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Aumento do preço do gasóleo penaliza a produção nacional

Angola

O recente aumento do preço do gasóleo reflectiu-se no aumento dos fretes entre os 30 e os 50%, o que, dependendo dos produtos e quantidades, podem ter reflexos nos preços dos produtos que podem chegar até 10% por quilo.

A degradação das vias de acesso à capital, os excessivos controlos na estrada, que representam mais custos, e a especulação comercial são outros factores que ajudam a explicar o facto de os preços da produção nacional terem aumentado mais do que os produtos alimentares importados, como confirma o Índice de Preços no Grossista do INE.

Apesar de todos estarem de acordo que só com o reforço da presença dos produtos nacionais nas prateleiras dos supermercados e nas bancas dos mercados informais poderá haver uma inversão na tendência crescente dos preços, a verdade é existem factores que são externos à cadeia comercial que acabam por encarecer os produtos nacionais.

Para os produtores contactados pelo Expansão, o recente aumento do preço do gasóleo teve um impacto significativo no transporte de mercadorias, que em termos práticos se reflectiu no aumento dos fretes em valores que oscilam entre os 30 e os 50%, o que, dependendo dos produtos e das quantidades, podem depois ter reflexos nos preços dos produtos que podem chegar até 10% por quilo.

A degradação das estradas de acesso à capital é também um factor importante, uma vez que muitos produtos hortícolas que seria possível produzir em províncias como Huambo, Lubango ou Benguela, não tem hipótese de chegar à capital em condições e preços competitivos. Para províncias mais perto, como Cuanza Norte, Cuanza Sul ou Bengo, ainda é possível pensar numa estratégia de escoamento no mercado de Luanda, para as restantes ainda é muito difícil.

A questão dos excessivos controlos na estrada, que agora foram atenuados com uma norma da Polícia Nacional a limitar os locais onde estes poderão ser feitos, também é salientado pelos empresários agrícolas como um forte constrangimento para definição de preços mais competitivos. Tem-se falado bastante da possibilidade do caminho de ferro poder ser uma alternativa, mas não existem hoje condições, infraestruturas e meios próprios que permitam que isso aconteça. Mas é obviamente uma solução a médio e longo prazo, quando as plataformas logísticas estiverem implantadas e contribuam para que este fluxo possa crescer.

A forma como a estrutura comercial da produção alimentar se está a constituir, com os grande grupos, que também têm estabelecimentos comerciais, a dominar o abastecimento à capital, sem que os pequenos produtores ou as cooperativas das províncias consigam entregar a sua produção de forma independente aos distribuidores da capital, contribui para que os preços aumentem.

Também o efeito perverso da proibição às importações de alguns produtos, que obriga a que se recorra à produção nacional quando ela existe, faz disparar os preços. Isto porque está, como foi explicado acima, na mão de meia dúzia de operadores com capacidade de escoamento, o que é uma porta aberta para a manipulação de preços. Tal como aconteceu no passado, estes são capazes de provocar escassez de determinado alimento para projectarem os preços, e depois poderem vender em condições mais vantajosas os seus stocks.

Aqui tem de entrar uma fiscalização eficaz e transparente, que não se deixe "amaciar" por vantagens financeiras, que tal como o Expansão tem vindo a noticiar nas últimas semanas, infelizmente ainda é uma prática corrente, o que desequilibra o mercado e empurra os preços para cima. Mas mais do que isso. Dá força ao "loby da importação", maioritariamente sediado em Luanda.

É importante também não esquecer que os maiores importadores são também estes grande grupos que tomam conta do abastecimento da capital com a produção nacional, o que é factor perigoso para o desenvolvimento da produção agrícola nacional. Têm de existir grandes operadores agrícolas que não tenham ligações à distribuição, têm de existir médios produtores que consigam completar a cadeia comercial de forma independente, e têm de existir pequenos produtores que, associados, desenvolvam a sua actividade sem estar à espera do Estado ou desses grandes grupos para garantirem o escoamento da sua produção.

Leia o artigo integral na edição 782 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Junho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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