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Economia

Estabilidade do Kwanza vai manter-se nos próximos seis meses

A MANTER-SE O PETRÓLEO EM ALTA

Esta é a opinião de banqueiros e consultores ouvidos pelo Expansão, que realçam o facto de nunca o País ter tido tantas divisas por via das suas exportações de petróleo, a que se junta o facto de as grandes obras estarem paradas, o que permitiu criar um stock de moeda estrangeira, que alguns acreditam ser maior do que é anunciado pelo banco central

Primeiro há que referir que a origem das divisas para os bancos comerciais vem hoje de quatro canais diferentes por esta importância - Tesouro, petrolíferas, diamantíferas e BNA - e que apesar de algumas instituições referirem problemas no acesso às divisas que precisam, no global, "o que é oferecido ao mercado é suficiente". O equilíbrio é muitas vezes feito no mercado interbancário, onde bancos mais pequenos têm acesso a maiores volumes de divisas do que necessitam, depois têm problemas de liquidez para as pagar e vendem-nas aos bancos maiores (com maiores movimentos) que precisam dos dólares e dos euros para os seus clientes.

Em segundo, que quando se deixa pouca margem à evolução natural da taxa de câmbio, com intervenção política excessiva, torna-se mais difícil fazer projecções, pois no limite vai sempre depender da vontade de quem governa. E isso pode influenciar as previsões, o cenário pode alterar-se por um erro ou deficiente condução da política económica sem que isso tenha a ver com o binómio primário da economia, a procura e a oferta. No entanto também se reconhece que o BNA tem hoje uma maior autonomia na condução da política monetária, e que o mercado funciona muito melhor que há uns anos atrás, quando o valor do kwanza era decidido por via administrativa.

Ressalvadas estas duas premissas, é possível concluir que não existe nenhuma razão objectiva para que nos próximos seis meses a moeda nacional sofra qualquer desvalorização. Um dos banqueiros ouvidos pelo Expansão referiu mesmo que no final do ano se assiste sempre a uma desvalorização do kwanza, o que não aconteceu este ano, ao mesmo tempo que o crescimento exponencial das exportações que se verificou no início do segundo semestre de 2022, não aconteceu na altura do Natal. As necessidades de divisas estiveram ao nível de anos passados, pelo que não houve pressão no mercado cambial.

No mês de Dezembro e início de Janeiro, o Tesouro (leia-se Ministério das Finanças) teve que vender mais moeda estrangeira porque precisava de liquidez para pagar as suas despesas, o que equilibrou o mercado. "Nunca o Estado teve tantas receitas em moeda estrangeira, os grandes projectos públicos estão parados, as necessidades de financiamento são menores, o consumo voltou a estabilizar, pelo que não há qualquer justificação para a escassez de divisas. Isto no global do mercado, porque pontualmente uma ou outra instituição bancária, que está mais envolvida em projectos de maior dimensão, pode ter dificuldades em garantir os volumes de divisas que estes clientes precisam", explicou ao Expansão o PCA de um dos maiores bancos do País.

Factores importantes

Outra variável a ter em conta é o preço do barril de petróleo nos mercados internacionais, que define a quantidade de divisas a que o País tem acesso. Neste particular, a tendência de queda não influencia as perspectivas para os próximos seis meses por duas razões fundamentais - a primeira é que o crude é maioritariamente vendido a dois meses, no mercado de futuros, e o segundo é que não se prevê uma queda significativa que possa ter influência relevante na moeda estrangeira disponível.

Um dos consultores ouvidos pelo Expansão defende que, mesmo no pior dos cenários, uma queda abrupta dos preços do barril de petróleo, existem reservas disponíveis para segurar a oferta neste período de seis meses. Explica-nos que com as contas feitas ao que o País pode ter recebido nos últimos meses, deve existir uma reserva de divisas superior ao que é apresentado pelo BNA, que fisicamente não estarão no banco central, mas que como a instituição trabalha com correspondentes, podem estar fora do País. Isso levanta outra questão, que tem a ver com a for[1]ma de gestão destas verbas e que necessita de uma abordagem mais aprofundada.

A este propósito, cabe acrescentar que se o Tesouro libertar divisas de acordo com os seus excedentes, pode haver uma valorização da moeda nacional por maior oferta, mas parece claro que dentro dos objectivos da política monetária do País o valor de 500 Kz por dólar é o equilíbrio escolhido nesta altura, que agrada a todos os intervenientes.

Tal como foi explicado acima, as petrolíferas e mais recente as diamantíferas são já um local de compra importante para os bancos comerciais, embora se levantem algumas questões face à forma de contratualizar esta relação. As petrolíferas precisam da banca comercial para transformar os dólares em kwanzas para fazer os seus pagamentos, tal como está na lei, mas logo a seguir precisam de transformar os kwanzas em dólares para exportar as mais valias do negócio. E isto é tudo feito de forma electrónica e contabilística, abrindo espaço a algumas operações que podem ser questionadas pelo BNA, o que afasta alguns bancos destes movimentos. Hoje o sistema de controlo é muito mais apertado e as multas muito mais altas.

Apesar de tudo o que foi dito acima, o responsável pela política monetária é o BNA, que apesar de ter uma participação reduzida (5 a 7%) das divisas disponibilizadas ao mercado, em sintonia com o ministério das Finanças vai regulando a oferta (e o preço) no sentido de garantir a estabilização da moeda nacional. Também os operadores de mercado se adaptam às suas necessidades de divisas, comprando e vendendo entre si, de acordo com as disponibilidades de cada instituição bancária.

Por tudo isto, não deve haver nos próximos seis meses desvalorização do Kwanza, como previam alguns. "O País nunca ganhou tanto dinheiro como agora. Se não houver nenhum "inteligente" que resolva fazer alguma "parvoíce", certamente que a nossa moeda não vai resvalar nos próximos seis meses. Não acredito que o kwanza desvalorize neste período", sintetizou um dos consultores ouvidos pelo Expansão.