Criadores de gado Zebu do Brasil querem aumentar presença em Angola
As empresas brasileiras que estiveram em Angola, que actuam em toda a cadeia de valor do sector, estão interessadas em aumentar a quota de mercado dos seus produtos no sector do agronegócio nacional, que se encontra num estágio inicial de desenvolvimento. Para que o sector floresça e se torne competitivo é necessário investir em conhecimento e tecnologia.
Uma delegação da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) esteve em Angola, ao longo da última semana, para conhecer a realidade da produção agropecuária e desenvolver contactos comerciais no País. A comitiva, que incluiu vários representantes de empresas de genética, sementes e maquinaria, entre outros serviços especializados, teve a oportunidade de conhecer algumas fazendas privadas na região da Quibala (Cuanza Sul). A iniciativa faz parte do programa "Brazilian Cattle", promovido pelo governo brasileiro através da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX).
Sendo actualmente um dos maiores produtores de carne do mundo, o Brasil desenvolveu um modelo próprio de exploração pecuária, desde a década de 1970, basicamente assente em dois vectores: o acesso e desenvolvimento de tecnologia avançada (baseada na formação adequada dos profissionais que actuam no sector) e na extensão rural, como forma de propagar o conhecimento junto dos médios e pequenos produtores, aqueles que naturalmente precisam de mais apoio técnico e financeiro para aumentarem e melhorarem os níveis de produção.
Hoje, segundo as informações partilhadas pela ABCZ, apesar de a área cultivada ou explorada pelo agronegócio ter caído para cerca de metade em relação à década de 1970, a produção de carne e leite, entre outros produtos, aumentou exponencialmente, o que demonstra ganhos acentuados de produtividade no sector do agronegócio.
"Pudemos observar o processo produtivo nas grandes fazendas e é muito interessante, porque viajamos por estrada e percebemos que a paisagem é muito semelhante à do Brasil. O bioma angolano é muito parecido com o bioma brasileiro. Seria fácil reproduzir aqui, com um modelo adaptado ao contexto, o que foi feito no Brasil ao longo das últimas décadas", afirma Raquel Borges, responsável pelo departamento de relações internacionais da ABCZ, que falou com o Expansão durante um evento que aconteceu na terça-feira, em Luanda, no Instituto Guimarães Rosa (Centro Cultural Brasil-Angola).
No entanto, para que a transferência de genética melhorada, conhecimento técnico e tecnologia avançada seja bem-sucedida, é necessário construir um modelo adequado à realidade local e providenciar assistência técnica e acompanhamento de proximidade.
"Se reparar, muitas das questões durante este encontro foram direccionadas para a área da forragem animal [a alimentação, que tem um grande impacto na produtividade]. Muitos de nós tentamos implantar produtos com origem no Brasil mas não deu certo, porque é necessário um certo nível de assistência especializada", explica Salvador Rodrigues, presidente da Federação Nacional das Cooperativas Pecuárias de Angola (FENACOOP), que também marcou presença no evento promovido pela ABCZ e pela APEX.
À procura de um modelo
Ao longo dos últimos anos, investidores e empresários angolanos que actuam no sector da agropecuária têm importado animais vivos, maquinaria e técnicos especializados brasileiros, o que levou a FENACOOP a solicitar uma linha de crédito específica para Angola que sirva para fomentar as relações comerciais entre os dois países neste sector.
"Quando você exporta genética pecuária do Brasil para o mundo, não pode exportar simplesmente um animal ou material genético, você precisa de ter no local toda a cadeia produtiva. Se isso não acontecer, os investimentos não têm condição de florescer e prosperar. É por isso que temos vários segmentos incluídos neste projecto", defende Raquel Borges.
"Nós estamos com 30 anos de atraso em relação ao Brasil, por isso, dizia na brincadeira que estamos ainda na pré-história do desenvolvimento do agronegócio", considera Salvador Rodrigues, que reconhece as carências na formação, no conhecimento e na investigação agropecuária em Angola. "É com estes elementos que vamos poder massificar o conhecimento junto dos pequenos e médios produtores. Os nossos grandes investidores, que também não passam de meia-dúzia, têm outras condições e já estão noutro patamar", considera o líder associativo.
"Hoje toda a pecuária brasileira está baseada no material genético, que é a produção de sémen e de embriões a partir dos melhores touros e das melhores raças, mas também temos muita tecnologia, nós produzimos inclusive clones", sublinha Raquel Borges, numa caminhada que indica um investimento consistente em educação e pesquisa "que pode ser repassado a outros países".
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