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Angola

"Catadores" de lixo continuam a operar sem regras nem protecção, lucros ficam com revendedores

ACTIVIDADE OCUPA CADA VEZ MAIS PESSOAS NO MEIO DE CRISE DE EMPREGO E CUSTO DE VIDA

Sem regulação, os preços dos resíduos recicláveis são definidos pelos compradores (intermediários e indústrias de reciclagem), mediante a procura e a oferta. Os catadores, que são quem "põe a mão no lixo", não têm margem para negociar e vendem o material a valores 6 a 9 vezes inferiores ao preço de revenda.

A actividade de quem revira os contentores de lixo, valas de drenagem, sucatas e até mesmo aterros sanitários à procura de resíduos recicláveis é medida por uma renda fixada por quem não enfrenta os perigos das lixeiras. Em Luanda, os valores médios, por tonelada, praticados oscilam entre 100 a 120 mil Kz para o plástico pet, 500 mil a 1 milhão Kz para o alumínio, 50 a 70 mil kz para o papelão e 20 a 30 mil Kz para o vidro. O mais valioso e rentável é o cobre, um metal raro cujos preços por tonelada oscilam entre os 2.500 e os 3.000 milhões Kz, consoante a empresa que compra, a quantidade e a qualidade do material entregue.

João Pedro, de 36 anos, trabalhador independente há 14 anos, conta que tem recolhido resíduos, como latas, ferro, plástico, papelão e cobre, ou seja, quase todo tipo de materiais e, em média, demora um mês para juntar uma tonelada de cada um. Só depois comercializa, no caso do ferro, à Fabrimetal, em Viana, a 100 mil Kz a tonelada. Já a tonelada das latas de alumínio é vendida a 200 mil, o papelão a 150 mil e o plástico 50 mil Kz. Se num mês conseguir juntar uma tonelada de cada um destes resíduos, João consegue 500 mil Kz. Deste montante, retira aproximadamente 50 mil Kz para pagar a quem assegura o transporte da mercadoria até ao comprador.

Preços por quilo

De fora desta equação fica o cobre, metal raro "e o mais cobiçado", tanto que João Pedro nunca conseguiu juntar uma tonelada. "Apenas consegui reunir alguns quilos, que tenho vendido a um valor entre 5.000 e 5.500 Kz o quilo", esclarece o catador, que reside no bairro Benfica com a família, constituída por sete membros.

"Com esta actividade, sustento a minha família e, em casos de escassez de alimento e outras necessidades em casa, opto por comercializar os resíduos por quilo nas pequenas casas de pesagem, só para manter o "fogão aceso", lamentou o homem. Nestes espaços, o quilo de alumínio 500 Kz, a lata 400 Kz, o ferro e o plástico 200 Kz cada e o papelão 50 Kz, atendendo sempre à qualidade dos resíduos entregues.

Quanto a possibilidade de se tornar membro de uma associação de recolha de lixo para reciclar e, assim, passar a ter uma renda mensal fixa, João Pedro responde que não está nos seus horizontes, devido aos salários muito baixo praticados. "Um salário de 50 mil Kz mensal é abaixo do que poderia obter trabalhando de forma independente, pois essa remuneração inclui o valor do transporte e, com a subida do preço da corrida de táxi, não renderia nem daria para sustentar a minha família", afirmou.

Erica Tavares, coordenadora técnica da associação Não Governamental (ONG) EcoAngola, conta que "os preços não são estabelecidos pelo Estado e variam consoante a demanda do mercado". Por exemplo, o plástico pet pode ir dos 100 ao 120 Kz/kg, o alumínio dos 500 aos 1.000 Kz e o cobre, que tendem a ter maior valor no mercado, vai dos 2.500 aos 3.000 Kz/kg. O vidro e o papel apresentam os valores mais baixos do mercado, podendo ser vendidos pelos catadores entre 20 a 30 Kz, no caso do vidro, e de 50 a 70 Kz, no caso do papel.

Fiscalização da actividade

A actividade de compra de resíduos sólidos para revenda é exercida predominantemente por cidadãos provenientes do Mali, Senegal, Burkina Faso e Costa do Marfim, segundo a Agência Lusa.

No caso dos senegaleses, em particular os que operam no bairro de Camama, no município com o mesmo nome, são estes que estipulam o preço, segundo revela ao Expansão o catador João Pedro, porque não aceitam negociar a mercadoria. Os senegaleses estipulam o preço e os catadores ou aceitam ou procuram outro ponto de recolha, a não ser que estejam organizados em cooperativas, nesse caso têm maior poder negocial.

"Se não concordamos, eles não compram e assim saímos a perder. O preço deles é 100 mil Kz por tonelada de ferro e, posteriormente, revendem aos chineses ou outras fábricas por valores que chegam a um milhão Kz, uma diferença de 900 mil Kz. Eles ganham muito mais, quando somos nós quem vamos para o campo", desabafa João Pedro.

Já o quilo do papelão é comprado a 50 Kz pelos senegaleses, que depois revendem numas das fábricas de reciclagem localizada no Kikuxi a 300 Kz/kg.

Leia o artigo integral na edição 840 do Expansão, de Sexta-feira, dia 22 de Agosto de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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