por via do concurso?

Também que está garantida uma exposição individual, no caso a minha primeira individual, que está programada para 2022 na Fundação Arte e Cultura, propriamente na Galeria Tamar Golan. Vou aproveitar esta oportunidade que surgiu a partir do concurso "Plasticamente Arte" para trazer a discussão sobre o meio ambiente com as minhas obras de reciclagem.

Porque escolheu "a catadora de lixo" como tema para a obra do concurso?

Escolhi "a catadora de lixo" para o concurso por ser alguém propenso a ser humilhado e menosprezado pela sociedade. Então, decidi abordar a desvalorização desse profissional que a sociedade não vê como profissional que recolhe o lixo, separa o lixo para o sustento familiar ou para outros fins. Essa pessoa já está fazer bem ao meio ambiente, directamente e indirectamente. A maior parte dos catadores apresentam-se de forma muito precária que até chegam a ser chamados de malucos. Uns até de tanta necessidade acabam por comer no lixo. Eles fazem isso porque não têm o que comer. Uns preferem fazer isso para não roubar, por isso peço mais empatia por eles. Eu, em particular, considero-me uma catadora de lixo porque vou recolhendo lixo na rua para o uso em minhas obras de arte.

(Leia o artigo integral na edição 646 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Outubro 2021, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)