BNA quer interbancário a mexer e pressiona Luibor para baixo
O banco central mantém a política monetária restritiva, mas sinaliza uma ligeira abertura, num contexto em que a taxa de inflação continua elevada (25,26%), apesar de registar uma tendência de desaceleração nos últimos sete meses.
O Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu cortar em 1,0 ponto percentual para 17,5% a taxa de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez, taxa que os bancos recebem quando depositam fundos no banco central. Com esta redução, o banco central pretende dinamizar o mercado monetário interbancário, empurrando a Luibor para baixo, o que acaba por contradizer o curso da política monetária restritiva numa altura em que a inflação a apenas um dígito é apenas uma miragem.
Naquela que foi a 122ª reunião Ordinária do Comité de Política Monetária, que decorreu no Cunene, o Governador do BNA, Manuel Tiago Dias, justificou que "a redução de juro da Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez visa sinalizar a necessidade de uma maior dinâmica no mercado monetário interbancário". Ao mesmo tempo, o banco central decidiu manter pela quinta vez consecutiva a taxa directora (taxa BNA) em 19,5% e a taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez mantém-se em 20,5% (taxa que o banco central cobra aos bancos para lhes emprestar dinheiro).
Em termos práticos, na implementação da política monetária, o BNA usa essencialmente três instrumentos, as reservas obrigatórias, operações de mercado aberto e as facilidades de cedência e absorção de liquidez.
A facilidade permanente de absorção de liquidez é a taxa a que o BNA remunera os bancos pelos depósitos que estes constituem no banco central para depositarem excesso de liquidez por um período muito curto (overnight). Ao mesmo tempo, a taxa dessa facilidade serve como um piso para as taxas de juros no mercado interbancário de curto prazo, a Luibor, taxa que os bancos cobram quando emprestam dinheiro entre si, e que serve de referência às taxas de juro de crédito a clientes. As taxas Luibor variam em função das maturidades, nomeadamente, de 1 dia (overnight) até 12 meses.
Assim, ao reduzir a taxa de facilidade permanente de absorção de liquidez, o CPM incentiva os bancos a transferirem menos fundos para o BNA e alocarem os mesmos para o mercado interbancário e trocarem liquidez entre si, o que pode aumentar a oferta por liquidez, e consequentemente, pressionar a taxa Luibor para baixo. Mas esta política, em termos teóricos, pode também sinalizar um ligeiro abrandamento da política monetária, num contexto em que a taxa de inflação continua elevada, em volta dos 25,26% registada em Fevereiro, apesar de registar uma tendência de desaceleração nos últimos sete meses, afrouxando assim aperto da política monetária para combater a inflação.
"O BNA manteve o aperto da política monetária, mas deu o mais ligeiro sinal de abrandamento possível ao descer 1 ponto percentual na taxa de absorção. Digamos que fez um pisca, mas ainda não começou a curvar", referiu ao Expansão o economista e director do Cinvestec, Heitor Carvalho.
Assim, para Heitor Carvalho, os bancos, ao emprestarem e tomarem mais empréstimos entre si, têm mais influência sobre as taxas de mercado interbancário. E estas libertam-se ligeiramente da política mais rígida do banco central e passam a ser mais flexíveis, além de mais dependentes da oferta e procura. "No fundo, o BNA diz o seguinte: fiquem com mais liquidez, nós vamos pagar menos se depositarem aqui os vossos excessos de liquidez. Em vez disso, cedam e absorvam liquidez entre vocês e participem na definição das taxas de juro", clarificou.
"O BNA está a ser ainda muito prudente e tem razão, tendo em conta a trajectória da inflação, que aponta para cerca de 21% ao ano, e dos agregados monetários, que são muito influenciados pelos gastos excessivos do OGE. Isto sem contar com a incerteza sobre a retirada dos subsídios, nomeadamente aos combustíveis e o preço do petróleo", acrescentou.
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