Custos com pessoal dispararam 24,5% para 35 mil milhões Kz em ano eleitoral
As empresas de comunicação social pública viram crescer os seus gastos em salários, mas sem os subsídios do Estado, nenhuma delas conseguiria honrar os seus compromissos com os funcionários.
Só no ano passado, as sete empresas de comunicação social do Estado gastaram 35,4 mil milhões Kz em custos com pessoal, um crescimento de 24% face a 2021, com a TPA a liderar estes gastos (38%), seguindo-se a RNA (25%), Edições Novembro (17%), Angop (10%), TV Zimbo (8%) e Media Nova (2%).
Os custos com pessoal cresceram em ano eleitoral e a "culpa" não é só da entrada da Zimbo e da Media Nova neste pacote da comunicação social estatal, já que a TPA gastou mais 2,4 mil milhões Kz do que em 2021, as Edições Novembro mais 1,5 mil milhões Kz, a Angop mais 1,1 mil milhões e a RNA mais 1,0 mil milhões Kz. Curiosamente, num ano em que já estavam na esfera do Sector Empresarial Público, e em que decorreram eleições, quer a Zimbo (+719 milhões Kz), quer a Media Nova (+266 milhões) gastaram mais em salários com pessoal do que no ano anterior.
Sem não forem contabilizados os gastos da Zimbo e da Media Nova, os custos com pessoal de TPA, Edições Novembro, RNA e Angola (Gráfica Popular não apresenta relatórios e contas há dois anos) cresceram 23% ao passar de quase 26 mil milhões Kz para 32 mil milhões Kz.
Por outro lado, este crescimento dos custos com salários até acontece numa altura em que o número de funcionários do agregado das empresas caiu. Em 2021, as quatro empresas que apresentaram nas suas contas o número de funcionários - TPA, Edições Novembro, RNA e Angop - tinham 5.553 trabalhadores enquanto em 2022 tinham 5.417, uma quebra de 136 funcionários. O maior rombo foi na TPA, que perdeu 102 trabalhadores, mas que ainda assim é a maior empregadora do sector, com um total de 2.168 funcionários, equivalente a 40% dos trabalhadores do agregado destas quatro empresas. Segue-se a RNA com 1.724 trabalhadores (32% do total), a dona do Jornal de Angola com 978 (18% do total) e a Angop com 547 (10%).
À semelhança do que acontece noutras empresas do SEP, a comunicação social do Estado emprega muita gente, e em alguns casos, senão na maioria, as empresas deste sector acabam por ter quadros a mais para o serviço que prestam. É o que acontece na TPA, em que uma fonte da empresa admitiu ao Expansão que a operadora de televisão não compra produção nacional porque depois teria dificuldade em justificar o elevado número de funcionários que tem nos seus quadros.
Já no caso das Edições Novembro, o auditor externo às contas de 2022 evidencia o que tem sido falado nos corredores da comunicação social. "A nossa análise efectuada sobre a rubrica "Custos com o Pessoal" revelou a existência de múltiplos colaboradores cujo vinculo contratual não se encontrava devidamente regularizado e/ou cuja efectividade e presença no local do trabalho não e susceptível de verificação e validação", refere a Deloitte.
E há também casos de algumas destas empresas em anos anteriores terem dívidas elevadas à Segurança Social, pelo que os funcionários que entram em idade de reforma acabam por ir para casa e continuar a receber o salário como se fosse uma prestação social, segundo apurou o Expansão junto de várias fontes. Aliás, este é um problema que acontece nas outras empresas do Sector Empresarial Público mas também no sector privado.