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"Podemos ter perdido dinheiro, mas ganhámos cultura e melhor educação musical"

Yuri da Cunha

Numa viagem inesquecível, que representou a história da música angolana, Yuri, "O Intérprete", cantou Teta Lando, ao fazer do passado a força de agora, em forma de amor. Nos bastidores, recebeu o Expansão para fazer um balanço, revelar projectos e a nova pessoa em que se tornou.

Fechar um ciclo de quatro espectáculos a cantar Teta Lando. Balanço?

É altamente positivo a todos os níveis e o feedback é dos melhores. Salas cheias, mesmo com as limitações, devido à Covid (e sob todas as medidas de biossegurança), resta-me o agradecimento a todos que se predispuseram a assistir.

Mais do que animar o público, qual é o grau de responsabilidade ao interpretar Teta Lando?

Enorme, mas prazeroso! Transmitir as mensagens, dando continuidade ao pensamento, não só criativo, mas principalmente transmitir todo o amor que deixou como legado. Do alto do palco, vi pessoas a chorar, pessoas a reflectirem, enquanto eu interpretava as suas músicas, e acredito ter cumprido com a vontade do autor, que é transmitir o amor.

Qual foi o propósito ao encerrar o ciclo no dia 1 de Maio, dia do Trabalhador?

Inicialmente teria sido apenas três concertos, mas pelo facto de ele ter trabalhado no Ministério do Trabalho, actualmente MAPTESS, embora cuidava também das fazendas do pai, nas roças, decidimos então fazer o quarto, num espaço aberto para homenagear em grande o artista que foi. Se virmos bem, mesmo que não existisse a Covid, um espectáculo dessa envergadura não se lucra com o que o público pagou.

Qual foi o custo de produção dos quatros concertos?

Só a Xicote Produções e a Kwety podem responder pelos custos, mas adianto que foi avultado, apesar de contarmos com patrocínios, aos quais agradeço. E fazendo shows com esta qualidade, não é compensatório financeiramente, mas sim pelo amor e a dimensão do Teta Lando. Ou seja, até podemos ter perdido dinheiro, mas ganhamos cultura e melhor educação musical.

Cantou Artur Nunes, homenageou André Mingas e agora Tela Lando. Num mosaico cultural muito vasto, porquê?

Pelo facto de ter sido o músico angolano que mais apelou ao amor, à concórdia e à união entre angolanos. Para além de toda a sua musicalidade, foi um ser humano incomum, não só cantando, mas provando como artista, que se sacrificou para que nós pudéssemos encontrar à sombra da mulemba e conversarmos sobre as nossas coisas: etu mu dietu (entre nós)! Teta Lando sempre quis que as suas músicas fossem ouvidas. E principalmente porque um dos seus desejos era não ver os seus vindouros terem o mesmo destino que ele.

Qual é o objectivo?

A ideia é valorizar os artistas que deram muito por nós, especialmente num período sem livre expressão, e que de repente, por razões alheias, desde políticas ou sociais, não conseguimos conhecer verdadeiramente os seus feitos.

Tendo em conta a "não boa" experiência que teve ao cantar Artur Nunes, o que reverterá para a família do homenageado?

A família do Teta Lando não está interessada em valores, mas sim em divulgar a sua música. Como artista, ele sempre esteve muito bem organizado com os seus direitos autorais, registado na Sacem, uma das maiores sociedades de direitos autorais do mundo, protegendo as suas criações e nós também acautelámos isso, junto da família.

O que se segue e para quando?

Segue-se o Carlos Buriti, ainda sem data, porque temos que arrecadar patrocínios. Foi a nossa
escolha, claro conjugando com o meu sentimento, pela ligação muito próxima e porque foi a mim a quem incumbiu a missão de dar continuidade dos seus feitos. Mesmo adoentado, sempre esteve nos eventos que organizava em minha casa. Em agenda temos outros tantos, como Bangão, Bonga (para não se ficar com a ideia que só o fazemos com os falecidos), Paulo Flores etc...

Desde a apresentação do REINO, temos visto um novo Yuri da Cunha, "O Intérprete". Por onde anda o kandengue atrevido, o "Rafeiro", o Mr. Pulunguza?

O artista é multifacetado e ainda bem que é assim. Aliás, Deus quando dá um talento, quer que seja multiplicado e, na vida, enquanto se tiver a capacidade de se fazer, faz-se à medida das capacidades. Nada deve impedir o processo de criação de um artista, desde que o faça com amor e de coração. Infelizmente, ainda somos lentos a perceber muitas coisas, mas se Teta Lando levou os anos que levou para hoje ser cantado por mim, então que eu leve todos esses anos, em nome do povo, dos que precisam uma liberdade maior consigo mesmo.

E um novo trabalho seu, para quando...?

Não tenho pressa! Estou com cerca de mais de mil músicas já gravadas, poderia lançar hoje vinte discos de uma só vez. É-me difícil fazer uma selecção e conto com a parceria da minha equipa, liderada pelo Paulo Flores, e a minha espiritualidade, na altura, para isso. Esporadicamente, vão saindo uma e outra música, em função do contexto.

Aos 35 anos, disse que nunca se envolveria em política. Hoje, aos 40, mudou de opinião?

Não! Eu nunca me vou ligar à política, mas a vida social sempre nos remete a um lado parecido. Socialmente, como filho dessa nação, terei reparos a fazer, por que também pertenço cá. Não quero falar de política, mas, no final, tudo quanto dissermos vai ser confundido e misturado com política, que não é a intenção.

(Leia a entrevista integral na edição 623 do Expansão, de sexta-feira, dia 7 de Maio de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)