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Angola

Falta de dinheiro e de confiança justificam as enchentes à porta dos hospitais

FENÓMENO TEM VINDO A AUMENTAR EM LUANDA

Os custos dos transportes para se deslocarem duas vezes por dia ao hospital, a falta de confiança nas equipas médicas que os obriga a estar presentes, e o facto de a qualquer momento serem chamados para ir comprar medicamentos ou qualquer outro material gastável que faça falta, são as causas principais para a presença dos familiares à porta dos hospitais.

Os familiares de doentes que estão internados nos hospitais de referência, em Luanda, queixam-se de não haver as mínimas condições para internamento nos postos médicos dos bairros onde residem e apontam este facto como causa da aglomeração de familiares à porta das unidades sanitárias, durante longas horas e até noites, para evitar os custos de várias idas ao hospital.

"De casa para aqui é muito distante. Não tenho dinheiro para estar a ir e vir a toda hora", respondeu Esmeralda Fonseca, que tem o pai internado no hospital Josina Machel, desde o dia 3 de Julho, quando foi questionada pelo Expansão sobre as razões que a fazem passar muitas horas e noites na entrada do hospital.

Durante uma visita que o Expansão efectuou esta semana a diferentes unidades sanitárias de referência da cidade de Luanda, as famílias apresentaram várias justificações, quando confrontadas com a mesma questão: Além dos custos das deslocações com táxi, houve quem alegasse que "não confiava na equipa médica". Outros defendiam que "tinham de estar próximos para atender a qualquer chamada dos médicos, no caso de precisarem de algum material gastável" e houve ainda quem invocasse "questões culturais" ou o hábito de fazer companhia ao doente.

"Aqui não se pode abandonar o doente, porque se não esquecem- -se da hora da medicação, ou trocam-nos de cama. Muitas vezes, chamam-me para ir comprar medicamentos ou qualquer material gastável que o hospital não tem", relatou Cesaltino Vande, que tem a esposa internada no hospital do Prenda, há dois dias.

Acrescentou que, ao invés de gastar dinheiro em táxis para se deslocar a casa e de casa para o hospital, prefere permanecer com o pouco que tem no bolso para resolver qualquer necessidade que os médicos apresentam. "Mandam comprar coisas básicas, desde o cateter até sangue, caso a tua família não tenha ninguém para doar. Então, deve estar sempre aqui alguém de plantão", justificou.

Os hospitais públicos estabelecem dois períodos para possibilitar que os familiares visitem e acompanhem o estado de evolução dos seus parentes internados. Estes períodos estão definidos entre as 06h00 até às 08h00, conhecido como o horário de ajudar na higiene pessoal do doente, e das 14h00 às 16h00, conhecido como o horário do almoço.

Custos com deslocações

Contas feitas, para um familiar que vive no Zango IV e tem o parente internado no hospital Josina Machel (ex-Maria Pia), se tiver de fazer visitas nas duas vezes em que o hospital permite o acesso aos familiares, este vai ter custos de 4.000 Kz/dia, já que precisa apanhar cinco táxis (cada 200 Kz) para chegar ao hospital, uma vez que se trata de horários de ponta para os taxistas.

A mesma realidade enfrenta quem vive na zona do Sequele, Kilamba ou Benfica e tem o parente internado na maternidade Lucrécia Paím. Por exemplo, o familiar que mora no Kilamba, se tiver de se deslocar ao hospital duas vezes ao dia, nos horários das visitas vai desembolsar para o táxi 5.200 Kz/dia, já que deve fazer cinco corridas de táxi, sendo que no primeiro (Kilamba-Benfica) deve pagar 300 Kz.

Quem tem viatura própria também não está isento de custos. É o caso de Evandra Rogério que vive no Sequele e tem o esposo internado há oito dias no Hospital Militar Principal. Ao Expansão, a mulher contou que gastou 28.500 Kz em combustível durante os oito dias em que teve de se deslocar ao hospital com o seu Hyundai modelo i20, que consome em média 6,4 litros a cada 100 Km. "Estou a rezar para que o meu marido saia daqui o mais rápido possível, porque é muito oneroso e desgastante vir aqui duas vezes ao dia", desabafa Evandra Rogério.

Leia o artigo integral na edição 784 do Expansão, de sexta-feira, dia 12 de Julho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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