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Angola

O negócio dos Kupapatas cresce nos bairros periféricos de Luanda

COM A CRISE ECONÓMICA E O DESEMPREGO

Para as populações é a oportunidade de mobilidade em estradas e bairros onde outros veículos não entram. Para os jovens motoristas é a oportunidade de terem algum rendimento, que pode chegar a 15 mil Kz/dia, mas metade vai para o dono do veículo. O negócio está crescer, em especial na zona de Viana.

São jovens, uns com esperança e objectivos claros, outros com a sede de viver apenas o imediato. Mas todos têm em comum o serviço de táxi ao volante de uma Kupapata para lhes segurar a vida. O negócio cresce sob três rodas em várias zonas da cidade de Luanda, sobretudo nas zonas do município de Viana.

Nos bairros periféricos, onde as estradas degradadas e a insegurança limitam o acesso a outro maior de transporte, as kupapatas ganham importância no dia a dia das populações. Inicialmente vocacionadas para o transporte de mercadoria, hoje garantem fundamentalmente a deslocação de pessoas.

As Kupapatas que fazem serviços de táxi são, na sua maioria, encapadas com dois assentos de madeiras estofados, adaptados, com a capacidade de transportar até 6 passageiros sentados. Levam pessoas e mercadoria, e para as vendedoras que diariamente se deslocam para os mercados, são o meio de transporte mais barato, uma vez que nos táxis a mercadoria a transportar tem sempre um custo superior.

Quando apareceram custavam cerca de 400 mil Kz, mas no último ano os preços dispararam e hoje o veículo de três rodas custa um pouco mais de 800 mil Kz. Junta-se depois um custo para o adaptar ao transporte de passageiros, já existem especialistas nesta área, sendo pode acrescentar-se mais 200 mil Kz para esta tarefa.

O número de kupapatas também aumentou porque muitos jovens que ficaram sem emprego ou já desempregados, viram nesta actividade uma possibilidade acessível de terem um rendimento para viver. Em dias com muito fluxo de passageiros chegam a facturar até 20 mil Kz por dia, o que corresponde a 100 mil Kz em cinco dias úteis, mas raramente é assim. No entanto é muito atractivo.

Recentemente foi publicado um decreto presidencial que regula o "exercício remunerado da actividade de transporte de passageiros e mercadorias em ciclomotores, motociclos, triciclos e quadriciclos", não existia qualquer legislação sobre o assunto, que define as regras e os procedimentos para esta actividade.

Mais uma vez se optou por uma lei completamente desajustada, com exigências que 95% não vai conseguir cumprir, com requisitos e procedimentos administrativos que a serem respeitados demorariam meses a tratar, e que tal como aconteceu nos táxis, abre a porta ao crescimento do negócio das "gasosas" com a polícia e as autoridades municipais. A lei é datada de 30 maio, três meses depois nada mudou nesta actividade, a não ser as queixas dos motoristas que agora têm que tirar parte dos seus rendimentos para dar às autoridades, que de vez em quanto aparecem, pois já sabem da nova lei.

Metade vai para o patrão

Gilberto Fortuna exerce a actividade há 4 anos no município de Viana, no mercado do 30, entra "na via" às quatro horas da manhã, que é o período de maior fluxo, em função das pessoas que vão vender naquele mercado. Trabalha até as 21 horas e em média, costuma a facturar 15 mil Kz/dia. "Dos 15 mil que consigo facturar diariamente, sete mil Kz entrego ao patrão, (o que dá 35 mil por semana], sendo que os sábados e Domingos são reservados para mim (motorista)", explica à reportagem do Expansão.

Fortuna começou como motorista de Kupapata aos 16 anos. Hoje, aos 20 anos, não sabe fazer outra coisa e diz que, com o dinheiro que ganha, consegue viver e "sustentar alguns vícios".

Por outro lado, Jorge Evaristo vive com a esposa e um filho, é "kupapata" e exerce a activadade há três anos no Bairro da CAOP, também em Viana. "O dinheiro nem sempre chega. Quando o esposo é o único que trabalha os olhos da mulher viram-se exclusivamente para o companheiro, mas nós conseguimos aguentar", esclarece.

Jorge tinha um emprego formal há mais de 5 anos, mas foi despedido. Hoje afirma que é melhor trabalhar como moto-taxista, pois na empresa por onde andou "o salário não compensava". Ele está sob regime de contrato, em que depois de um determinado período, o motorista torna-se o proprietário de motorizada. De acordo com o jovem de 26 anos, estes tipos de contratos a acontecem com pouca frequência.

No caso do Jorge, a motorizada já é usada e foi reparada pelo actual proprietário, que a comprou em mau estado de conservação. "Tenho 12 meses para pagar 40 mil Kz/semana ao patrão, depois deste período a motorizada será minha", explica.

Se fizermos as contas o proprietário vai receber nos 12 meses mais 2 milhões Kz. Jorge é pintor de profissão e já pensa em voltar para universidade quando for o proprietário da motorizada.

Os acordos com os patrões variam entre 5 mil a 8 mil Kz/dia, dependendo sempre do estado de conservação da motorizada. Quanto mais nova a motorizada for, maior é a quantia a ser paga ao proprietário. Em casos em que o veículo precisar de reparação as partes entram em acordo.

As motorizadas de três rodas actuam onde há poucos carros em serviços de táxi e quase sempre no meio dos bairros. Geralmente, em estradas estreitas e trajectos curtos, os motoristas competem para transportarem mais passageiros durante o dia, o que torna a viagem insegura.

Dona Joaquina vende no mercado do 30 e conta ao Expansão que a viagem não é segura e que já esteve envolvida em um acidente. "O kupapatata é barato, mas uma vez a motorizada virou, todos caímos. Teve alguém que partiu a perna, eu desloquei o braço", recorda a senhora. Refere ainda que acontecem muitos acidentes, mas felizmente, raramente são muito graves.

(Leia o artigo integral na edição 691 do Expansão, de sexta-feira, dia 9 de Setembrode 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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