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"Ando muito interessado em colaborar com outras artes, como o cinema, e queria um dia descobrir a escultura"

ONDJAKI

O documentário "Oxalá cresçam pitangas" revela o realizador Ondjaki, que, hoje, nos traz o "vou mudar a cozinha", filme que já participa no Festival Internacional de Roterdão. Sobre a geração de artistas de que faz parte responde com questões: "Olho como um desafio. Quem são? Quem somos? O que podemos fazer pelos outros, os que nos seguirão?" Questões que também revelam o homem por trás do escritor e realizador.

Como surgiu o realizador em Ondjaki, que nos brinda agora com o filme "Vou mudar a cozinha"?

Surgiu em 2005, quando me juntei ao Kiluanje Liberdade para filmar o documentário "Oxalá cresçam pitangas". O resto vai acontecendo, pequenos filmes, participações, ajudar os amigos noutros filmes, passando pelo Brasil, Portugal e Angola.

Foi fácil escrever uma curta-metragem ou os seus anos de escrita ajudaram?

Não existe "fácil" na escrita ou no cinema. Escrever contos e romances não é igual a escrever para cinema, mas são áreas que se tocam, sim. A curta metragem "Vou mudar a cozinha" é uma adaptação de um conto (inédito) meu. E não, não foi fácil. Aborda a guerra no "Vou mudar a cozinha".

Porquê a guerra e não a paz, atendendo ao nosso contexto?

Porque a arte é fazer aquilo que nos é urgente, e este filme, falando da guerra, fala também da paz. Mas creio que vai além disso: fala da condição da mulher em tempos de guerra e da condição interna da mulher na guerra com os homens. O nosso contexto não é de paz, mas sim de pós-guerra.

O filme já está a participar no Festival Internacional de Roterdão, na Holanda?

As sessões presenciais do festival foram canceladas. Há uma espécie de festival online a decorrer e, sim, fazemos parte dessa mostra online. Já vimos duas exposições individuais de pintura suas.

Podemos esperar mais?

Não, não creio que vejamos mais. Já não pinto quadros, só pinto paredes de casa e na casa de amigos.

Devemos esperar vê-lo noutras artes ou fica-se pela pintura e pela literatura?

Gostaria de poder dizer que fico na e pela literatura, mas ando muito interessado em colaborar com outras artes, como o cinema. E queria um dia descobrir a escultura.

Ainda há quem o trate de Ndalu de Almeida, ou este perdeu-se no Ondjaki?

Não se perdeu, andam perto um do outro. Às vezes, um manda cartas ao outro, às vezes esbarram-se num espelho, num reflexo de janela ao fim da tarde, no reflexo do mar. "Tenho passado mais tempo com o Ondjaki", diz o Ndalu quando fala comigo.

Gosta dos desafios que o seu nome traz até si?

Creio que avalio as coisas de outro modo. Não são os nomes que trazem desafios, são os contextos de vida que nos acompanham, que nos formam, a que somos levados, e alguns que escolhemos. Aceito alguns desafios. Estou a aprender, devagar, a dizer "não" a outros.

Como foi publicar o livro do seu pai?

Como deve calcular, eu publiquei um autor, não publiquei o meu pai. Quem escreveu o livro "O Incesto Real" foi o autor Júlio de Almeida, mais conhecido como Jujú. Eu publiquei esse autor, como publiquei o moçambicano Guita Jr. Ainda este ano, a editora Kacimbo vai publicar mais autores, uns bem conhecidos, outros que vão estrear na Kacimbo. E creio que "vamos gostar".

Está onde gostava de estar hoje ou as circunstâncias do seu trabalho o trouxeram até aqui?

Estou muito feliz de estar a trabalhar em Luanda, numa livraria, numa editora, junto dos amigos da Geração 80, que fazem filmes lindos e importantes. De novo, são as circunstâncias da vida que me põem nos lugares. O meu trabalho costuma vir de dentro. Também gosto de começar a pensar em estar noutros lugares do sul, arredores de Benguela, perto do Lubango, nas bermas do Namibe.

(Leia o artigo integral na edição 658 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Janeiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)