A abstenção foi a grande vencedora e MPLA perdeu em Luanda, Cabinda e Zaire
Em Agosto destacamos as eleições gerais, onde votaram cerca de 6,4 milhões de angolanos, quase igual ao que tinha acontecido há 10 anos, em 2012. Só que, naquele ano, a população era estimada em 16 milhões, metade do que é hoje, e a base eleitoral tinha 9 milhões de inscritos, este ano ultrapassava os 14 milhões.
A realização das eleições gerais no dia 24 de Agosto, por sinal as quintas, desde que Angola é independente, foi o facto mais marcante do mês em referência. A dimensão da abstenção dos eleitores colocou o MPLA na posição de segundo, apesar de garantir a maioria parlamentar. Foi uma eleição considerada por muitos analistas como sendo a mais concorrida desde de 1992, data em que se realizou o primeiro pleito eleitoral. Com o crescimento da oposição, que junta conseguiu 49% dos votos expressos.
As quintas eleições angolanas criaram vários cenários desde as incertezas de convulsões sociais até a alternância do poder em Angola, sendo que no final o balanço acabou ser positivo, sem que tenham havido incidentes de grande relevância O MPLA manteve a maioria parlamentar, mesmo sendo o seu pior resultado de sempre, apenas 51%, tendo perdido cerca de um milhão de votos em comparação com as eleições de 2017, passando de 4,11 milhões para apenas 3,16 milhões. Aliás, a erosão do partido da maioria tem sido feito à ordem de 10% por eleição, 81,76% em 2008, 71% em 2012, 61% em 2017 e desta vez, em 2022, 51%, o que não deixa de ser curioso.
Foi um aviso à navegação do Governo. Não deve ser analisado apenas como um pormenor o facto de estas terem sido as eleições com maior taxa de abstenção de sempre, 55%, sendo que votaram menos 700 mil eleitores do que em 2017, apesar de a base eleitoral ter crescido 56%.
Os números apontam que nas últimas eleições terão votado 6,4 milhões de angolanos, quase igual ao que tinha acontecido há 10 anos, em 2012. Só que, naquele ano, a população era estimada em 16 milhões, metade do que é hoje, e a base eleitoral tinha 9 milhões de inscritos, este ano ultrapassava os 14 milhões. Especialistas acreditam que a abstenção foi a grande vencedora.
Embora o MPLA tenha garantido a maioria parlamentar para governar sem negociar muito dos seus programas de Governo com a oposição, destaca-se igualmente a perda de influência do MPLA em Luanda, que passou de 1,028 milhões de votos em 2017 (48,7%) para apenas 650 mil em 2022 (33,31%), muito abaixo do esperado. O resultado foi o balde de água às aspirações do MPLA, o que tem de ser olhado com bastante atenção, pois é nesta província que se concentram 33% dos eleitores, grande parte da vida económica, social e política.
Já a UNITA, na capital angolana passou de 757 mil votos em 2017 (35,44%) para mais de 1,23 milhões (62,59%), um movimento que já se previa, mas teve uma dimensão maior do que era estimado pelo partido do poder. O MPLA, que ganhou em todas as províncias em 2017, perdeu nestas eleições, de 2022, em Cabinda, onde conseguiu apenas 26,36% dos votos e um deputado, sendo que a UNITA conseguiu quatro mandatos e um percentual de 68,55%. Apesar de Adalberto da Costa Júnior não ter ido a esta província durante o período de campanha eleitoral.
O MPLA teve outra derrota no Zaire, e já agora dizer que apenas no Cunene conseguiu o pleno, 5- -0, quando em 2017 tinha conseguido este score também no Cuanza Norte, Cuanza Sul, Huíla e Malange. Isto mostra que a erosão do partido da maioria não é apenas na capital, mas está a perder influência naquelas províncias que sempre foram bastiões do partido.
Uma outra lição deve ser tirada desta eleição, uma vez que em período de campanha eleitoral viu baixar as suas intenções de voto. A forma como geriu a comunicação para os indecisos foi desastrosa, lembrar, por outro lado, que a estratégia da comunicação social pública ultrapassou todos os limites do bom senso, provocando em muitos dos cidadãos um voto de protesto, que veio a reflectir-se nos resultados finais. O comportamento da comunicação social pública ainda hoje é discutido, e foi também responsável por esta erosão.
Resultados menos maus para o partido do poder em Benguela onde conseguiu manter a maioria 54,41% contra 42,8% da UNITA, na Huíla onde só perdeu um mandato para a oposição depois do pleno de 2017, na Lunda Norte onde teve enormes problemas durante os últimos anos, mas garantiu 3 deputados e 56,31% dos votos, e no Cuando Cubango em que manteve quatro mandatos, apesar dos enormes problemas em que vive a população daquela região.
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