Kwanza aprecia 5% após BNA injectar 250 milhões USD no mercado cambial
BNA volta a intervir no mercado cambial para "salvar" o kwanza, que estava praticamente em queda livre. Banco central diz que o dinheiro disponibilizado serve para a cobertura de operações cambiais destinadas à importação de bens alimentares e medicamentos. A verdade é que a elevada procura por divisas continua a pressionar o mercado cambial e empurrar o kwanza para baixo.
Após atingir mínimos históricos o kwanza inverteu a trajectória de depreciação que se tem intensificado desde Maio, recuperando 5% face ao dólar e 6% face ao euro em apenas uma semana, isto depois de o Banco Nacional de Angola (BNA) ter injectado 250 milhões USD no mercado cambial, segundo calculou o Expansão com base nas taxas de câmbio do banco central. Ainda assim, com uma procura tão elevada, a pressão sobre o mercado cambial deve continuar.
Os 250 milhões USD disponibilizados pelo BNA na plataforma Bloomberg servem para a cobertura de operações cambiais destinadas à importação de bens alimentares e medicamentos. Assim, no dia 02 de Outubro o banco central efectivou a venda de 71 milhões USD aos bancos comerciais, à taxa de 935,0 Kz por dólar. No total foram vendidos até ao dia 07 de Outubro 170,0 milhões USD, sendo que o remanescente continua igualmente disponível para venda aos bancos ao longo da semana em curso, segundo um comunicado divulgado esta quarta-feira.
Logo após o anúncio do BNA o mercado reagiu, o câmbio que estava em mínimos históricos no dia 01 de Outubro quando atingiu os 951,6 Kz por dólar a 01 de Outubro, caiu para 905,6 Kz esta quarta-feira, o que significa que o kwanza apreciou 5% face dólar em uma semana. Já face ao euro, antes de o BNA injectar divisas no mercado, um euro estava a ser negociado a 1.054,0 Kz e passou para 993,5 Kz por euro esta quarta-feira, o que significa que o kwanza recuperou 6% face ao euro.
Importa recordar que após um trambolhão de quase 40% face ao dólar e ao euro em 2023, a moeda nacional voltou a acelerar o ritmo de depreciação este ano, num cenário em que os pagamentos de dívida em moeda externa e os preços mais baixos do petróleo deverão continuar a pressionar a moeda para baixo. Assim, entre Janeiro e Setembro deste ano, o kwanza depreciou 13,4% face ao dólar, com cada unidade da moeda norte-americana a passar de 828,8 Kz para 940,1 Kz. Quanto ao euro, a moeda nacional caiu 15,8%, ao passar de 908,3 Kz em Janeiro, para 1.051,7 no último dia do mês de Setembro.
Esta é a segunda vez que o BNA anuncia uma venda pontual de divisas este ano, depois de já ter feito em Maio 200 Milhões USD que foram adquiridos por 17 bancos à taxa de câmbio média em vigor no momento da transacção de 843,5 Kz por cada dólar. Contas feitas, o banco BNA já injectou 450 milhões USD no mercado cambial. Entretanto, o Tesouro Nacional que esteve praticamente ausente do mercado cambial durante o segundo semestre do ano passado, regressou este ano ao mercado. A primeira intervenção foi feita em Fevereiro, quando o Tesouro disponibilizou 300 milhões USD que foram adquiridos na totalidade por 19 bancos comerciais em apenas duas horas.
Para o economista e director do Cinvestec, Heitor Carvalho, o BNA deve ter instrumentos claros e de mercado para poder determinar a taxa de câmbio, e que esta deve ter como critério único a manutenção da taxa de câmbio efectiva real. "Não este ziguezague de política cambial que ora suporta a importação ora torna os produtos importados demasiado caros. É urgente atribuir esta função de defesa da taxa de câmbio real ao BNA e conceder- -lhe os instrumentos necessários para a sua efectivação", disse.
Já outro economista que não quis ser identificado argumenta que o BNA está a ser muito pressionado pelo Governo e pelos bancos comerciais a rever a sua política monetária, e o argumento do BNA tem sido a sua meta de inflação de 24% para 2024. E sabendo que pouco tempo lhe resta para assegurar que dos actuais 31% caiam para os 24%, a solução voltou a ser o mercado cambial. "Nestes termos, considero uma má medida, por reflectir mais os "egos" administrativos do que os fundamentais da economia", afirmou. Assim, para economista o BNA vai manter essa estratégia de "apreciação artificial" do kwanza até Dezembro de 2024, depois disso, vai deixar de intervir.
Oferta de divisas caiu 14% no I semestre
Entretanto, no primeiro semestre deste ano, os bancos comerciais compraram 5.076,2 milhões USD na plataforma Bloomberg, o que representa uma diminuição de 14% face aos 5.928,8 que garantiram no mesmo período do ano passado. Contas feitas, a banca comprou menos 852,6 milhões USD, de acordo com o boletim estatístico do BNA sobre a evolução do mercado cambial. No entanto, se os números forem comparados com o segundo semestre de 2023, quando os bancos adquiriram apenas 3.925,1 milhões USD, a compra de dívidas cresceu 29,3%.
Leia o artigo integral na edição 797 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Outubro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)