Investimentos das seguradoras crescem 12% para 412.571 milhões Kz
A carteira de investimentos das seguradoras mantém-se fortemente concentrada em depósitos a prazo e títulos do Estado, refletindo as exigências de liquidez e as obrigações legais. A fraca profundidade do mercado de capitais continua a limitar a diversificação dos investimentos.
O volume de investimentos realizados pelas seguradoras em Angola registou um crescimento de 12% em 2024, atingindo 412.571 milhões de kwanzas, de acordo com cálculos do Expansão com base no relatório do mercado da Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros (ARSEG).
O aumento confirma um reforço gradual da capacidade financeira do sector, mas expõe, simultaneamente, os limites estruturais do sistema financeiro nacional e a reduzida margem de manobra das seguradoras na gestão dos seus excedentes. Apesar do crescimento nominal, o perfil de investimento das companhias mantém-se praticamente inalterado nos últimos anos.
A carteira continua fortemente concentrada em depósitos a prazo (31%), títulos de rendimento fixo - essencialmente títulos do Estado - com 30%, imóveis (21%) e títulos de rendimento variável, que representam apenas 18%. No conjunto, depósitos, dívida pública e imobiliário absorvem cerca de 80% dos investimentos, um padrão que se repete de forma consistente desde pelo menos 2020.
Segundo Cristina do Nascimento, especialista em seguros, os números mostram que "ainda não há muita alteração no perfil de investimentos das empresas", embora reconheça que o sector começa a dar sinais de maior dinamismo. "Até há bem pouco tempo, os investimentos estavam muito concentrados em imóveis e títulos, porque o próprio investidor apresentava receios para diversificar mais. Agora vão surgindo outros instrumentos que poderão permitir uma maior diversificação", afirma.
Historicamente, o imobiliário foi o principal destino dos investimentos das seguradoras, num contexto de escassez de instrumentos financeiros e elevada inflação. Nos últimos anos, porém, a estratégia mudou gradualmente, com uma maior aposta na dívida pública, impulsionada pelas taxas de juro elevadas e pela previsibilidade oferecida pelo Estado.
Entre 2023 e 2024, o investimento em títulos do Estado cresceu 27%, passando de 95.567 milhões para 121.277 milhões de kwanzas, tornando-se um dos principais factores de crescimento da carteira global. Cristina do Nascimento sublinha que esta opção não é apenas uma questão de rentabilidade, mas sobretudo de adequação às responsabilidades do sector.
"No momento em que o investidor pensa em fazer investimentos, são consideradas duas componentes fundamentais: a rentabilidade versus o risco, sempre olhando para as responsabilidades que tem para com os segurados", explica, acrescentando que os títulos do Estado continuam a ser particularmente atractivos pela conjugação de segurança, prazos ajustados e juros elevados.
O peso elevado dos depósitos a prazo está, por sua vez, directamente ligado à estrutura do mercado segurador angolano, dominado pelos ramos Não Vida. Como refere a responsável da Nossa Seguros, estas apólices têm, em regra, validade anual, o que exige "disponibilidades financeiras rapidamente mobilizáveis para o pagamento de sinistros". Esta realidade limita a capacidade das seguradoras para assumir investimentos de longo prazo, ao contrário do que sucede nos fundos de pensões ou no ramo Vida, cujas responsabilidades se estendem por períodos de 10 a 20 anos.
Diversificação do Investimento
Para Jorge Mendes, analista de mercado, a concentração dos investimentos das seguradoras em títulos do Estado e depósitos a prazo não deve ser interpretada apenas como uma postura excessivamente conservadora.
"Não se trata de uma escolha meramente prudencial, mas de uma consequência da própria configuração do nosso mercado financeiro", defende. Na sua leitura, existem desafios estruturais que condicionam a diversificação e que não dependem exclusivamente das seguradoras.
"O mercado de capitais ainda está numa fase de desenvolvimento, apesar dos esforços que têm sido feitos para admitir novas empresas à cotação e aumentar a atractividade da Bolsa para investidores institucionais. Há todo um conjunto de medidas que precisam de ser aprofundadas para que exista um mercado capaz de permitir uma verdadeira dispersão do risco", acrescenta.
As alternativas de investimento em Angola são escassas, limitando a capacidade das seguradoras para diversificar as suas carteiras sem comprometer as exigências legais de solvabilidade e liquidez impostas pelo regulador. Ainda assim, operadores do sector acreditam que a criação da Resseguradora Nacional poderá, a médio e longo prazo, alterar este quadro. Ao permitir uma maior retenção de capital no país, a nova entidade poderá estimular o aparecimento de novos produtos financeiros e contribuir para uma maior sofisticação do mercado.











