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Análise

O futuro das empresas africanas: Entre o lucro e o propósito

Análise

O futuro pertence às empresas que souberem unir o pragmatismo da economia com a sensibilidade da alma africana. Porque o verdadeiro progresso não está em conquistar o mundo, mas em servi-lo com sabedoria, coragem e propósito. É o momento para as empresas africanas olharem para dentro e repensarem o seu papel no mundo.

O futuro das empresas africanas não será definido apenas por números, mas por consciência. O continente está a viver um momento decisivo: entre o modelo tradicional de crescimento, assente no lucro imediato, e um novo paradigma empresarial, mais humano, sustentável e interdependente. Em Angola, e em várias nações africanas, começa a emergir uma geração de líderes que entende que o sucesso económico só é verdadeiro quando cria valor para a sociedade e respeita a vida.

O despertar africano

Durante décadas, o discurso sobre África esteve preso à narrativas de dependência e atraso. Hoje, o continente apresenta uma energia diferente: a do renascimento económico com identidade própria. Empresas locais estão a reinventar cadeias produtivas, a apostar em inovação verde, em formação de jovens e em responsabilidade social. Este despertar mostra que o futuro não pertence às economias mais ricas, mas às mais conscientes - aquelas que conseguem alinhar o desenvolvimento com o propósito.

O tripé do futuro: ESG, propósito e consciência

O conceito de ESG (Environmental, Social and Governance - Ambiental, Social e de Governança) é cada vez mais central no mundo empresarial. Deixou de ser apenas um requisito para investidores estrangeiros e tornou-se critério de sobrevivência. Empresas que ignoram o impacto ambiental ou social perdem credibilidade e mercado.

Segundo o Relatório da McKinsey sobre Sustentabilidade em África (2025), as organizações que adotaram políticas ESG cresceram 30% mais rápido do que as que não o fizeram, e atraíram o dobro de investimento internacional. Mas o ESG, isoladamente, não basta. É preciso propósito - a força interior que dá sentido ao que se faz.

E é preciso consciência - a lucidez para perceber que toda decisão empresarial é também uma decisão humana. A empresa do futuro será aquela que unir propósito e lucro sem contradição: que cria riqueza e, ao mesmo tempo, cuida da vida.

A alma africana como vantagem competitiva

O continente africano possui algo que o Ocidente tenta recuperar: uma visão integradora da existência. A filosofia Ubuntu ("eu sou porque nós somos") é, talvez, o maior ativo imaterial de África. Aplicada ao mundo empresarial, ela traduz-se em cooperação, solidariedade e consciência de interdependência. Um exemplo contemporâneo desta visão encontra-se em Burkina Faso, onde o Presidente Ibrahim Traoré tem promovido uma abordagem de desenvolvimento assente na soberania económica, na valorização dos recursos locais e na mobilização comunitária. A sua visão defende que o progresso africano deve nascer de dentro, apoiando-se em valores culturais, ética de trabalho e identidade nacional.

Da mesma forma, as empresas africanas são chamadas a seguir este princípio: crescer com base na própria essência, criando soluções que sirvam o povo e respeitem o território. Este tipo de liderança, inspirada na autenticidade africana, mostra que o futuro não se constrói copiando modelos estrangeiros, mas reinventando- -os à luz da realidade e dos valores do continente.

Empresas inspiradas pelo Ubuntu constroem equipas com espírito de comunidade e criam valor partilhado. Em Angola, Moçambique e Cabo Verde, multiplicam-se projetos que combinam inovação e impacto social: desde cooperativas agrícolas lideradas por mulheres até startups tecnológicas que unem inclusão e sustentabilidade.

A verdadeira força de África está nesta capacidade de transformar escassez em criatividade e vulnerabilidade em propósito.

Liderança consciente e o papel das mulheres

As empresas que estão a mudar o panorama africano têm um elemento em comum: líderes com visão humana. E muitas dessas lideranças têm rosto feminino. As mulheres africanas estão a emergir como arquitetas de um novo modelo económico, guiado por empatia, resiliência e sentido de missão.

Segundo o African Development Bank (AfDB), empresas lideradas por mulheres em África têm 25% mais probabilidade de reinvestir lucros em educação e bem-estar comunitário.

A liderança consciente não procura poder - procura coerência. É a capacidade de liderar com valores, ouvir com atenção e agir com coragem. Essa é a liderança que o mundo precisa e que África pode oferecer.

Desafios e oportunidades

Apesar dos avanços, as empresas africanas enfrentam desafios estruturais: burocracia, instabilidade económica e défice de literacia digital. Mas é precisamente neste contexto que nasce a oportunidade de inovar. As próximas décadas dependerão da capacidade de criar ecossistemas empresariais colaborativos, onde o Estado, o setor privado e a sociedade civil trabalhem em conjunto.

A transformação digital, a transição energética e a educação serão os pilares dessa nova era. Empresas que invistam em energia limpa, economia circular e formação ética dos seus colaboradores estarão a construir o futuro - não apenas a sobreviver no presente.

Lucro com alma: o caminho possível

O lucro não é inimigo do propósito. Pelo contrário, o lucro é a prova de que a empresa é sustentável - mas o propósito é o que lhe dá sentido. Uma organização que apenas gera dinheiro é como um corpo sem alma: funciona, mas não vive. A consciência empresarial africana começa quando se entende que crescer é também cuidar. 2026 será o ano em que África consolidará o seu papel como continente da esperança - não por caridade, mas por consciência.

O futuro pertence às empresas que souberem unir o pragmatismo da economia com a sensibilidade da alma africana. Porque o verdadeiro progresso não está em conquistar o mundo, mas em servi-lo com sabedoria, coragem e propósito.

À medida que 2026 se aproxima, este é o momento para as empresas africanas olharem para dentro e repensarem o seu papel no mundo. Que cada plano estratégico seja também um plano de consciência - com metas que não se limitem a números, mas incluam pessoas, impacto e propósito. Porque o futuro que sonhamos começa agora, nas decisões que tomamos hoje.

*Ariana Ortet Vigelandzoon - Coach, Terapeuta Holística e Assessora rganizacional

Edição 857 do Expansão, sexta-feira, dia 19 de Dezembro de 2025

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